Panorama internacional

Como pode a proximidade entre Lula e Mujica impactar o futuro do Mercosul?

O ex-presidente uruguaio, José Mujica, reuniu-se com o chefe do Executivo brasileiro no Palácio do Planalto, poucos dias depois que Brasília assumiu a presidência do Mercado Comum do Sul (Mercosul). Sputnik conversou com analistas sobre a importância do encontro na "legitimação" de uma nova narrativa regional.
Sputnik
José Mujica visitou o Brasil nesta quinta-feira (13), convidado a expor em 59° Congresso da União Nacional de Estudantes do Brasil.
O político uruguaio, um dos líderes morais da esquerda latino-americana reconhecida internacionalmente, aproveitou a ocasião para se reunir com o presidente Lula da Silva, no Palácio do Planalto.
A visita se dá poucos dias depois que o Brasil assumiu a presidência rotativa pro-tempore do Mercosul, em 4 de julho, em meio a desavenças entre o Uruguai e os demais membros do bloco regional em relação à projeção da plataforma supranacional na busca de acordos comerciais com outras latitudes, como a União Europeia e a China, sendo a última o segundo produto interno bruto (PIB) maior do planeta, segundo cifras do Banco Mundial.
Em diálogo com Sputnik, o analista uruguaio em relações internacionais, Federico Villanueva, opinou sobre o papel que pode ter a proximidade entre Mujica e Lula diante das tentativas do Brasil de potencializar o bloco.
"Pepe Mujica se constituiu em um farol moral para as esquerdas latino-americanas e o progressismo, inclusive em nível planetário. Além disso, com Lula da Silva os une uma estreita amizade, um laço muito profundo que transcende o político há muito tempo", afirmou.
Por sua vez, o politólogo argentino Emanuel Porcelli destacou que "a figura de Pepe é respeitada". Para o especialista, Mujica "continua construindo certa legitimação na narrativa regional, onde o papel de Lula é central, mas aqui é preciso fazer um grande parêntesis e dizer que com essa narrativa não estaria alcançando", advertiu.
Há uma "necessidade de repor a região e recuperar e repensar os andaimes regionais", insistiu Porcelli.

Inserção internacional anti-Mercosul?

No marco da última cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, o presidente uruguaio Luis Lacalle Pou voltou a reclamar uma maior flexibilidade do bloco para que seus integrantes possam buscar acordos bilaterais fora do mecanismo regional.
Desde o início do seu mandato, o sucessor de Mujica reiterou este pedido de flexibilização, bem como a sua intenção de alcançar um acordo de livre comércio com a China.
No entanto, o gigante asiático demonstrou que o futuro de um acordo deste tipo depende da posição dos outros membros do Mercosul, em um contexto em que as exportações dos seus membros têm como um dos seus principais destinos o mercado chinês.
"Se a China quer fazer um Tratado de Livre Comércio (TLC) com o Uruguai, não é pelo Uruguai nem por seu mercado, nem sequer é pela Argentina, é para entrar no Brasil", diagnosticou Villanueva.
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"O governo de Lacalle Pou define sua inserção internacional por oposição ao Mercosul. Isso o fez distanciar-se da Argentina e agora do Brasil, sem muitos êxitos concretos", afirmou Porcelli.

De acordo com Porcelli, este bloco comercial sul-americano como processo político e econômico "está em uma etapa de indefinição há muito tempo".

"Efetivamente, o horizonte ou o projeto econômico, produtivo ou industrialista de inserção internacional do Mercosul hoje não é claro. E parte disso será usada na forma como o acordo birregional com a União Europeia for concluído", disse o analista argentino.

O desafio de Lula "é ser o ator com capacidade de liderar, de construir os incentivos suficientes para reordenar o cenário dos atores políticos e, especialmente, os atores econômicos da região, para pensar no projeto regional", disse Porcelli.

Por sua vez, Villanueva considera que "o que Lula está fazendo é revitalizar o Mercosul, potencializar e aproximar um bloco regional que hoje tem muitas coisas pendentes, há mais de 30 anos de sua fundação".

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