Na sexta-feira (30), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) condenou o ex-presidente,
Jair Bolsonaro, a
ficar inelegível por oito anos. No julgamento, ex-chefe de Estado respondeu por abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação do Estado.
No entanto, mesmo só podendo disputar uma corrida presidencial em 2030, o especialista brasileiro Danilo Silvestre, entrevistado pela Sputnik, chama atenção para o fato de que apesar da inelegibilidade, o grupo político que orbita o ex-presidente está muito vivo.
"A repercussão [da inelegibilidade] é muito importante, mas temos que olhar para algumas perspectivas. Ele está inelegível, mas seu grupo político é muito forte. Bolsonaro perdeu as eleições por uma diferença muito pequena, é uma pessoa que ainda tem muita força na política brasileira. Temos que analisar como que a direita vai se comportar depois dessa posição oficializada", afirmou Silvestre.
Na visão do especialista, a direita brasileira classificará a condenação do ex-presidente como "
perseguição política e conspiração" por parte do "
Partido dos Trabalhadores e do ministro
Alexandre de Moraes [do TSE]". Ao mesmo tempo, Silvestre considera que a direita pode fazer um movimento para tentar eleger
maior número de candidatos aliados ao bolsonarismo nas eleições municipais de 2024.
Silvestre também indica que o ex-presidente tem fortes "herdeiros" como seus filhos, os quais todos estão na vida política, e sua esposa, Michelle Bolsonaro.
"Seus filhos e sua esposa, Michelle, são possíveis herdeiros de seu eleitorado, assim como o governador de São Paulo,
Tarcísio Gomes de Freitas. Mas tudo é muito recente para saber quem receberá todo o
apoio político do ex-presidente", diz o especialista.
De seus filhos, o que tem mais chance na visão de Silvestre é o deputado federal Eduardo Bolsonaro, visto que "não há nenhuma grande denúncia contra ele".
Já Michelle tem o suporte do chefe do Partido Liberal,
Valdemar Costa Neto, o qual já expressou publicamente suas
expectativas para uma eleição da ex-primeira-dama. E Tarcísio foi ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, desenvolvendo uma governança em São Paulo mais afastada do governo federal.
De
acordo com a Folha de São Paulo, com o presidente sem poder concorrer, aliados evangélicos começam a esboçar alternativas para a próxima eleição presidencial, e uma das chapas mais citadas
incluiu Tarcísio como presidente e Michelle como vice.
Entretanto, Silvestre pondera que muita água ainda pode rolar e que é preciso esperar pelo o desenrolar de
investigações que acontecem no entorno do ex-presidente.
"Temos que ver o que mais vai ocorrer nestes quatro anos até o pleito. Michelle Bolsonaro, por exemplo, recebeu depósitos em sua conta de um amigo de Bolsonaro, então não sabemos o que as investigações vão descobrir."
A inelegibilidade também pode trazer
um tom a mais para atual turbulência política do país. O especialista acredita que a defesa de Bolsonaro recorrerá no
Supremo Tribunal Federal (STF) da decisão, mas que o
STF vai manter a condenação e essa decisão vai causar revolta uma vez que Bolsonaro "passou todo seu governo dizendo que não podia confiar no Supremo".
"É possível que isso gere uma reorganização desse grupo [da direita] e é possível que tenhamos manifestações um pouco mais violentas. Entretanto, creio que agora a democracia está um pouco mais sólida do que em 8 de janeiro e o governo do presidente Lula mais forte. Podemos ter sim manifestações de militares, de pessoas de ultradireita que defendem armamento, mas creio que não terão tanta força a ponto de tentar parar o país."
Não é a primeira vez que um presidente fica inelegível no Brasil, assim como Bolsonaro, Fernando Collor de Mello e o próprio Lula já ficaram sem poder se eleger. No entanto, Silvestre destaca que "os contextos são distintos", e no caso de Bolsonaro, ele foi condenado por "não cumprir as regras eleitorais do Brasil".
"[…] possivelmente sua defesa [de Bolsonaro] pode tentar usar esse fato [da inelegibilidade] de outros ex-presidentes a seu favor […] assim como Lula utilizou o discurso da perseguição política em 2018, creio que Bolsonaro vá fazer a mesma coisa, buscar fatos que aconteceram com Lula e Collor para reverter a situação do ex-presidente", analisa.
Para Silvestre, o terceiro governo Lula caminha com uma
boa aprovação da população "melhor do que algumas pessoas gostariam que estivesse", mas ainda encontra muita dificuldade visto que o Congresso brasileiro "não é progressista" e dialoga pouco com o governo.
Sobre o diálogo com países sul-americanos, especificamente sobre a Venezuela, Silvestre afirma que a
intenção de Lula na Cúpula do Sul foi trazer
Caracas para um relacionamento mais próximo aos países vizinhos, mas que ao mesmo tempo, ele terá que "
se equilibrar em uma corda".
"É importante que a Venezuela participe de fóruns internacionais, […] para o Brasil, a Venezuela sempre foi um parceiro comercial importante, então creio que Lula quer ficar mais próximo para trazer mais benefícios econômicos ao país e a Caracas […] o Brasil pode ajudar a Venezuela ter mais contatos com outros países, mas Lula não pode relativizar a democracia […] esse ponto ele terá que caminhar, mas manter equilíbrio, como caminhar em uma corda."
Jair Bolsonaro ficou inelegível por oito anos após julgamento do TSE ocorrido no último dia 30.
O ex-presidente respondeu por abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação do Estado, principalmente pela reunião feita com
embaixadores em julho de 2022 em Brasília, na qual o ex-presidente
questionou o sistema eleitoral brasileiro para comunidade internacional sem apresentar provas.
Apesar de estar inelegível, o presidente ainda tem bastante força política. Nesta terça-feira (4), Bolsonaro disse que é contra a atual proposta da reforma tributária, a qual está para ser votada nesta semana,
e que o PL votará contra,
segundo o Correio Brasiliense.
No discurso feito à mídia após ficar inelegível, o ex-presidente declarou que "não está morto" politicamente e que pretende atuar como "cabo eleitoral" de seu partido.