A Argentina fez na sexta-feira (30) um pagamento de empréstimo ao Fundo Monetário Internacional (FMI) "sem usar dólares", usando yuan chinês e notas de direitos especiais de saque (o ativo de reserva do FMI baseado em uma cesta de cinco moedas, o yuan, euro, dólar dos EUA, iene e libra britânica).
O Ministério da Economia da Argentina disse que o pagamento de valor equivalente a US$ 2,7 bilhões (R$ 12,93 bilhões), o primeiro desse tipo feito por Buenos Aires, foi feito em yuans e direitos de saque especiais (SDR, na sigla em inglês) para manter as reservas decrescentes de dólares nos cofres do Banco Central argentino.
Para isso, a Argentina, que se encontra em meio a uma grave crise econômica e de endividamento, recorreu ao yuan para ajudar a estabilizar a situação, tendo assinado em abril um acordo de troca de moeda de 130 bilhões de yuans (R$ 85,84 bilhões) com Pequim, em meio à queda das exportações agrícolas causada por uma seca sem precedentes, que já causou prejuízos de US$ 20 bilhões (R$ 95,8 bilhões).
A atual crise, que já reduziu as reservas do país para cerca de US$ 28 bilhões (R$ 134,11 bilhões), um mínimo de 2016, vem de um acordo de 2022 entre a Argentina e o FMI para reestruturar a dívida de US$ 44 bilhões (R$ 210,75 bilhões) do país. Ela, por sua vez, originou de empréstimos em 2018 de US$ 57 bilhões (R$ 273,02 bilhões, na conversão atual) para o governo do então presidente Mauricio Macri (2015-2019).
Esses empréstimos foram repudiados pelo atual presidente Alberto Fernández, que os tachou de imprudentes", "tóxicos e irresponsáveis", e pediu que não fossem desembolsados após sua eleição bem-sucedida em 2019, devido à escassez de dólares nos cofres do país para pagar o empréstimo.
No início desta semana, o Banco Central argentino anunciou que os bancos de varejo do país teriam permissão para oferecer contas em yuan.
A Argentina solicitou sua adesão ao BRICS em junho, havendo relatos de que Buenos Aires pode se qualificar para participar do Banco de Desenvolvimento do BRICS já em agosto, quando a proposta, apresentada pelo Brasil, for discutida na cúpula da África do Sul. O bloco está atualmente trabalhando em uma nova moeda que poderia servir como uma alternativa efetiva ao dólar no comércio global.