Os líderes militares de ambos os países tiveram uma "discussão positiva, construtiva e profunda" sobre a resolução das questões remanescentes ao longo da Linha de Controle Real na região de Ladakh, que se refere à fronteira em disputa, disse o comunicado citado pela Bloomberg.
Os vizinhos asiáticos com armas nucleares estão presos em sua pior disputa territorial em quatro décadas devido a um confronto mortal em 2020, mas com os eventos do BRICS e do G20, as reuniões serviram para suavizar o tom nas negociações de fronteira.
"É do interesse da Índia e da China não deixar que a disputa de fronteira afete a cooperação em grupos multilaterais como BRICS e G-20. Ambos os países compartilham o objetivo comum de promover uma ordem mundial multilateral por meio de agrupamentos multilaterais", disse à Sputnik Niranjan Marjani, pesquisador e especialista em Relações Internacionais.
Ao mesmo tempo, Marjani acredita que a harmonia no diálogo foi temporariamente amenizadora, visto que resolver a questão da fronteira exigirá um esforço bem maior de ambos os lados.
"É encorajador que ambos os países queiram resolver a disputa de fronteira de Ladakh de maneira expedita. No entanto, resolver isso é um processo de longo prazo e possivelmente envolverá mais rodadas de negociações, que continuarão mesmo após as cúpulas do BRICS e do G20", acrescentou.
Soldados paramilitares indianos mantêm guarda enquanto o comboio do Exército indiano se move na rodovia Srinagar-Ladakh em Gagangeer, nordeste de Srinagar, Índia, 18 de junho de 2020
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Já Seshadri Vasan, diretor-geral do Centro de Chennai para Estudos da China (C3S, na sigla em inglês), disse à Sputnik que as conversas em nível de comandante militar foram cruciais para abrir caminho para reuniões de líderes em potencial à margem das próximas cúpulas.
"Qualquer mudança na situação no terreno exigiria um consenso político dos dois líderes", disse Vasan, referindo-se à demanda de Nova Deli de que o status quo pré-2020 na fronteira de Ladakh seja restaurado para resolver completamente a situação da fronteira.
O diretor-geral acredita que é fundamental para Pequim manter um relacionamento econômico estável com outros países, pois enfrenta uma perspectiva econômica turbulenta no curto prazo.
"A economia será o principal motor das relações interestatais no futuro. É importante que a China tenha laços estáveis com os países com os quais tem superávits comerciais, incluindo a Índia e os Estados Unidos", disse Vasan, veterano da Marinha indiana.
Ele ainda avaliou que, como Pequim foi confrontada com uma perspectiva econômica em queda e pressão deflacionária, a liderança chinesa pode tentar e decidir "diminuir as tensões" com países com os quais está envolvida em disputas.
"A China certamente se sentiria desconfortável com a crescente coordenação entre diferentes países para reduzir o risco de suas cadeias de suprimentos e mover a fabricação para fora da China", afirmou Vasan.
Na visão de Marjani, ter "paz e tranquilidade" na fronteira com a Índia também ajudaria Pequim a navegar melhor nos ventos econômicos contrários.
O especialista considerou que a China deve projetar para seus vizinhos que é uma potência benigna e profundamente interessada em resolver sua questão de fronteira não apenas com a Índia, mas também suas disputas marítimas com nações do sudeste asiático no mar do Sul da China.
Apesar das diferenças de fronteira desde 2020, o comércio bilateral entre Pequim e Nova Deli atingiu um recorde de US$ 135,9 bilhões (R$ 673 bilhões) entre 2022 e 2023. As importações da Índia da China chegaram a quase US$ 101 bilhões (R$ 500 bilhões), com o superávit comercial a favor de Pequim sendo de quase US$ 70 bilhões (R$ 346 bilhões).