Nesta quinta-feira (24), foi realizada a reunião do fórum BRICS Plus, com a presença dos chefes de Estado de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e do secretário-geral da ONU, António Guterres, além da presença de um número significativo de líderes africanos e sul-americanos.
O evento tem o objetivo de reforçar a parceria entre o BRICS e o continente africano, visto como nova fronteira do crescimento econômico sustentável mundial.
"A presença de dezenas de líderes do Sul Global [na reunião do BRICS Plus] mostra que o mundo é mais complexo do que sugere a lógica de Guerra Fria que alguns querem reinstaurar", disse Lula na ocasião.
Durante seu discurso, o presidente brasileiro lamentou os retrocessos na situação social e econômica mundial, lembrando a falta de avanço e até estagnação dos esforços para atingir as metas da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, proposta pela Assembleia Geral da ONU.
"Estamos sob o risco de uma guerra nuclear. O mundo andou para trás", disse Lula. "Mas muitas das respostas que procuramos para construir um mundo mais equitativo estão na África."
Para o brasileiro, as promessas da globalização não se cumpriram, deixando nações inteiras "polidas por dívidas impagáveis" e sujeitas à imposição de altos juros e "condicionalidades que estreitam o espaço de atuação do Estado".
"O sinal mais evidente que o planeta se torna um lugar mais desigual é o crescimento da fome e da pobreza [...] que não são tratados com a emergência que merecem", declarou Lula.
Coletiva de imprensa final após a reunião conjunta dos líderes do BRICS, Joanesburgo, África do Sul, 24 de agosto de 2023
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Por outro lado, o presidente brasileiro contrastou tendências positivas do desenvolvimento político e econômico africano com retrocessos significativos em outras regiões do mundo.
"De um lado, alianças excludentes renascem e acirram tensões, e de outro África e América Latina se unem para revitalizar a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul", disse Lula.
Criada em 1986, a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS) une países de ambas as costas do oceano Atlântico Sul para garantir a exclusão de armas nucleares e eliminação da presença militar estrangeira na região.
"É hora de revitalizar a cooperação entre os países em desenvolvimento", disse Lula. "A prosperidade só é plena quando é compartilhada."
Nesse contexto, o presidente brasileiro anunciou o apoio brasileiro à entrada da União Africana no G20, grupo das maiores economias mundiais, que será presidido pelo Brasil a partir de 1º de dezembro de 2023.
A reunião também contou com participação on-line do presidente da Rússia, Vladimir Putin, que manifestou apoio ao fortalecimento da cooperação entre o BRICS e países africanos.
"A Rússia recebe bem e concorda com o foco atual do BRICS na África. Nos reunimos há pouco tempo em São Petersburgo, mostrando que estamos ligados por relações sólidas [...] criadas ainda no século passado, durante a luta africana pela libertação do jugo colonial", disse Putin.
A Rússia celebrou a Cúpula Rússia-África na cidade de São Petersburgo entre os dias 27 e 28 de julho, que contou com a participação de 49 dos 53 países do continente.
"Nós somos a favor de uma nova ordem multipolar [...] que considere os interesses do maior número de países possível", disse o presidente russo. "O BRICS não é formado contra ninguém, mas o processo de formação do mundo multipolar tem adversários que tentam freá-lo, a fim de manter o velho mundo unipolar."
Segundo ele, o Sul Global ainda é sujeito a práticas coloniais impostas por países que, "sob o disfarce de slogans bonitos, como democracia e direitos humanos, resolvem seus problemas [...] às custas dos recursos de países em desenvolvimento".
"A maioria global, da qual fazemos parte, está cada vez mais cansada das pressões e manipulações, e quer uma cooperação entre iguais e mutuamente benéfica [...] que é o objetivo do BRICS", disse Vladimir Putin.
A reunião do BRICS Plus e da iniciativa BRICS-África é realizada na manhã desta quinta-feira (24), após a divulgação da Declaração de Joanesburgo II, que apresenta os resultados da 15ª Cúpula do BRICS. Na ocasião, os líderes do BRICS anunciaram a primeira fase de expansão do bloco, que contará com os novos membros Argentina, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos a partir de janeiro de 2024.