Panorama internacional

Fracasso do Ocidente em 'apelo unificado' por cessar-fogo em Gaza impulsiona escalada regional

Embora vários grupos de resistência tenham disparado contra alvos dos EUA e de Israel fora da crise israelo-palestina, uma luta regional mais séria pode vir a se desenvolver à medida que Tel Aviv continua a rejeitar as exigências de um cessar-fogo e segue atacando a Faixa de Gaza, disseram especialistas à Sputnik.
Sputnik
Pela segunda vez desde que Israel declarou estar em guerra com o Hamas, no início do mês passado, o grupo rebelde iemenita Ansar Allah, mais conhecido como movimento houthi, lançou mísseis e drones contra Israel na terça-feira (31), com vários projéteis sendo abatidos na altura da cidade de Eilat, ao sul do país judeu. No entanto o general Yahya Saree, porta-voz do grupo, afirmou que pelo menos um dos disparos atingiu o alvo.
Durante o seu conflito de oito anos com a coligação liderada pelos sauditas no Iêmen, o Ansar Allah demonstrou a sua capacidade de atacar alvos a centenas de quilômetros de distância usando mísseis balísticos e drones kamikaze, incluindo instalações petrolíferas da Saudi Aramco que eram defendidas por sistemas antiaéreos norte-americanos.
O ataque a Eilat é o mais recente de uma série de incidentes que visam bases israelenses ou norte-americanas na região. Entre as hostilidades com potencial de alastramento, há os ataques a tropas dos EUA na Síria e no Iraque por milícias locais e as investidas trocadas entre Israel e o Hezbollah ao longo da fronteira Israel-Líbano. Os israelenses também já atingiram alvos no Líbano e na Síria.
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O professor associado adjunto da Universidade Georgetown, no Catar, Luciano Zaccara, também professor associado de pesquisa em política do Golfo na Universidade do Catar, disse à Sputnik que a declaração do Ansar Allah "ressalta" como o conflito entre Israel e o Hamas, que governa a Faixa de Gaza, se tornou internacional.
"Essa evolução destaca a incapacidade dos governos regionais e das potências internacionais de mediar, mesmo que seja um cessar-fogo humanitário temporário, essencial para evitar mais devastação em Gaza e garantir a libertação de reféns."

"Embora países como o Irã, o Catar e a Turquia tenham tentado a mediação — como provado pelas duas visitas do [Hossein] Amirabdollahian [ministro das Relações Exteriores iraniano] a Doha, para se encontrar com [Ismail] Haniyeh [chefe do gabinete político do Hamas], e pelas três visitas a Ancara, bem como pela comunicação direta entre [Ebrahim] Raisi [presidente iraniano] e [Mohammed bin] Salman [príncipe herdeiro saudita] —, os EUA, o Reino Unido e a União Europeia ainda não apresentaram um apelo unificado para que Israel interrompa a sua ofensiva em Gaza, apesar das visitas do [Joe] Biden [presidente dos EUA], da [Ursula] Von der Leyen [presidente da Comissão Europeia] e do [Rishi] Sunak [primeiro-ministro do Reino Unido] a Tel Aviv", disse ele.

"Dado esse cenário, as ameaças, especialmente do Irã, relacionadas à mobilização do Eixo da Resistência […] estão se tornando cada vez mais tangíveis, especialmente tendo-se em conta a aparente paralisia dos Estados árabes em geral face à escalada das ações israelenses em Gaza."
O escopo cada vez maior dos ataques "prejudica diretamente os interesses de outros países que não Israel, incluindo os Estados Unidos e a Arábia Saudita", disse à Sputnik o professor de estudos do Oriente Médio na Universidade Ben-Gurion do Negev, em Israel, Yoram Meital.
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Mehmet Rakipoglu, pesquisador de assuntos internacionais no think tank Dimensions for Strategic Studies, com sede em Londres, disse que para muitos grupos em toda a região, expressar apoio à Palestina é "mais retórica". Ele observou, no entanto, que se Israel "conseguir ganhos sérios na operação terrestre em Gaza", isso ainda poderá ser suficiente para desencadear uma guerra regional.
A guerra começou no dia 7 de outubro, quando o Hamas fez um ataque-surpresa com foguetes, em grande escala, que atingiu o território de Israel. Além disso, militantes atravessaram a fronteira pela região sul e provocaram milhares de mortes, além de sequestrar mais de 220 pessoas. Uma das regiões mais pobres do mundo, Gaza tem mais de 80% da população na pobreza e sofre um bloqueio israelense por terra, ar e mar desde 2007.
Segundo dados recentes do Ministério da Saúde de Gaza, mais de 8,5 mil pessoas perderam a vida na ofensiva de Israel — 63% delas mulheres e crianças. Quase 3,5 mil crianças foram mortas, e pelo menos 6,3 mil estão órfãs.
No final da semana passada, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou a abertura de uma "terceira fase" da guerra: uma invasão terrestre da Faixa de Gaza por mais de 300 mil soldados das Forças de Defesa de Israel (FDI), intensificando o bloqueio contra Gaza.
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