O que impulsiona o Brasil a estreitar relações comerciais com o Sudeste Asiático?
17:03, 6 de novembro 2023
Redação
Equipe da Sputnik Brasil
Para além das relações diplomáticas, nos últimos meses o Brasil vem estreitando as relações comerciais com os países que compõem o BRICS, além de nações localizadas no continente africano e na Ásia — a região asiática com destaque. Afinal, a China lidera o ranking entre os parceiros mercantis do Brasil.
SputnikSó no ano de 2021, a China figurou como o oitavo maior investidor no Brasil e o primeiro da Ásia, superando na lista o Japão, a Coreia do Sul e a Índia.
O
investimento estrangeiro direto (IED) chinês no Brasil aumentou em US$ 7,1 bilhões (equivalente a R$ 34,7 bilhões) em relação a 2020, representando um crescimento de 31%.
1 de novembro 2023, 17:55
Mas qual a relação entre Brasil e Ásia?
Nesse movimento, que toma cada vez mais números e corpo, a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) figura como rota brasileira.
A Indonésia é um exemplo desse novo percurso de lucro comercial. A aproximação das nações que fogem da rota tradicional, conforme pontuam analistas ouvidos pela
Sputnik Brasil, é um novo olhar para as outras potências comerciais, em especial do Sul Global.
Com início no domingo (5),
o governo brasileiro participa da China International Import Expo (CIIE), maior feira multissetorial do país, que reúne 23 empresas brasileiras de alimentos e bebidas e que segue até próxima sexta (10).
Para Bianor Teodósio, mestre em ciência política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com MBA em economia e gestão empresarial pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o
alinhamento com novas economias que "fogem do padrão"
é sempre bem-vista. Ele salienta que tal característica
pulveriza o mercado.
"A ligação e a aproximação de mercado com outros países, a exemplo da Indonésia, faz com que o Brasil figure ainda mais como uma opção para a exportação, para além do mercado tradicional, pulverizando a nossa forma de fazer e gerar economia", frisa à Sputnik o economista e cientista político.
Brasil e Indonésia: qual fator os aproxima?
De acordo com Teodósio, a Indonésia é um Estado com renda per capita e biodiversidade extensas, ambas muito próximas do Brasil. Devido a essas semelhanças, isso faz com que os dois países consigam se aproximar bastante.
"Qualquer abertura comercial é uma oportunidade para o Brasil", frisa Bianor Teodósio.
Bruno Hendler, doutor em economia política internacional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), coordenador do Grupo de Estudos em Ásia-Pacífico (GEAP), da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e pesquisador membro do grupo de pesquisa LabChina, também da UFRJ, pontuou traços sobre as relações entre Brasil e Indonésia, destacando oportunidades e desafios para ambas as nações.
"A Asean como bloco é muito atrativo para o Brasil; são mercados consumidores muito grandes, e a Indonésia dentro da Asean é o carro-chefe por causa da sua escala. Em termos de comércio, você tem exportações de valor agregado mais altas do Brasil para a Indonésia, mas para outros países também", pontua.
Segundo o especialista, além do viés comercial, outro ponto que aproxima as nações são as características climáticas, já que tanto o Brasil quanto a Indonésia possuem florestas tropicais.
"Brasil e Indonésia têm se alinhado muito na agenda ambiental. Junto com o Congo, as três maiores florestas tropicais do mundo estão localizadas nesses três países. Há questões de afinidade", ressalta.
Para Igor Celeste, gerente de inteligência da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), a Asean é uma região prioritária para a atuação da agência em promoção de exportações e investimentos.
''Nos últimos dez anos, o fluxo comercial entre o Brasil e a Asean praticamente dobrou, o que ilustra a magnitude de oportunidades de negócios que temos com esse mercado. O forte dinamismo econômico dos países do Sudeste Asiático explica o crescente interesse do setor privado brasileiro pela região. Segmentos dos setores de alimentos, bebidas e agronegócios (proteína animal, etanol, café etc.), moda (couro e partes de calçados) e saúde (fármacos e medicamentos) têm grande foco na região'', pontuou Celeste.
Como é a relação entre Brasil e China?
O copresidente do LIDE China, José Ricardo, pontua as crescentes oportunidades na parceria econômica entre Brasil e China, destacando o papel das feiras e a importância de explorar áreas como tecnologia e sustentabilidade.
3 de novembro 2023, 15:27
José Ricardo enfatizou a crescente participação do empresariado brasileiro e das autoridades na CIIE, descrevendo-a como a principal feira de importação da China, onde o país asiático busca adquirir produtos do mundo inteiro.
Além da CIIE, ele mencionou outras feiras, como a SIAL, focada em produtos agrícolas, e a Canton Fair, voltada para a exportação de produtos fabricados na China.
"O empresariado brasileiro, junto com as autoridades, tem organizado uma série de comitivas intensificando essa parceria [Brasil × Ásia e Sudeste Asiático]. Inclusive porque nós [Brasil e China] temos um potencial enorme na parte de exportação de alimentos, não só de alimentos agrícolas, como commodities, [mas] de forma geral. Mas é importante dizer que, dentro dessa exportação de produtos agrícolas, nós temos muita tecnologia empregada", explica o CEO do LIDE China no Brasil.
O representante do empresariado apontou para a mudança no eixo econômico global, observando que a Ásia representa um grande potencial de negócios e investimentos para o Brasil.
O país sul-americano tem tomado a liderança em diversas frentes internacionais, incluindo o G20 e o BRICS.
"O eixo da Terra mudou. A gente tem percebido que a Ásia tem um grande potencial para a aproximação do Brasil em termos de negócios, em termos de investimentos. E o Brasil, hoje, tem tomado a liderança em diversos mecanismos internacionais, não só com o G20, não só com a relação sino-brasileira, mas também, por exemplo, com o BRICS", reforça.
A visão do executivo inclui o destaque para a liderança do Brasil na tecnologia de energia limpa, como a energia eólica, a energia solar e o hidrogênio verde.
Ele observou que, embora haja desafios a serem superados,
a intensificação do diálogo, o intercâmbio e a participação em feiras e debates internacionais são formas eficazes de enfrentá-los.
Ainda, finaliza reforçando que o Brasil está se tornando um ator de destaque nas relações internacionais, promovendo o desenvolvimento econômico inclusivo e a transição para fontes de energia mais limpas.
4 de novembro 2023, 12:36