Operação militar especial russa

EUA decidem 'transferir a culpa' pelo 'desastre' da contraofensiva da Ucrânia, diz especialista

A Ucrânia pode ter apenas um mês de combate pela frente, afirmou o chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, Mark Milley, em entrevista à imprensa estatal do Reino Unido no domingo (10). No entanto, as enormes perdas sofridas por Kiev não perturbaram os EUA e a OTAN, que continuam a enviar mais carregamentos militares para a Ucrânia.
Sputnik
O regime de Kiev sofreu perdas tais na sua tentativa de contraofensiva que "nunca deveria ter ocorrido" que "poderia levar cerca de 30 dias até que o Exército ucraniano ficasse completamente sem munições e mão de obra", disse o tenente-coronel reformado do Exército dos EUA Earl Rasmussen à Sputnik.
Quanto à iminente mudança no clima, "será tão ruim que [os militares ucranianos] não conseguirão avançar e se tornarão ainda mais alvos da artilharia e das ações defensivas russas", disse o consultor internacional especializado em geopolítica e assuntos militares.

"Eles estão sem munição, o Ocidente está sem munição [...]. Eles não conseguem obter suprimentos com rapidez suficiente. Não só o clima influencia os '30 dias', há também muitas outras condições", disse o especialista.

'Missão suicida'

"Não consigo imaginar os ucranianos fazendo muita coisa neste momento. Não há como eles conseguirem, mesmo que quisessem [...] antes do tempo. Sempre disse que esta ofensiva era uma missão suicida e, com o tempo chegando [clima frio], seria definitivamente uma missão suicida tentar avançar", disse Rasmussen.
O especialista estava comentando a recente previsão oferecida por Mark Milley sobre quanto tempo os militares da Ucrânia tinham à sua disposição até que a lama e o inverno (do Hemisfério Norte) chegassem.

"Ainda resta um tempo razoável, provavelmente cerca de 30 a 45 dias de combate neste clima, então os ucranianos não terminaram, essa batalha não acabou. E eles não conseguiram — eles não terminaram a parte de combate do que estão tentando realizar", disse o general do Pentágono em entrevista conjunta com o chefe do Estado-Maior de Defesa do Reino Unido, Tony Radakin, à mídia estatal britânica no domingo (10). Milley também garantiu que a Ucrânia estava mostrando "progressos muito constantes" e uma "profundidade de poder de combate" nas linhas de frente.

"Vamos pegar um resfriado, como você mencionou. Vai começar, as chuvas vão chegar, vai ficar muito lamacento e será muito difícil manobrar [...], e então você chegará ao inverno intenso, e então nesse ponto veremos para onde as coisas vão. Mas neste momento é muito cedo para dizer se esta ofensiva falhou ou não falhou", disse Milley.
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"O Ocidente gostaria de ver esta ofensiva continuar", disse Earl Rasmussen, mesmo que "os realistas digam que isso não está funcionando". É por isso que estamos assistindo aos EUA aumentarem ainda mais a ajuda, declarou.

"Neste momento, as indicações são que o Ocidente vai aumentar, aumentar ainda mais até certo ponto, ou pelo menos tentar sustentar a situação", afirmou a autoridade.

Muito se tem falado sobre o envio de mísseis de longo alcance à Ucrânia, como os Sistemas de Mísseis Táticos do Exército (Atacms), e tem havido uma corrida para tentar obter caças F-16 que o regime de Zelensky tem clamado, lembrou o especialista. Os chefes norte-americanos de Kiev vão poder pressionar os ucranianos a continuarem com a ofensiva por mais 30 dias, e talvez até durante o inverno, acrescentou Rasmussen.
Tentando pintar a contraofensiva hesitante sob uma luz "melhor", o Ocidente tem se envolvido em retóricas como: "Oh, eles romperam a primeira linha de defesa!", disse o especialista.

"Sabemos que eles podem avançar algumas centenas de metros até uma pequena cidade, [...] uma vila [...]. Então eles recuam, [...] não houve veículos blindados ou equipamentos pesados que tenham ultrapassado a primeira linha", pontuou.

