As tempestades são ainda piores para os palestinos que estão em abrigos improvisados — quase 1,6 milhão de pessoas foram obrigadas a deixar suas casas por conta dos ataques israelenses. Nos locais há pouca comida e a água potável é insuficiente.
Em relato à AFP, Ayman al-Jueidi, que precisou se instalar no pátio de uma escola da Organização das Nações Unidas (ONU) em Rafah, na fronteira de Gaza com o Egito, disse que as lonas impermeáveis não são suficientes para evitar que os abrigos improvisados sejam afetados pela chuva e muitos estão usando até sacolas plásticas.
"Estamos completamente encharcados, todas as nossas roupas, colchões, cobertores também, nem mesmo um cachorro conseguiria viver assim", relata. Vestida apenas com uma camiseta fina, ela teme também pelos filhos, já que os temporais fizeram o clima esfriar. "Eu não tenho nada para eles trocarem, vão ficar doentes", disse.
Além disso, ela conta que a família não consegue comida suficiente para matar a fome há três dias. Segundo a ONU, são fornecidas latas de comida e biscoitos, que não são suficientes para a quantidade de pessoas deslocadas. Enquanto isso, a ajuda humanitária chega a conta-gotas e só pouco mais de 500 caminhões conseguiram atravessar a fronteira nas últimas três semanas. A necessidade diária é de pelo menos 300.
"Não tínhamos água, e de repente estávamos afogados", disse Souha Hassan, que vive sob uma tenda desde o primeiro dia da guerra, em 7 de outubro. Na ocasião, o lançamento de foguetes contra Israel pelo Hamas, que conseguiram driblar o sistema de defesa, levou o país judeu a iniciar o conflito em Gaza. Em pouco mais de cinco semanas, o número de palestinos mortos na região passa de 11,5 mil.
700 pessoas dividem um chuveiro
Só nas escolas mantidas pela ONU no sul de Gaza, cerca de 6 mil pessoas deslocadas vivem em abrigos improvisados como os de Souha e Juedi. Há locais em que até 700 pessoas compartilham o mesmo chuveiro, o que deixou palestinos há vários dias sem poder tomar banho.
A falta de combustível no território pode fazer a ONU paralisar todas as suas operações até quarta-feira (15), aumentando ainda mais a vulnerabilidade da população civil. Ainda há risco de uma crise de cólera, doença que é transmitida pela água contaminada.
"Nas próximas 48 horas tudo para, não há nada que possamos fazer", disse o chefe da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA, na sigla em inglês) em Gaza, Thomas White.
Inverno próximo
Sem sinais de um cessar-fogo por Israel, Souha Hassan teme que o pior ainda esteja por vir. "Não temos roupas de inverno porque saímos de casa sem nada, e agora todas as nossas coisas estão encharcadas. E isso é apenas o começo. O que acontecerá no inverno, quando a chuva será ainda mais forte? Nossos filhos já estão fracos porque não comem o suficiente, será terrível", alegou.
Apesar dos riscos, algumas pessoas tentavam aproveitar a chuva para recolher água, enquanto outra tentava bloquear um filete que caía sobre uma mulher assando pão em uma pequena fogueira de madeira. Completamente cercada por Israel, que não permite nem a entrada de alimentos, na região sacos de farinha estão sendo vendidos por quase US$ 200 (R$ 973).
Muitos países já apelaram a Israel e ao Hamas para que cessem as hostilidades e negociem um cessar-fogo, além de uma solução de dois Estados como a única forma possível de alcançar uma paz duradoura na região.