Falando recentemente na Biblioteca Nixon (Califórnia), Ramaswamy expôs como pretende – se eleito – realizar uma das manobras geopolíticas mais surpreendentes do século XXI.
Em resumo, Ramaswamy pretende separar a Rússia da China e isolar não Moscou, mas sim Pequim! Para realizar essa manobra, o pré-candidato republicano pretende usar o que chamou de "espírito do realismo nixoniano" (em referência ao presidente Richard Nixon, que governou os Estados Unidos de 1969 a 1974).
De acordo com Vivek, a América vive um momento em que a convicção bipartidária em torno de se opor à Rússia representa uma péssima ideia do ponto de vista geopolítico, dado que o verdadeiro inimigo dos Estados Unidos é a China.
Ramaswamy, portanto, pretende migrar a política externa americana de uma era de neoconservadorismo míope e hegemonia liberal para uma era de realismo e nacionalismo sem remorsos, onde os Estados Unidos deverão defender seus interesses no cenário global sem se apegar a ideologias abstratas, mas confiando num rigoroso cálculo quanto a custos e benefícios.
27 de setembro 2023, 13:30
Vivek aponta que a estrela do norte de sua política externa será baseada numa junção das doutrinas Monroe e Nixon. Da Doutrina Nixon, Ramaswamy defende o entendimento de que cabe a cada nação proteger sua própria segurança nacional. Na prática, isso significaria o fim da ajuda militar e financeira dos Estados Unidos à Ucrânia de Zelensky, por exemplo, o que levaria a uma conclusão imediata do conflito no Leste Europeu. Da Doutrina Monroe, Vivek extrai o pressuposto de que nenhuma nação estrangeira deverá mexer com os Estados Unidos em seu próprio solo, nem testar os interesses de Washington no Hemisfério Ocidental.
Para Ramaswamy, preocupa muito mais o que ocorreu durante os episódios do suposto balão espião chinês que teria sobrevoado os Estados Unidos no começo desse ano. Em seu discurso Vivek apontou que não deixará com que nenhuma base de espionagem chinesa seja instalada na América, assim como não permitirá que nenhum grupo chinês se utilize de cartéis de drogas no México para travar uma "guerra do ópio moderna" contra os Estados Unidos da América.
Em tais declarações, Ramaswamy, assim como Trump, se mostra sobretudo incomodado com a ascensão da China nas relações internacionais, que enxerga como o principal adversário da primazia militar e econômica estadunidense no mundo.
Logo, como a Rússia não é sua preocupação primária, Vivek promete findar com o conflito na Ucrânia assim que eleito (na verdade o próprio Donald Trump já fez declarações recentes nesse sentido). O pré-candidato republicano diz estar confiante na obtenção de uma negociação de paz que promova os interesses americanos, porém (pasmem!) sem envolver a inclusão de Kiev na OTAN.
Para isso, Ramaswamy pretende usar as lições de Richard Nixon e de seu secretário de Estado Henry Kissinger, que viajou em 1972 para a China para realizar uma manobra que viria a separar a China comunista da União Soviética, no que ficou conhecido posteriormente como "diplomacia triangular". De acordo com Vivek, Richard Nixon sabia que não podia confiar em Mao Zedong, mas sabia que poderia confiar no fato de que Mao seguiria os seus próprios interesses.
Na visão de Nixon, a principal ameaça que os Estados Unidos enfrentavam à época não era a China comunista, mas sim a União Soviética, e o fato de Mao possuir uma relação estratégica com os russos fazia dessa aliança um obstáculo aos interesses americanos no cenário global. Logo, separar a China dos soviéticos no começo da década de 1970 foi o início de uma longa caminhada que, no final das contas, acabou sendo fundamental nos anos seguintes da Guerra Fria.
Hoje, a aliança russo-chinesa chegou a patamares nunca antes vistos em termos qualitativos, mesmo durante a Guerra Fria. Em função disso, Ramaswamy acredita que enxergar a Rússia como uma ameaça nos dias atuais trata-se de um anacronismo, insistindo em que a política externa americana deve estar voltada não contra Moscou, mas sim contra a China.
Entretanto, aponta o pré-candidato republicano, antes de concentrar esforços numa nova contenção a Pequim, a aliança sino-russa precisa ser desfeita. Afinal, as capacidades militares e nucleares da Rússia combinadas com a capacidade naval e econômica da China têm o potencial de superar o poderio bélico dos Estados Unidos.
Diante desse contexto, Vivek – se eleito – pretende realizar o movimento inverso ao de Nixon/Kissinger, chegando a afirmar que "Putin é o novo Mao". Com isto, a política externa da Casa Branca deve separar Putin de Xi Jinping e, assim, isolar a China. No intuito de obter esse objetivo, Ramaswamy promete firmar um acordo com Vladimir Putin, no qual a Rússia manteria os territórios recém-adicionados à Federação em setembro do ano passado, assim como os Estados Unidos assumiriam o compromisso de que a OTAN nunca admitirá a Ucrânia em seu quadro de membros.
Em troca, Washington exigirá que a Rússia abandone a sua aliança com a China, e que retire suas armas nucleares de Belarus e de Kaliningrado, perto da fronteira com a Polônia. Não obstante, Vivek exigirá que a Rússia retire a sua presença militar no Hemisfério Ocidental, diminuindo ao mínimo suas relações com Cuba, Venezuela e Nicarágua por exemplo.
Por mais exóticas que sejam essas propostas, é de se imaginar que se um dia os Estados Unidos negociassem com Moscou sua "retirada" do Hemisfério Ocidental, a Rússia – de forma análoga – também exigiria que os americanos se retirassem da Europa Oriental e que a OTAN desfizesse sua presença em países como Polônia, Romênia, Finlândia e nos Estados Bálticos.
É difícil imaginar como Vivek, ou qualquer outro candidato que venha a ser eleito para a presidência, seria capaz de atender a essa demanda, sem ser crucificado pela mídia americana esquizofrênica ou pelo establishment político (ou "pântano", como chamou Trump) em Washington.
Seja como for, Ramaswamy acredita que, em separando russos e chineses, ele será capaz de promover os interesses globais de Washington, desfazendo a aliança eurasiática que hoje tanto preocupa a Casa Branca. A má notícia é que, seja quem for o próximo presidente americano, já é tarde demais para realizar essa manobra.
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