Preso preventivamente por quatro meses e solto após a homologação de sua delação premiada, no último sábado (9), o tenente-coronel Mauro Cid confessou a participação nos episódios das fraudes em cartões de vacinação e do esquema de venda de joias milionárias recebidas por Jair Bolsonaro (PL) como presente enquanto estava à frente da Presidência da República.
As informações foram publicadas pela revista Veja na noite desta quinta-feira (14).
No caso da adulteração dos documentos, ele alegou que fez isso para proteger a família de hostilidades pelo fato de sua mulher e sua filha não terem tomado vacinas contra a COVID-19.
A versão contraria a linha de investigação da Polícia Federal (PF), na qual se trabalha com a hipótese de a falsificação ter sido feita para que seus familiares e Bolsonaro entrassem nos Estados Unidos, no final do ano passado. Bolsonaro viajou para os EUA em 30 de dezembro para não passar a faixa presidencial ao atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Até então não se sabia que, nas malas, Bolsonaro levara dois kits de joias, presentes de países árabes ao ex-chefe do Executivo, que deveriam ter sido incorporadas ao acervo do Estado brasileiro. Esses kits incluem dois relógios: um da marca Rolex e outro da Patek Philippe.
Segundo Cid, "o presidente estava preocupado com a vida financeira. Ele já havia sido condenado a pagar várias multas. A venda pode ter sido imoral? Pode. Mas a gente achava que não era ilegal".
Conjunto de joias apreendido pela Receita Federal no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, no ano de 2021
© AP Photo / Receita Federal / Reprodução
A venda das joias foi feita nos EUA por um total de US$ 68 mil (R$ 331 mil). O valor foi depositado na conta do pai do ex-ajudante de ordens, general Mauro Lourena Cid. O dinheiro em espécie foi entregue, segundo o tenente-coronel, "em mãos" para Bolsonaro.
Além de monitoramento por tornozeleira eletrônica, Cid foi solto sob condição de ficar em casa à noite e aos finais de semana. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes também o proibiu de entrar em contato com outros investigados.
A interlocutores, Cid tem dito que "cumpria ordens" e, apesar das tramoias em que supostamente foi envolvido, ainda expressa admiração pelo ex-chefe.