Panorama internacional

'Lula não reconheceu o que fizemos pelas eleições no Brasil', diz ex-embaixador dos EUA em Brasília

Segundo ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil e fontes norte-americanas ouvidas pelo The Financial Times, funcionários do governo Biden foram "pegos de surpresa" pelo não reconhecimento brasileiro e há clima de "ressentimento e raiva".
Sputnik
Nesta quarta-feira (21), em artigo publicado pelo The Financial Times, a mídia faz um relato sobre como o governo norte-americano enxerga o Brasil após as eleições, uma vez que Washington teria contribuído para que o processo eleitoral brasileiro de 2022 ocorresse de forma legítima.
O Financial Times relata que conversou com "seis ex-funcionários e atuais funcionários dos EUA envolvidos no esforço, bem como com várias figuras institucionais brasileiras importantes", para reunir a história de como o governo Biden se envolveu em uma "incomum campanha de mensagens" nos meses que antecederam a votação, usando canais públicos e privados estadunidenses.
No artigo, é detalhado o "passo a passo" da investida norte-americana em querer "ajudar" o Brasil a ter eleições limpas, e que tudo começou com a visita do conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, a Brasília em 2021.
"Sullivan e a equipe que o acompanhou saíram pensando que Bolsonaro era totalmente capaz de tentar manipular os resultados das eleições ou negá-los como [Donald] Trump havia feito. Portanto, pensou-se muito em como os Estados Unidos poderiam apoiar o processo eleitoral sem parecer interferir. E é assim que começa", disse Tom Shannon, ex-alto funcionário do Departamento de Estado e ex-embaixador dos EUA no Brasil, que é citado em diversos momentos do texto.
O artigo destaca vários movimentos estadunidenses ao longo de 2021 e 2022 para que fosse entendido pelo governo Bolsonaro que a comunidade internacional e Washington não aceitariam o resultado de uma eleição fraudada.
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Entre eles, o jornal relembra uma visita do ex-vice-presidente, Hamilton Mourão, a Nova York, quando Mourão recebeu indicações de funcionários americanos sobre a preocupação com as eleições.
Também é citado a visita do chefe da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, a uma reunião regional de ministros da Defesa em Brasília, quando "Austin e outros oficiais explicaram aos militares brasileiros as consequências de apoiar qualquer ação inconstitucional, como um golpe", relata o jornal.
Depois de mencionar diversas ações, o artigo descreve como foram o primeiro e segundo turno no Brasil, a recepção do resultado pelo ex-presidente, Jair Bolsonaro, até chegar às invasões do dia 8 de janeiro em Brasília.
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Nesta parte, é destacado que Joe Biden parou "tudo o que estava fazendo" ao ver no noticiário as invasões e imediatamente ligou ao presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, para apoia-lo, lançando em seguida uma declaração conjunta com México e Canadá de apoio ao Brasil.

"Com os manifestantes presos, os militares sob controle e Lula no poder, a democracia brasileira parece ter sobrevivido à ameaça potencial", diz a mídia, a qual, em seguida, descreve a opinião norte-americana sobre o resultado.

Para o governo Biden "Lula mostrou pouco reconhecimento público da campanha dos EUA para proteger a eleição", o que mostra que "as relações com o Brasil melhoraram, mas ainda há atritos com o novo governo".
O jornal ainda destaca que, à China, Lula "levou uma grande delegação para um tour de três dias em duas cidades", mas em Washington "sua visita foi discreta e durou um dia".
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"Lula rejeitou as sanções dos EUA à Huawei, a empresa de tecnologia chinesa, criticou o apoio militar do Ocidente à Ucrânia e endossou a iniciativa de Pequim por alternativas ao dólar americano", diz o texto.
"As pessoas aqui entendem que haverá diferenças políticas, mas há um tom de raiva e ressentimento subjacente a tudo isso que realmente pegou as pessoas de surpresa […]. É como se ele não soubesse ou não quisesse reconhecer o que fizemos", complementou Tom Shannon.
Entretanto, a mídia britânica relembra o passado e diz que os EUA têm sido frequentemente criticados na América Latina por interferir em seus assuntos internos.
Em 1964, Washington apoiou um golpe militar no Brasil que derrubou o governo do presidente esquerdista João Goulart e deu início a uma ditadura de 21 anos.
"Esses eventos alimentaram o ceticismo de longa data em relação aos EUA entre a esquerda brasileira, incluindo Lula, que em 2020 disse que Washington estava 'sempre por trás' de esforços para minar a democracia na região", complementa o artigo.
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