Panorama internacional

'Perda de poder dos Estados Unidos', diz especialista sobre adesão de Arábia Saudita e Irã ao BRICS

A presença dos rivais geopolíticos de longa data, Arábia Saudita e Irã, dentro do BRICS a partir de 1º de janeiro de 2024, pode finalmente pôr os países para conversar em contextos amigáveis. Se isso de fato acontecer, o cenário geopolítico global está suscetível a uma recalibragem, apontam analistas.
Sputnik
Historicamente, os governos de Riad e Teerã disputam a hegemonia política e religiosa regional.
A inimizade, que se tornou mais forte a partir da Revolução Iraniana de 1979, quando o regime monárquico pró-EUA do país se tornou uma república islâmica, tem estado em um dos seus períodos mais negativos dos últimos tempos.
A situação, contudo, pode ver uma virada a partir de 2024, com a entrada de ambas as nações no BRICS, apontou Fernando Brancoli, professor do Instituto de Relações Internacionais e Defesa (IRID) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), à Sputnik Brasil.
A coligação, que já aplaca desavenças geopolíticas locais, como a disputa fronteiriça entre a China e a Índia, pode ter um papel fundamental no "descongelamento" das relações entre os países muçulmanos, afirmou Brancoli.

"Teremos uma plataforma extra com países considerados aliados no entorno, com encontros regulares, na qual tanto Riad quanto Teerã conseguem sentar, chegar a meios-termos e reduzir riscos."

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Uma derrota para os Estados Unidos?

A aproximação dos dois países do golfo Pérsico sinaliza um abraço a uma ordem mundial multipolar, que vê um afastamento dos Estados Unidos enquanto poder hegemônico do globo.
Para o acadêmico, Washington não vai deixar sua influência no Oriente Médio diminuir tão facilmente. Mohammed bin Salman, líder de fato da Arábia Saudita e aliado dos EUA, também está normalizando suas relações com outro antigo inimigo regional, Israel, maior aliado dos norte-americanos na região.
A aproximação, que vem sendo mediada pelos Estados Unidos, é uma tentativa estadunidense de garantir sua permanência naquele espaço, apontou Brancoli. "Digo permanência como um ator, no caso dos EUA, que dita os rumos daquele espaço."
O pesquisador ainda ressalta que Riad mantém boas relações com Washington, funcionando como um dos principais entrepostos comerciais e financeiros, além de ser um grande receptor de armas estadunidenses.

"Acho que a Arábia Saudita está querendo colocar tanto um pé lá quanto um pé aqui. O que, em relações internacionais, a gente chama literalmente de ficar em cima do muro."

Nesse contexto, o reate entre o governo saudita de Bin Salman e o Irã, liderado pelo aiatolá Ali Khamenei, é "uma perda relativa de poder dos Estados Unidos, já que vemos um dos principais aliados desse país expandindo os debates com outras nações", disse o acadêmico.

"Eu não diria que é um rearranjo completo do sistema, mas sim uma recalibragem", concluiu.

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