O Irã tem aumentado discretamente as suas compras externas de ouro, acrescentando mais de 4,1 toneladas de lingotes de ouro padrão aos cofres do país nos primeiros cinco meses do ano civil iraniano (de 21 de março a 22 de agosto), de acordo com dados da Administração Aduaneira da República Islâmica do Irã divulgados pela mídia iraniana.
Tanto o Estado como os cidadãos iranianos parecem ter voltado seu interesse para o ouro, com o Conselho Mundial do Ouro reportando que no mês de maio a procura por moedas e barras de ouro por parte dos iranianos aumentou dramaticamente. O investimento subiu para 13 toneladas durante os primeiros meses de 2023 – 26% mais do que a média trimestral de cinco anos (dez toneladas), enquanto os cidadãos procuravam reservas sólidas de valores no meio da inflação e das pressões relacionadas com as sanções.
O chefe da Organização de Promoção Comercial Iraniana, Mehdi Zeighami, indicou que o aumento nas importações de ouro estava relacionado com a flexibilização das regulamentações do Estado no final do ano passado no que respeita ao retorno das receitas de exportação, o que levou as empresas envolvidas em exportações a importar ouro para pagar suas obrigações em moeda forte ao Banco Central do Irã.
"As importações de lingotes de ouro são econômicas para as empresas e tentamos diversificar os métodos utilizados para o repatriamento de divisas fortes", explicou Zeighami.
As medidas são bem-vindas ao Estado iraniano, que tem trabalhado cuidadosamente para acumular reservas de ouro e expandir as atividades de extração doméstica. Esta semana, o diretor-geral do Departamento de Assuntos de Exploração do Ministério da Indústria, Minas e Comércio, Ebrahim Ali Molabeigi, anunciou que o país descobriu cerca de 79 toneladas de reservas de ouro inexploradas no valor de US$ 355 milhões (cerca de R$ 1,7 milhões) somente em 2022.
O Irã utilizou com sucesso o ouro para lidar com as sanções, especilmente no comércio, para evitar a utilização de dólares ou conexões às instituições financeiras ocidentais sujeitas a sanções e restrições secundárias dos EUA e da Europa. O país tem agora uma estimativa de 340 toneladas em reservas comprovadas de ouro, embora os dados exatos sobre o ouro detido pelo Banco Central sejam desconhecidos.
A atratividade do ouro como reserva de valor tem aumentado constantemente ao longo das décadas, com a onça nas negociações públicas atingindo perto de US$ 2.000 (R$ 9.895,00) nesta semana, em meio à inflação e à incerteza sobre o valor do dólar e de outros papéis moeda. A crescente popularidade do ouro como reserva internacional ocorre depois que os países testemunharam como as reservas mantidas em moedas ocidentais podem ser congeladas ou transformadas em arma.
A especulação sobre a possível utilização de um token de troca apoiado pelo ouro pelo bloco BRICS serviu para despertar ainda mais o interesse dos investidores e do governo no metal precioso.
No início deste ano, autoridades russas revelaram que Moscou e Teerã estavam considerando o uso de uma moeda estável "token do golfo Pérsico" lastreada em ouro. Especialistas financeiros disseram que a ideia, se concretizada, poderia causar uma potencial "mudança tectônica" nas finanças internacionais, com sérias implicações não apenas para o dólar, mas para outras moedas fiduciárias em todo o mundo, uma vez que poderia servir como "uma alternativa atraente de segurança que não pode ser usada como arma contra os proprietários e usuários de tais tokens".