A homenagem prestada pelo Parlamento canadense, na semana passada, a um veterano ucraniano que serviu em uma divisão nazista durante a Segunda Guerra Mundial segue gerando repercussões negativas.
Desta vez quem lamentou o ocorrido foi o jurista canadense Jason Cherniak, que participou da cerimônia de homenagem durante a visita do presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, ao Parlamento daquele país.
"Eu estava no Parlamento para o discurso de Zelensky, quando um suposto herói de guerra foi apresentado; levantei-me e aplaudi. Presumi que ele fosse um partidário que lutou contra a ocupação comunista após a Segunda Guerra Mundial. Agora descobri que ele era membro voluntário de uma unidade da SS, e me sinto enjoado", escreveu Cherniak em sua conta na rede social X.
O jurista observou que, como judeu, é "difícil para ele imaginar um momento mais embaraçoso do que ser uma das pessoas que, sem saber, aplaudiram um soldado nazista".
Por outro lado, Cherniak não hesitou em culpar o presidente russo, Vladimir Putin, pelas consequências que o episódio possa acarretar. "Estou especialmente preocupado com o fato de que, com a descaracterização da Ucrânia e do seu presidente judeu por Putin como um Estado nazi, isso vai criar muita munição para mais desinformação em todo o mundo", acrescentou.
As reações na rede social foram rápidas. "Putin me fez aplaudir um nazista", ironizou um usuário, em resposta a Cherniak. "Seus ancestrais estão se revirando nos túmulos", escreveu outro usuário.
Várias pessoas publicaram fotos e vídeos de soldados ucranianos usando símbolos neonazistas e acusaram Cherniak de ignorar esse fenômeno na Ucrânia de hoje.
Toda a polêmica começou quando Anthony Rota, presidente da Câmara dos Comuns, câmara baixa do Parlamento canadense, saudou e iniciou uma ovação ao veterano da Segunda Guerra Mundial Yaroslav Hunka, de 98 anos, que lutou na Primeira Divisão Ucraniana antes de imigrar para o Canadá. As falas de Rota foram feitas durante a introdução de Vladimir Zelensky na Casa.
Esse grupo também ficou conhecido como Divisão Galícia e foi incorporado à 14ª Divisão de Granadeiros da SS, exército paramilitar do Partido Nazista. Composta de voluntários, muitos eram admiradores do líder fascista Stepan Bandera (1909–1959), colaboracionista nazista ucraniano durante a Segunda Guerra Mundial, ou viam os nazistas como aliados capazes de garantir autonomia perante Moscou.
Rota, que pediu desculpas por suas ações, foi criticado por movimentos sociais e nações ao redor do mundo.
A comunidade judia Amigos do Centro Simon Wiesenthal (que estuda o Holocausto) afirmou em um comunicado que "o fato de que um veterano que serviu em uma unidade militar nazista foi convidado e ovacionado no Parlamento é escandaloso".
A organização ainda acrescentou que "não há dúvidas" de que a unidade na qual Hunka serviu foi responsável por matar civis "com um nível de brutalidade e rancor inimagináveis".