Panorama internacional

Especialistas: relações da África com a Europa 'não eram benéficas', mas com a Rússia serão melhores

O presidente russo anunciou o reforço das relações de seu país com Egito, Marrocos, Tunísia e a Argélia. Qual poderia ser a natureza de tal cooperação?
Sputnik
Vladimir Putin, presidente da Rússia, disse em uma reunião com membros do governo que a Rússia está preparando acordos de zona de livre comércio com Egito, Marrocos, Tunísia e Argélia.
Os acordos foram um dos resultados da cúpula Rússia-África realizada em São Petersburgo, Rússia.
Tendo em conta as dúvidas quanto a serem acordos individuais ou um com todo o norte de África, os especialistas da Sputnik tentaram explicar a natureza desta iniciativa.

Um mercado promissor

Citando especialistas, Putin previu que a África "se desenvolverá de forma muito positiva, alcançará o que foi perdido, talvez, nas décadas anteriores". O economista argelino Murad Qouwaishy confirmou em declarações à Sputnik que as perspectivas de tal cooperação são também interessantes para esta região.
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"Moscou está regressando decididamente para o continente africano, especialmente para os países do norte da África. A Rússia tem relações históricas e fortes com vários países. Quanto à Argélia, a Rússia é considerada o maior fornecedor de armas para a república. Assim, à luz das novas condições geoestratégicas do mundo, a Rússia está interessada em explorar novos mercados", apontou ele.
"Desse ponto de vista, o continente africano é um mercado bastante promissor, e atores como os EUA, a China e a UE estão agora competindo por ele. Os países do Magrebe também estão interessados em fortalecer as relações econômicas com a Rússia e estão procurando ativamente por novos parceiros. É importante observar que as relações de longa data da África com a Europa não têm sido nada benéficas, então acredito que os laços entre a Rússia e os países africanos são mutuamente benéficos para ambos os lados."
Segundo ele, a Rússia é forte do ponto de vista político, econômico e militar, e também é muito atraente em termos de turismo, o que atrai a atenção dos países da região.
"A crise ucraniana alterou seriamente as abordagens para a construção de parcerias, e isso se manifestou claramente no continente africano", opinou por sua vez Noureddin Kerbal, um legislador de Marrocos, que vê a preparação de um acordo de área de livre comércio como uma reorientação da região em direção a uma parceria multilateral e mutuamente benéfica que já começou.
Segundo ele, as relações entre o Marrocos e a Rússia já começaram a se desenvolver de forma rápida e proveitosa nesse sentido, "embora as bases tenham sido lançadas em 2016, com a assinatura do acordo de parceria estratégica bilateral".
"O acordo abrangerá muitas áreas, incluindo turismo, setor agrícola, setor de energia, pesca, saúde e setor médico. Acredito que ele também não ficará por aqui", explicou Kerbal à Sputnik.

Uma zona regional ou várias zonas diferentes?

Tendo em conta que todos os quatro países com os quais Moscou planeja assinar acordos de livre comércio e que fazem parte do Magrebe, surge a dúvida se a Rússia poderá criar uma única zona de livre comércio com toda a região, ou se a questão terá que ser limitada a acordos bilaterais com cada país.
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Kuwashi vê como improvável que uma única zona seja criada em um futuro próximo, mas ao mesmo tempo, as perspectivas para a região são significativas.
"Acho que os acordos de livre comércio serão concluídos com cada país individualmente, tendo em conta as relações instáveis entre alguns países do Magrebe. Por exemplo, há tensão entre a Argélia e o Marrocos, as fronteiras entre os países são fechadas, então não podemos falar em um único acordo. Talvez no futuro seja possível resolver todas as diferenças e, assim, o consenso econômico poderá ser ampliado", disse ele.
Andrei Zeltyn, professor sênior da Escola de Estudos Orientais da Escola Superior de Economia da Universidade Nacional de Pesquisa da Rússia, deu à Sputnik uma posição semelhante.
"Uma zona única, devido às tensões internas entre vários países da região, dificilmente será possível agora. Já [relações] bilaterais entre a Rússia e cada um dos países declarados são bem possíveis", resumiu o acadêmico.
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