O ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, em reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), realizou um resgate histórico ao falar sobre o conflito ucraniano elencando os pontos críticos em que o Ocidente desrespeitou pactos e acordos com Moscou.
Segundo Lavrov, o Ocidente caminhou na direção do conflito na medida em que avançou com a agenda de expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para o Leste Europeu. Agora, o chanceler afirma que o risco de uma escalada continua crescendo.
"Os riscos de conflito global também estão aumentando", disse Lavrov.
Para fazer face a esses riscos, a Rússia insiste para que todas as disposições da Carta das Nações Unidas sejam respeitadas e não aplicadas seletivamente, incluindo a igualdade soberana dos Estados, a não interferência nos seus assuntos internos, o respeito pela integridade territorial e o direito das pessoas à autodeterminação, acrescentou Lavrov.
Ainda segundo o ministro, a Rússia não abandona a possibilidade de negociações com a Ucrânia. Para ele, se os EUA quisessem, poderiam ordenar a Kiev que cancelasse o decreto que proíbe as negociações com Moscou.
"Falando em negociações — não as estamos abandonando, mesmo agora, o presidente Putin falou sobre isso muitas vezes, inclusive recentemente", enfatizou Lavrov.
Dirigindo-se ao secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, Lavrov observou que Vladimir Zelensky assinou um decreto proibindo as negociações e destacou que "se os EUA estão tão interessados nelas, penso que não será difícil ordenar que este decreto de Zelensky seja cancelado", sublinhou.
Para o chanceler, os riscos de um conflito sem precedentes não se estabelecem apenas a partir das imensas doações de armas do Ocidente à Ucrânia. Na semana passada, Londres, Paris e Berlim anunciaram que vão manter as sanções contra Teerã relacionadas com o seu programa nuclear e o desenvolvimento de mísseis balísticos.
"O problema relacionado com os regimes de sanções também requer atenção [...]. O Conselho de Segurança [...] aprova sanções contra um país específico, e depois os Estados Unidos e os seus aliados impõem restrições unilaterais 'adicionais' contra o mesmo Estado [...]. O mais recente exemplo flagrante desta abordagem é a decisão tomada por Berlim, Paris e Londres, através da sua legislação nacional, de 'estender' as restrições ao Irã que expiram em outubro, as quais estão sujeitas a rescisão legal de acordo com a Resolução 2231 do Conselho de Segurança da ONU", disse Lavrov.
O Kremlin tem ressaltado repetidamente que as contínuas remessas de equipamentos militares à Ucrânia apenas prolongam um conflito que pode tomar proporções ainda maiores. Na medida em que os países têm aumentando seus orçamentos militares, em meio à lógica anacrônica da Guerra Fria, o desenvolvimento e o multilateralismo acabam sendo deixados de lado, restritos à poucos atores internacionais que acabam perdendo espaço de debate em órgãos como a ONU.
A Rússia, que já havia desprendido grandes esforços para uma saída diplomática do conflito, continua a sugerir que os esforços sejam feitos neste sentido, mas que uma saída duradoura para a crise de segurança só seria atingida de forma plenas se as partes envolvidas nas hostilidades fossem ouvidas igualmente.