A Austrália e os Estados Unidos estão realizando neste ano exercícios no território do primeiro e na região circundante. No entanto, ao contrário das manobras bilaterais anos anteriores, a edição de 2023 inclui a participação de mais 11 países, para um total de 30.000 soldados.
Os exercícios envolvem as costas oeste, norte e nordeste da Austrália, o que, entre outras coisas, indica planos claros para um envolvimento profundo do país em um eventual conflito. Na semana passada, unidades da Força de Autodefesa do Japão, juntamente com fuzileiros navais dos EUA e soldados australianos, realizaram seus primeiros tiros na Austrália.
As manobras, chamadas de Talisman Saber, ensaiam um conflito com um adversário fictício chamado Olvania, usando muitos dos sistemas de armas avançados que os EUA forneceram à Ucrânia nos últimos meses, incluindo o sistema de foguetes Himars e o tanque de batalha principal M1 Abrams, que agora estão sendo comercializados para outros países.
Outras armas que estão sendo testadas incluem mísseis antinavio Type 12 lançados da superfície do Japão e o sistema lançador múltiplo de foguetes K239 Chunmoo da Coreia do Sul.
Exercícios de preparação para conflito com a China
Artyom Garin, um especialista do Centro para o Sudeste Asiático, Austrália e Oceania do Instituto de Estudos Orientais da Academia de Ciências da Rússia, disse à Sputnik que os EUA estão ensaiando não apenas um confronto militar com a China, mas também atraindo outros países da região para o confronto.
"Trata-se de um ensaio, em parte uma coordenação de ações para o caso de os Estados Unidos realmente entrarem em conflito com a China. A China não precisa de um confronto com os Estados Unidos, porque a China tem uma enorme influência econômica e política na região e conseguiu isso por meios totalmente legais", explicou ele.
Garin destacou que os EUA, pelo contrário, "estão perdendo sua influência na região" e não podem fazer nada para se opor à China, então o conflito armado e a desestabilização da região podem ser sua única opção para "de alguma forma, manter sua presença lá", mesmo que tal resulte em uma ainda maior erosão de seu futuro na região.
Uma das maiores novidades nos exercícios deste ano é a participação da Alemanha, um dos principais Estados-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), o que, na opinião de Vladislav Belov, vice-diretor do Instituto da Europa da Academia de Ciências da Rússia, tem como objetivo permitir ao país europeu assumir uma política de resolução de conflitos na região mais assertiva, e mostrar isso aos seus parceiros.
Opinião de especialista chinês
Tudo isso indica a profundidade das incursões que a aliança militar fez na região da Ásia-Pacífico, apesar de seus interesses já estarem representados lá pelo bloco AUKUS.
"Neste ano, o exercício Talisman Saber tem como objetivo praticar tarefas de coordenação entre os militares dos EUA e seus aliados e parceiros", disse Chen Hong, diretor do Centro de Estudos Australianos da Universidade Normal da China Oriental de Xangai, qualificando a iniciativa como a "Pacificação da Ásia da OTAN".
"A direção do plano tático de exercícios militares contra a China é óbvia", qualificou em declarações à Sputnik, acrescentando que com essa promoção da presença da Alemanha, França e do Reino Unido na região, os exercícios violam "seriamente a situação de segurança na região da Ásia-Pacífico", e demostram agressividade e uma escalada da situação.
Ao mesmo tempo, ele observou que "a coesão interna dos participantes e o impulso estratégico são muito fracos".
"Na verdade, a maioria dos países que participam desses exercícios foi 'convidada' a participar sob pressão dos Estados Unidos e, ao mesmo tempo, do ponto de vista de sua própria estratégia nacional, eles não têm o potencial de realizar qualquer aventura militar dirigida contra a China", de acordo com Chen, o que, na sua opinião, inclui a própria Austrália.
"Isso já causou séria preocupação entre alguns aliados e parceiros dos Estados Unidos e causará cada vez mais preocupação entre os civis na região da Ásia-Pacífico", notou o acadêmico.