O recente discurso de Joe Biden sobre o suposto sucesso de sua política econômica está longe da realidade, pois o trem econômico dos EUA está caminhando para um beco sem saída, avaliou Jack Rasmus, professor de Economia e Política, em declarações à Sputnik.
O presidente dos EUA voltou na quinta-feira (20) a elogiar o que disse ser o sucesso de sua política econômica durante sua visita a Filadélfia. De acordo com ele, a prioridade de sua equipe é "fortalecer a classe média". Com esse objetivo, "mais de 13 milhões de novos empregos foram criados em todo o país", enquanto "o desemprego permaneceu abaixo de 4%" durante sua presidência, disse.
Biden também citou o aumento dos salários e destacou os sindicatos e trabalhadores americanos, quase equiparando as supostas conquistas de sua política econômica "ao sonho americano". No entanto, o acadêmico do St. Mary's College da Califórnia, EUA, mostrou mais ceticismo.
Segundo ele, os "13 milhões de empregos" são as pessoas que regressaram ao trabalho após a COVID-19. A maioria deles é temporária, tem salários mais baixos e a contagem é feita pelo número de empregos, incluindo segundos ou terceiros empregos por pessoa, não pelo número de trabalhadores. Além disso, disse, o desemprego baixo diz respeito aos trabalhadores em tempo integral.
"E quanto aos 50-60 milhões de pessoas que são temporários, em tempo parcial? Bem, o desemprego é muito mais alto, é de 6% ou 7%", afirmou Rasmus.
E os outros indicadores?
Durante seu discurso, o presidente dos EUA também assumiu o crédito pela redução da inflação, afirmando que a inflação desacelerou em todos os meses do ano passado, de 9% para 3%, que o país norte-americano tem a menor taxa de inflação do G7.
O acadêmico respondeu que "a inflação dos alimentos, apesar da safra, é de 5,7%", os aluguéis estão em quase 8%, e nos serviços aumentou recentemente de 5,3% para 6,2%. Além disso, há choques externos, como a OPEP aumentando os preços do petróleo, o colapso do acordo de grãos na Ucrânia, a alta nos preços de imóveis residenciais, e a subida dos preços pelas empresas, que caracterizou como "predatórios".
Quanto ao PIB, ele cresceu apenas 1% entre dezembro de 2021 e dezembro de 2022, de acordo com os economistas. Enquanto isso, o Fed, o banco central dos EUA, está prevendo outro crescimento de 1% em 2023.
"Pense nisso: eles lançaram um estímulo fiscal e monetário de US$ oito trilhões [R$ 38,23 bilhões] para a economia e a COVID-19 em 2021-22", apontou o especialista.
"O que recebemos em troca? 1% [...] de crescimento econômico. E ele está se gabando do fato de que, 'Oh, veja, estamos gastando todo esse dinheiro'", ao mesmo tempo que corta os programas sociais e oferece dinheiro às corporações, adiciona.
Biden enfraquece posição dos EUA?
Na opinião de Jack Rasmus, o financiamento de Washington para a Ucrânia, que não surge no orçamento e já atingiu um total de US$ 200 bilhões (R$ 955,86 bilhões), não é uma boa ideia.
Outro problema destacado são os mais de US$ 600 bilhões (R$ 2,87 trilhões) somente em juros da dívida, continuou Rasmus, referindo que em três ou quatro anos esse valor subirá para US$ 900 bilhões (R$ 4,3 trilhões). Além disso, o governo dos EUA soma déficit após déficit, com a dívida pública crescendo para US$ 34 trilhões (R$ 162,5 trilhões) ou mais.
"Como isso pode ser sustentado?", pergunta o economista.
O professor de Economia e Política mencionou ainda como o BRICS e outros países em desenvolvimento estão gradualmente se afastando do dólar. Se houver uma queda de demanda por dólares, isso terá um impacto sobre a economia dos EUA, porque "eles não conseguirão obter financiamento externo para o orçamento comprando títulos do Tesouro e assim por diante", segundo ele.
"A história mostrará que Joe Biden deu um tiro no pé do Império Estadunidense com as sanções e esse conflito na Ucrânia, porque ele está minando o império econômico dos Estados Unidos. Como eu disse antes, é o afastamento do dólar e do sistema internacional de pagamentos monetários, do Fundo Monetário Internacional e de tudo o que está acontecendo. Esse trem saiu da estação e isso vai minar o império, ainda mais do que a política fiscal, que é séria, e a política monetária, que está em um beco sem saída", concluiu.