Só em um ataque desta sexta-feira (10), pelo menos 13 pessoas morreram na maior estrutura do território palestino. A justificativa de Israel é que o Hamas usa as instalações para coordenar ataques e também como esconderijo, principalmente o hospital Al-Shifa, na cidade de Gaza.
No início do conflito, outro hospital também foi bombardeado e quase 500 palestinos morreram na ocasião sob o mesmo pretexto israelense. Já as autoridades do movimento negam as acusações.
E tudo isso tem deixado a população de quase 2,3 milhões de pessoas em Gaza cada vez mais vulnerável. "Não há lugar seguro, o Exército atingiu o Al-Shifa e não sei o que fazer", conta Abu Mohammad, de 32 anos, à AFP. O palestino está entre os mais de 1,6 milhão que precisavam sair de casa e, sem alternativa, procurava abrigo no hospital, que inclusive está cercado por tanques israelenses. "Temos medo de sair", afirmou.
Em meio aos ataques, o hospital Al-Shifa também havia recebido corpos de mais de 50 mortos por conta de um bombardeio à escola Al-Buraq. Conforme a Sociedade do Crescente Vermelho, atiradores de elite das Forças de Defesa de Israel (FDI) também atingiram o hospital Al-Quds, com pelo menos uma pessoa morta.
Na Faixa de Gaza, a quantidade de mortos já ultrapassa 11 mil, sendo a maioria mulheres e crianças. Apesar disso, Israel não fala em cessar-fogo e ainda disse que vai matar os militantes do Hamas se forem vistos "atirando de hospitais", informou o porta-voz militar Richard Hecht.
"Na noite passada, eu não estava otimista de que qualquer um dos meus filhos ou eu sairíamos ilesos, dada a intensidade dos bombardeios e dos tiros", disse Jawad Haruda. Ele estava entre os milhares de palestinos que fogem em êxodo da cidade de Gaza, onde os ataques são mais intensos, para o sul. "Não podíamos esperar pela manhã, e todos no hospital Al-Shifa saíram", enfatizou.
Exército forçou a saída dos desabrigados
Centenas de pessoas abrigadas no hospital Al-Rantisi, também na cidade de Gaza, foram obrigadas a fugir da unidade pelo Exército israelense após um cerco com veículos blindados. Por diversas vezes, a Organização das Nações Unidas (ONU) alertou que as unidades estão em colapso, com falta até de anestesias para a realização de cirurgias. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) acrescentou que o sistema de saúde chegou a um "ponto sem retorno" por conta da destruição promovida pelo país judeu.
Uma das regiões mais densamente povoadas do mundo, a Faixa de Gaza já vivia um bloqueio por terra, mar e ar de Israel desde 2007. Pelo menos 80% da população vive na pobreza e é extremamente dependente de ajuda humanitária, que antes do conflito enviava pelo menos 500 caminhões por dia, número que durante a guerra foi atingido em duas semanas.
Conforme a ONU, a destruição de bairros inteiros "não é uma resposta para os crimes atrozes cometidos pelo Hamas". Em um artigo de opinião, o chefe da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA), Philippe Lazzarini, disse que a ofensiva israelense cria "uma nova geração de palestinos injustiçados que provavelmente continuarão o ciclo de violência".
"Chega de destruição, não há mais nada. Precisamos de um cessar-fogo para ver o que acontecerá conosco, um cessar-fogo para trazer remédios ou ajuda aos hospitais", disse Mohammed Khader, que foi deslocado em Rafah. "Esses hospitais agora estão cheios de pessoas deslocadas, e não apenas feridos e mártires", acrescentou. Conforme o dirigente, mais de 100 pessoas que atuavam na agência morreram por conta da guerra, entre pais, professores, enfermeiros, médicos e pessoal de apoio.
Por diversas vezes, o premiê Benjamin Netanyahu afirmou que o cessar-fogo seria uma rendição ao Hamas e "ao terror". Além disso, admitiu que Israel tem planos de ocupar Gaza, com a justificativa de dar "um futuro melhor".