Quanto às táticas dos militares russos, "eles têm de três a cinco linhas de defesa, e se as forças ucranianas romperem uma dessas linhas, então ocorrerão apenas mais perdas", disse Rasmussen, que ainda pontuou que a Ucrânia tem enfrentado problemas no recrutamento em meio às enormes perdas de militares ativos.
Tendo em conta a saída maciça de homens em idade de combate do país, os meios de comunicação alternativos e até mesmo alguns meios de comunicação tradicionais têm relatado casos de oficiais de recrutamento que agarram homens nas ruas, de restrições acrescidas a viagens para o exterior, e de subornos nas vezes em que as pessoas procuram evitar serem enviadas para lutar.
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Entretanto, existe a sensação de que há "dois campos diferentes" tomando forma "em segundo plano", acrescentou Rasmussen, apontando para a recente cúpula do G20 na Índia.

"Apesar do que o Ocidente tentou fazer, há uma resistência bastante forte. Não se viu nenhuma condenação direta à Rússia na declaração do G20 [...]. Talvez eles tenham visto o seu apoio enfraquecer", disse o especialista, acrescentando que há "uma resistência no Congresso [norte-americano] ao financiamento contínuo".

A declaração da cúpula demonstrou uma "posição equilibrada sobre o conflito na Ucrânia", afirmou a representante russa (sherpa) no G20, Svetlana Lukash, acrescentando que metade dos membros do grupo se recusou a aceitar as narrativas ocidentais. As potências do Ocidente não conseguiram sequestrar a agenda do fórum intergovernamental em favor da crise da Ucrânia, disse o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, na reunião de dois dias.
Nos EUA, a maioria das pessoas não apoia a atual política de enviar mais dinheiro para o ralo da Ucrânia. Tendo em conta as eleições presidenciais de 2024 que se aproximam, a administração Biden está sob pressão interna por parte de um coro de vozes que apelam para que sua atenção se concentre nas questões internas.

"Penso que estamos descobrindo que o apoio está começando a diminuir e a se fragmentar nos bastidores", disse Earl Rasmussen.

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Jogo de culpa pelo 'desastre' da contraofensiva

Quanto à tentativa do Ocidente de transferir a responsabilidade pelo fracasso da contraofensiva para a própria Ucrânia, era uma atitude esperada, segundo Rasmussen.
No mês passado, começaram a surgir relatos de que estrategistas dos EUA "aconselharam a Ucrânia" a bombear mais tropas para "perfurar" as defesas e campos minados russos, mesmo que isso custasse um grande número de soldados e equipamento. Altos funcionários militares da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), incluindo o chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, Mark Milley, o comandante supremo aliado da OTAN na Europa, Christopher Cavoli, e o chefe do Estado-Maior de Defesa britânico, Tony Radakin, teriam realizado uma videochamada com o comando ucraniano para pressionar por uma mudança de foco.
Os EUA têm dito descaradamente que têm trabalhado com os ucranianos, "planejando esta ofensiva" há meses, armando e treinando os militares, disse o especialista. Mas agora ouvimos críticas do Ocidente, que diz que "os ucranianos não são suficientemente corajosos ou basicamente agressivos o suficiente na ofensiva".

"Temos uma temporada eleitoral chegando aqui, pessoas concorrendo à presidência. Eles precisam transferir a culpa. Eles não querem assumir a culpa, então apontam o dedo: 'Nós demos a você tudo o que você queria, treinamos você [...]. Somos nós que dirigimos o trem nos bastidores.' Temos pessoal de tecnologia militar lá, temos informações sendo fornecidas, temos os políticos provavelmente em contato contínuo", disse ele.

Recentemente o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, embarcou para a Ucrânia, em uma visita surpresa de dois dias, em que anunciou entre US$ 175 milhões e US$ 200 milhões (cerca de R$ 867,1 milhões e R$ 991,1 milhões) em nova ajuda dos EUA. Blinken também disse que Washington notou um "bom progresso" na contraofensiva de Kiev. No entanto, a tão anunciada contraofensiva da Ucrânia, que teve início em 4 de junho, quase não obteve ganhos contra posições defensivas russas, fortemente entrincheiradas e multifacetadas.

Assim, sobre os patronos ocidentais do regime de Kiev, liderados pelos EUA, Earl Rasmussen concluiu que "eles estão tentando transferir a culpa? Absolutamente. Eles não querem assumir eles próprios a culpa por este desastre".

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