Quatro semanas antes de o Hamas atacar Israel, os líderes dos EUA, da UE e de seus aliados ocidentais participaram da cúpula do G20 em Nova Deli e pediram aos países em desenvolvimento para condenarem a operação militar da Rússia para manter o respeito à Carta da Organização das Nações Unidas (ONU), e à lei internacional.
No entanto, os Estados Unidos deram carta branca a Israel para atacar a Faixa de Gaza com força total e apoiaram Israel em sua decisão de restringir lá os suprimentos de água, eletricidade e gás, de acordo com o Financial Times.
Em uma cúpula de emergência por vídeo entre os líderes da UE na terça-feira (17), vários deles alertaram que a falta de apoio aos direitos palestinos na Faixa de Gaza poderia levar a acusações de hipocrisia contra países ocidentais.
Mais de uma dúzia de funcionários afirmou que a política dos EUA em relação a Gaza destruiu os esforços para chegar a um consenso com as principais nações do Sul Global, como a Índia, o Brasil e a África do Sul, sobre a necessidade de manter uma ordem global baseada no direito internacional, afirma a publicação.
"Perdemos definitivamente a batalha no Sul Global. Todo o trabalho que fizemos com o Sul Global [sobre a Ucrânia] foi perdido. […] Esqueçam as regras, esqueçam a ordem mundial. Eles nunca mais vão nos ouvir", disse um diplomata sênior do G7.
Os funcionários ocidentais foram acusados de não protegerem os interesses de 2,3 milhões de palestinos, apressando-se a condenar o ataque do Hamas e a apoiar Israel, segundo o artigo do jornal.
"Nova Deli, Jacarta e Brasília querem ver uma base comum sobre estas questões e coerência. E se não virem isso […] então, nas grandes questões globais, há certo perigo de a UE, o G7 e a OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte] não serem levados a sério", disse o ex-secretário-geral da OTAN, Jaap de Hoop Scheffer.
Os Estados árabes, especialmente a Jordânia e o Egito, insistiram para que as autoridades ocidentais endurecessem o tom em relação à proteção dos civis de Gaza, ressalta a publicação.
"Se você considera o corte de água, alimentos e eletricidade na Ucrânia um crime de guerra, então deveria dizer o mesmo sobre Gaza", disse um funcionário árabe.
Algumas autoridades europeias também estão insatisfeitas com a viagem da chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a Israel, onde ela expressou compaixão às pessoas afetadas pelo ataque do Hamas, mas não conseguiu transmitir os apelos para que as autoridades israelenses respeitassem o direito internacional em relação a Gaza.
Os países árabes do Oriente Médio acreditam, por sua vez, que os Estados Unidos e outros países ocidentais nunca responsabilizaram Israel pelo tratamento dado aos palestinos e não deram atenção suficiente aos conflitos na Síria, no Iêmen e na Líbia, segundo o artigo.
A Rússia e sua aliada China, por sua vez, têm relações calorosas com os palestinos.
Nos últimos dias, a Rússia tentou aprovar uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que condenasse a violência contra civis no conflito israelense-palestino sem mencionar especificamente o Hamas. Ela foi apoiada por apenas quatro países, o que significa que o Conselho de Segurança rejeitou a resolução.
A esse respeito, um diplomata ocidental sênior disse que, por causa disso, existe o risco de que na próxima votação da Assembleia Geral da ONU sobre o apoio à Ucrânia também "veremos um grande número de abstenções", escreve mídia.