"A posição de Zelensky [sobre tratativas de paz] não mudou e dificilmente deve mudar. A carreira política dele está nas mãos de oligarcas ucranianos e do complexo industrial militar dos Estados Unidos, cujo papel foi e está sendo cumprido com sucesso. Ao mesmo tempo, quando a sua posição já não for mais tão importante para a estratégia conduzida por Washington na Ucrânia, o apoio a uma mudança nos rumos, e mesmo na direção política do Estado, poderá ser diretamente estimulado. Isso pode vir a acontecer na medida em que o contínuo suporte militar e político ocidental não gere resultados concretos no campo de batalha", aponta.
"Essa tendência momentânea favorece a posição de Zelensky, que precisa pedir cada vez mais recursos financeiros e militares. A situação econômica e estratégica de Kiev perante a Rússia, que em fevereiro de 2022 já era bastante grave, piorou na medida em que a evolução do conflito sugou tudo o que a Ucrânia possuía. Ao referido saco sem fundo, que conhecemos como governo ucraniano, e aos Estados Unidos não resta escolha. Essa estrutura, lucrativa para os dois lados, precisa ser mantida e sustentada custe o que custar."
Mundo cindido
"Para os países do chamado primeiro mundo, o conflito foi causado por uma decisão unilateral do governo da Federação da Rússia, que, em suas visões, quer anexar territórios na Ucrânia por questões históricas da elite russa. Mas para os países emergentes a interpretação é diferente: eles não concordam que essa guerra tem um único responsável e [acham] que só através de uma resolução política, diplomática, a construção de um novo regime de segurança europeu e atlântico permitirá que não necessariamente uma paz, mas uma estabilidade estratégica retorne ao ambiente regional."
"Tanto europeus quanto norte-americanos adoram interferir em problemas dos outros, mas acham que o Sul Global não deve se meter na questão ucraniana. Mas ficou claro e evidente que a Rússia conseguiu contornar o embargo internacional e mantém um crescimento macroeconômico. A maioria dos países, e estamos falando de mais da metade da população mundial, não se importa de continuar mantendo relações com a Rússia", observa.
Biden em apuros?
"Aquelas pessoas que associarem os seus problemas econômicos, [os problemas] que o mundo vem sofrendo, que o Ocidente vem sofrendo (e os Estados Unidos não são uma exceção) [ao conflito], essas pessoas vão evidentemente se influenciar por essa posição quanto à guerra na Ucrânia, que está no centro das razões pelas quais estão vivenciando uma crise econômica desde o ano passado."