Panorama internacional

Como os EUA e Kiev tentam envolver a OTAN ainda mais no conflito na Ucrânia?

Um almirante aposentado russo deu sua opinião sobre o atual e o futuro papel dos aliados ucranianos, concluindo que o apoio na área marítima não deve ser muito grande.
Sputnik
A OTAN deve atirar contra navios de guerra russos em resposta a um ataque deles saindo ou entrando em portos ucranianos, disse James Stavridis, um almirante aposentado da Aliança Atlântica em um artigo de sexta-feira (21) publicado na revista norte-americana Foreign Policy.
Na opinião de Vasily Dandykin, capitão de 1ª classe da reserva russo, e especialista militar, tal decisão acarretaria vários tipos de riscos.
Ele mencionou como isso violaria a Convenção de Montreux dos anos 1930, que restringe o tempo de acesso ao mar Negro, e como a Turquia fechou desde o princípio da operação militar especial da Rússia na Ucrânia o mar a todos os navios de guerra, incluindo de países com acesso a ele.
"Eles estão pedindo [à Turquia para intervir], mas como a Turquia deve fazer isso?", questionou Dandykin.
"Essa é uma questão de princípio para Ancara. É essa a base da chamada independência do país e seu comportamento, sobre o qual eles basicamente constroem sua política. Se a Turquia o violar, o status do país cairá", explicou.
O analista observou que, embora Ancara tenha entregue drones Bayraktar a Kiev e tenha mantido contato com Vladimir Zelensky, o país também mantém contatos estratégicos com Moscou.
"A Turquia tem uma história secular de, vamos chamá-la de 'política de bazar', de acordos, baseados no que é lucrativo e no que não é lucrativo, então provavelmente há um mal-entendido entre as potências ocidentais com relação à posição desse parceiro específico", destacou ele.
"A Turquia precisa de uma guerra com a Rússia? A Turquia tem relações com a Rússia em várias áreas: na construção de usinas nucleares e gasodutos até o turismo, e assim por diante, então essa discussão [sobre escoltas turcas para navios ucranianos] é puramente hipotética", disse Dandykin.
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Por outro lado, "a Turquia realmente tem uma frota bastante poderosa, ao contrário da Bulgária e da Romênia", as outras potências da OTAN adjacentes ao mar Negro apontadas por Stavridis como candidatas à missão de escolta, citou Dandykin.
"A Frota do Mar Negro [da Rússia] seria capaz de rechaçar as frotas desses países, e não só. Afinal, a frota não consiste apenas de navios, que, a propósito, estão armados com mísseis de cruzeiro Kalibr", notou.
"[Ela também tem] sistemas de mísseis costeiros, armados com mísseis Oniks praticamente indestrutíveis, e os complexos [de defesa costeira] Bal, aviação naval e muito mais. Isso se estivermos falando da Crimeia. Mas há também a base naval de Novorossiysk. Em outras palavras, o mar Negro não é grande o suficiente, digamos assim, para que uma aposta tão imprudente seja bem-sucedida", sublinhou o especialista russo.

Convenção de Montreux

Quanto às potências da OTAN fora do mar Negro, incluindo os EUA, sua entrada no corpo d'água para escoltar navios de grãos ucranianos violaria a Convenção de Montreux de 1936, que restringe a presença de navios de guerra estrangeiros no mar a 21 dias, apontou ele.
Em última análise, Vasily Dandykin acredita que há um certo "limite" além do qual os parceiros da Ucrânia na OTAN, os EUA e o Reino Unido em particular, não ousarão ir. Assim, ele resumiu que as propostas de Stavridis de enviar navios de guerra da aliança para escoltar navios de grãos ucranianos é um sonho impossível.
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