Em uma nova ordem mundial que começa a engatinhar para se estabelecer no mundo, um dos grupos com mais destaque é o BRICS, visto que é formado por países que acreditam no conceito de multipolaridade e queda da hegemonia.
Com esse viés, o BRICS tem atraído cada vez mais a atenção do mundo e, naturalmente, novos países pedem para entrar no organismo. Na reunião de ministros de Relações Exteriores do grupo em junho, 13 países manifestaram o interesse à adesão.
Entretanto, sobre a expansão do bloco, há uma divergência clara entre dois membros: China e Brasil. O lado chinês tem pressa para promover a ampliação, já o lado brasileiro está mais cauteloso e propõem uma expansão com matizes do que é feito no Mercosul.
Em reunião nesta semana em Durban, na África do Sul, o impasse continuou e o tema foi empurrado para a cúpula de líderes marcada para 22 a 24 de agosto em Joanesburgo, segundo o jornal Valor Econômico.
Portanto, haverá muita pressão para que uma decisão sobre a ampliação ocorra no retiro dos presidentes. Retiro é onde Luiz Inácio Lula da Silva e os outros líderes terão o "constrangimento" de estarem sós. Em meio a bajulação ou argumentos pesados ou ambos, pode ocorrer um movimento para a cúpula tomar algum passo, escreve o jornal.
A mídia afirma que o Brasil defende que a expansão consista em ter uma categoria intermediária de parceiros, para manter a unidade desse grupo que congrega países com características especiais.
Já Pequim, vê na ampliação uma coalizão de países em torno do polo chinês para contrapor-se à coesão do G7 que tenta frear as ambições mundiais da China. A divergência entre os dois pontos de vista é visível, diz a mídia.
O gigante asiático estaria buscando um movimento mobilização contra o bloco ocidental, em torno de agendas anti-G7, o que não seria do interesse do Brasil e nem da Índia.
A mídia ressalta que Nova Deli é ainda mais radical que o Brasil contra a expansão do BRICS, mas tem outras considerações políticas, como a disputa de influência com a China no Oriente Médio.
Ao mesmo tempo, Brasília tem defendido uma outra ampliação: a do Conselho de Segurança da ONU.
Neste ponto, o governo de Xi Jinping e de Lula também divergem, uma vez que, segundo a mídia, a China tem sido o país mais reacionário no Conselho de Segurança, já que enxerga risco de a reforma empoderar outros países, como o Brasil, Alemanha, Índia, que poderão ampliar sua capacidade de ter posições independentes, que podem coincidir ou não com a China.
Já a Rússia é a favor do ingresso de outros países no concelho, algo que ficou claro com as declarações dadas na semana passada pelo chanceler russo, Sergei Lavrov, quando defendeu a entrada de nações da América Latina, África e Ásia, conforme noticiado.
De volta ao BRICS, o jornal complementa que em vez de expansão ampla, a sinalização brasileira por uma categoria intermediária de parceiros lembra a figura de Estados associados ao Mercosul. Mas se a abertura do bloco ocorrer como Pequim pretende, o que pode acontecer com Brasília no grupo?
O Brasil pode promover um gradual desengajamento, onde ele participaria, mas iniciativas atuais de cooperação como no campo espacial, no grupo de vacinas e outras áreas de trabalho em ciência e tecnologia sofreriam fortemente, escreve o Valor Econômico.
Contudo, se o BRICS realmente impulsionar uma ampliação, no quesito América Latina, o candidato mais natural seria a Argentina, a qual já expressou publicamente em viagens do presidente Alberto Fernández à Rússia e China feitas no ano passado, sua intenção de aderir ao bloco.