Segundo um especialista ouvido pela jornalista Melina Saad, da Sputnik Brasil, o Brasil deve pautar o tema das negociações de paz entre Rússia e Ucrânia, que estão há 586 dias em conflito.
Para outro analista, caso consiga seu pleito de décadas em relação a um assento permanente no órgão mais importante da ONU, isso deve redesenhar a geopolítica global, embora não deva acontecer sob a gestão brasileira.
Para Leonardo Trevisan, economista e professor de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), não há dúvida que a questão ambiental será pauta, "especialmente o preparo das discussões em torno da COP30 e principalmente a posição brasileira na COP28".
De acordo com o acadêmico, o tema será utilizado pelo país como forma de reabilitar sua imagem internacional e pode auxiliar nas negociações do acordo de livre comércio Mercosul-UE. "O Brasil com certeza usará parte dessa proeminência para ultimar posições para defender posições da diplomacia brasileira."
Já Adriano Sérgio Lopes da Gama Cerqueira, professor do curso de relações internacionais do Ibmec Belo Horizonte, ressalta o papel do Brasil no desenvolvimento de instituições bilaterais, regionais e multilaterais na resolução de conflitos globais.
"O Brasil deve bater nessa questão da paz, que é sempre um problema envolvendo o Conselho de Segurança da ONU."
Para Cerqueira, dependendo de como essas questões vão ser tratadas pela mídia brasileira, a repercussão da presidência do Brasil no CSNU pode ser muito mais interna do que externa.
Oportunidade pode ser uma escada para uma cadeira permanente no Conselho de Segurança?
Há décadas o G4, grupo composto por Brasil, Alemanha, Índia e Japão, pleiteia um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Desde 2015, com a formalização da abertura de um espaço, os países se uniram ainda mais para apoiar as suas candidaturas.
Para alguns, gerir o CSNU pode dar ao país um maior destaque e fazer com que finalmente consiga a tão sonhada cadeira permanente.
No entanto, para Gama Cerqueira, o cargo da presidência é de uma rigidez formal muito grande, impedindo que traga algum impacto real na hora de decidir um novo membro permanente.
"Só se o Brasil fizer algo muito escandaloso, o que é muito improvável", disse Cerqueira. "O que impacta mais é a frequência com que o Brasil ocupou esse posto."
A opinião é compartilhada por Trevisan, que explica que ocupar a presidência e ocupar uma cadeira são coisas muito diferentes.
"A obtenção da cadeira no Conselho de Segurança implicaria em uma remodelação completa no desenho geopolítico do mundo."
O economista, contudo, ressalta que o país tem uma importância geopolítica grande e que vem constantemente se posicionando ao lado de nações emergentes, como Indonésia, Arábia Saudita e Índia. "É o peso de um país que representa praticamente a América Latina toda".
"Nós precisamos entender que o Brasil não é o único postulante a essa cadeira. Os outros postulantes mais fortes são: Índia, Alemanha e Japão. Dois deles, francamente, teriam um veto chinês, porque a China não gostaria de modo algum de dividir o poder na Ásia", analisou.