Os dois presidentes teriam um encontro na quarta-feira (18), na Jordânia, junto com outras autoridades do mundo árabe, mas o compromisso foi cancelado após o ataque a um hospital em Gaza que deixou pelo menos 471 mortos. Israelenses e palestinos culparam uns aos outros pela explosão.
A agência de notícias Kan relatou que a equipe do presidente americano tentou organizar a conversa entre os líderes, mas sem sucesso.
No último sábado (14), Abbas e Biden chegaram a falar também por telefone, quando o líder palestino recebeu a promessa americana de se comprometer a "levar assistência humanitária urgentemente ao povo palestino".
Há 14 dias a Faixa de Gaza sofre bloqueio por Israel, que não permite a entrada de itens básicos, como alimentos, água e até energia elétrica. Nesta sexta, o país disse que vai autorizar o início da ajuda humanitária através da fronteira do território com o Egito.
Biden reforça apoio a Israel
Depois de ver a cúpula na Jordânia ser cancelada por conta do bombardeio ao hospital, o presidente Joe Biden passou a quarta reunido com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Durante o encontro, o americano reforçou a versão do país de que a responsabilidade do ataque foi de um braço radical do Hamas.
Já no mundo árabe, Egito, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, entre outros países, passaram a registrar diversos protestos em apoio ao povo palestino e contra os ataques intensos de Israel. O número de mortos no conflito já passa de 5,5 mil, segundo as autoridades israelenses e palestinas.
Pessoas marcham durante protesto pró-palestino no campo de refugiados palestinos Yarmuk, ao sul de Damasco, Síria, em 20 de outubro de 2023
© AFP 2023 / Louai Beshara
Cúpula vai discutir paz na região
No sábado (21), há expectativa para a realização da Cúpula da Paz do Cairo, com presidentes e representantes de quase 20 países para discutir o conflito, um dos mais intensos no mundo nas últimas décadas. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, já está no país.
O presidente da Palestina, Mahmoud Abbas, também deve participar do encontro, que vai reunir ministros, reis, presidentes e autoridades de União Europeia, Jordânia, Bahrein, Kuwait, Itália, Espanha, Brasil, Grécia, Chipre, África do Sul, Alemanha, França, Japão, Reino Unido e Noruega. Não há expectativa de participação de Israel e Estados Unidos.
Assembleia Geral da ONU deve discutir conflito
Na sequência, uma sessão emergencial da Assembleia Geral da ONU foi convocada para a próxima segunda-feira (23) — a organização reúne 193 países-membros. Além de discutir a escalada do conflito entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza, o encontro vai falar sobre o veto dos Estados Unidos à resolução brasileira no Conselho de Segurança que previa a criação de um corredor humanitário no território e também um cessar-fogo.
Israel declarou guerra ao Hamas após os episódios do dia 7 de outubro, quando foguetes palestinos driblaram os sistemas de defesa israelenses e atingiram várias cidades. Ainda houve invasão do país pela fronteira na porção sul, quando centenas de pessoas foram assassinadas e mais de 200 sequestradas.
Histórico de conflitos no Oriente Médio
Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral das Nações Unidas votou a criação de dois Estados — um judeu e um árabe — na margem ocidental do rio Jordão, ao mesmo tempo em que Jerusalém manteria o status de zona internacional.
Em 14 de maio de 1948, Israel declarou sua independência. Imediatamente depois, Egito, Síria, Jordânia, Líbano e Iraque começaram uma guerra contra o Estado recém-formado.
Durante a Guerra dos Seis Dias (1967), Israel ocupou a Faixa de Gaza e a Cisjordânia (margem ocidental do rio Jordão), incluindo Jerusalém Oriental. Surgiram as colônias de judeus em terra palestina, levando ao deslocamento em massa de palestinos.
Após a Primeira Intifada (manifestação de resistência dos palestinos contra as autoridades israelenses nos territórios ocupados, que durou de 1987 a 1993), foi assinado o acordo de paz de Oslo. Foi um período de transição de cinco anos. Era para começar com a redistribuição de tropas israelenses da Faixa de Gaza e Cisjordânia e terminar com a determinação do status final dos territórios palestinos.
Em 1996, a Palestina realizou suas primeiras eleições, e Yasser Arafat, então líder da Organização para a Libertação da Palestina, foi eleito presidente da Autoridade Nacional Palestina.
Em 2002, em meio à Segunda Intifada ou Intifada Al-Aqsa, os Estados Unidos, a União Europeia, a Rússia e as Nações Unidas propuseram um plano de paz denominado Roteiro para a Paz. Previa a retomada das negociações, a resolução do conflito e o estabelecimento de um Estado independente palestino.
Em 2005, Israel, unilateralmente, sem qualquer acordo político, retirou-se completamente da Faixa de Gaza.
Em 25 de janeiro de 2006, eleições legislativas foram realizadas pela segunda vez. Duas organizações se destacaram: o Hamas ganhou a maioria dos assentos (80), enquanto o Fatah levou 43 assentos no Conselho Legislativo Palestino.
Em junho de 2007, houve um conflito militar na Faixa de Gaza entre as duas frentes. O Hamas assumiu o controle total do território de Gaza, depois de expulsar a maioria dos ativistas do Fatah (que não era mais governo).
Em 29 de novembro de 2012, a Palestina recebeu o status de Estado observador nas Nações Unidas, evento que é amplamente considerado o reconhecimento de fato do Estado palestino pela comunidade internacional.
As tensões escalaram mais uma vez, drasticamente, quando, em 2018, o então presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou o reconhecimento de Jerusalém como a capital israelense e transferiu a Embaixada dos EUA para lá.
Como resultado de ataques de foguetes a partir da Faixa de Gaza, Israel vem realizando operações contra a infraestrutura do Hamas desde 2008, tendo sido a última em maio de 2023.
Países como Rússia e Brasil têm pedido às duas partes em conflito que cheguem a um cessar-fogo e retornem à mesa de negociações.