Panorama internacional

Brasil confirma sessão de emergência na Assembleia Geral da ONU para discutir conflito em Gaza

O Brasil confirmou nesta sexta-feira (20) uma sessão de emergência na Assembleia Geral da ONU, que reúne os 193 países-membros da organização, para discutir a escalada do conflito entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza. O principal objetivo é discutir o veto dos EUA no Conselho de Segurança à criação de um corredor humanitário e a um cessar-fogo.
Sputnik
A expectativa é que a reunião seja feita na próxima segunda-feira (23).

"Foi informado à Presidência do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) [exercida pelo Brasil] que o Presidente da Assembleia Geral tem a intenção de convocar uma reunião formal do décimo período extraordinário de sessões de emergência da Assembleia Geral. Este anúncio se produz após o uso de um veto sobre o projeto de resolução sobre a situação no Médio Oriente, incluindo a questão Palestina", informou a missão brasileira.

A resolução brasileira foi votada pelo CSNU na última quarta-feira (18), quando teve o apoio de 12 dos 15 membros e a abstenção de outros dois — Rússia e Reino Unido. Porém os Estados Unidos foram os únicos que rejeitaram o projeto, por serem um dos membros permanentes e disporem da prerrogativa de veto. O texto previa a condenação dos atos de terrorismo praticados pelo Hamas contra Israel em 7 de outubro, o que levou este país a declarar estado de guerra, além de uma pausa humanitária para o fornecimento rápido de bens essenciais e a evacuação de toda a área em Gaza na porção norte.
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Conforme disse na data o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira, o encontro na ONU vai permitir que os "países façam um chamado a um cessar-fogo e à abertura de corredores humanitários no mais alto nível". Além disso, os Estados Unidos podem ser questionados sobre os motivos que levaram ao veto, inclusive por representantes palestinos. O Brasil segue na presidência do CSNU até o fim do mês.

"O projeto da presidência brasileira reuniu amplo apoio e foi aprovado por 12 dos 15 membros do Conselho de Segurança da ONU […] — o que reflete o alto grau de preocupação com a situação humanitária decorrente do conflito. A aprovação no Conselho requer o apoio de pelo menos nove de seus membros. Entretanto, o veto de um membro permanente do Conselho de Segurança levou à rejeição do projeto pelo Conselho de Segurança", pontuou o ministério na quarta.

Após a votação, Vieira disse ter ficado desapontado com a posição americana, já que foi realizado "todo o esforço possível" para a aprovação do projeto.
"Esse texto focava basicamente na cessão das hostilidades, no aspecto humanitário, criando uma passagem humanitária e que também estabelecia a possibilidade de envio de ajuda humanitária. Infelizmente não foi possível aprovar essa resolução. Ficou clara uma divisão de opiniões", disse também na quarta.
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País deve apresentar relatório sobre o veto

Ainda foi preparado pela missão brasileira um relatório sobre o veto dos EUA à proposta de resolução. O texto mostra como foi a postura de cada membro do conselho durante a votação e até nas discussões da questão, além do resultado que levou à rejeição. O número de mortos no conflito entre Israel e o Hamas já passa de 5,5 mil, conforme autoridades palestinas e israelenses, sendo metade mulheres e crianças. A maior parte das vítimas estava na Faixa de Gaza, que inclusive teve um de seus principais hospitais atingido por um bombardeio, que deixou 500 mortos.
Desde o início do conflito, Gaza sofre um duro bloqueio por terra, ar e mar por parte de Israel, o que impede a chegada de alimentos e até água. A energia elétrica também foi cortada. A única fronteira que não é controlada pelos israelenses, no Egito, sofre com bombardeios e segue fechada por conta da guerra. Segundo o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas (PAM), mais de 3 mil toneladas de insumos básicos aguardam para entrar no território, que tem quase 2,3 milhões de habitantes e uma das maiores taxas de vulnerabilidade social da região.

Tensões no Oriente Médio

Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral das Nações Unidas votou a criação de dois Estados — um judeu e um árabe — na margem ocidental do rio Jordão, ao mesmo tempo em que Jerusalém manteria o status de zona internacional.
Em 14 de maio de 1948, Israel declarou sua independência. Imediatamente depois, Egito, Síria, Jordânia, Líbano e Iraque começaram uma guerra contra o Estado recém-formado.
Durante a Guerra dos Seis Dias (1967), Israel ocupou a Faixa de Gaza e a Cisjordânia (margem ocidental do rio Jordão), incluindo Jerusalém Oriental. Surgiram as colônias de judeus em terra palestina, levando ao deslocamento em massa de palestinos.
Após a Primeira Intifada (manifestação de resistência dos palestinos contra as autoridades israelenses nos territórios ocupados, que durou de 1987 a 1993), foi assinado o acordo de paz de Oslo. Foi um período de transição de cinco anos. Era para começar com a redistribuição de tropas israelenses da Faixa de Gaza e Cisjordânia e terminar com a determinação do status final dos territórios palestinos.
Em 1996, a Palestina realizou suas primeiras eleições, e Yasser Arafat, então líder da Organização para a Libertação da Palestina, foi eleito presidente da Autoridade Nacional Palestina.
Em 2002, em meio à Segunda Intifada ou Intifada Al-Aqsa, os Estados Unidos, a União Europeia, a Rússia e as Nações Unidas propuseram um plano de paz denominado Roteiro para a Paz. Previa a retomada das negociações, a resolução do conflito e o estabelecimento de um Estado independente palestino.
Em 2005, Israel, unilateralmente, sem qualquer acordo político, retirou-se completamente da Faixa de Gaza.
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Em 25 de janeiro de 2006, eleições legislativas foram realizadas pela segunda vez. Duas organizações se destacaram: o Hamas ganhou a maioria dos assentos (80), enquanto o Fatah levou 43 assentos no Conselho Legislativo Palestino.
Em junho de 2007, houve um conflito militar na Faixa de Gaza entre as duas frentes. O Hamas assumiu o controle total do território de Gaza, depois de expulsar a maioria dos ativistas do Fatah (que não era mais governo).
Em 29 de novembro de 2012, a Palestina recebeu o status de Estado observador nas Nações Unidas, evento que é amplamente considerado o reconhecimento de fato do Estado palestino pela comunidade internacional.
As tensões escalaram mais uma vez, drasticamente, quando, em 2018, o então presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou o reconhecimento de Jerusalém como a capital israelense e transferiu a Embaixada dos EUA para lá.
Como resultado de ataques de foguetes a partir da Faixa de Gaza, Israel vem realizando operações contra a infraestrutura do Hamas desde 2008, tendo sido a última em maio de 2023.
Países como Rússia e Brasil têm pedido às duas partes em conflito que cheguem a um cessar-fogo e retornem à mesa de negociações.
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