Panorama internacional

EUA ignoram 'crimes de guerra' israelenses contra Gaza na política interna, diz ex-funcionário

Diante de ataques diários que não poupam sequer hospitais, escolas e abrigos da Organização das Nações Unidas (ONU), o ex-funcionário do Departamento de Estado Josh Paul, que renunciou ao cargo em protesto, disse nesta quarta-feira (15) à AFP que os Estados Unidos ignoram intencionalmente os "crimes de guerra" de Israel na Faixa de Gaza.
Sputnik
A escalada das tensões levou até a uma operação no maior hospital de Gaza, o Al-Shifa, quando militares das Forças de Defesa de Israel (FDI) invadiram as instalações internas sob a justificativa de procurarem armas e membros do Hamas. No último mês, Josh Paul provocou alvoroço em Washington após pedir demissão do governo em protesto contra o apoio norte-americano ao conflito israelense.
Segundo ele, apesar de muitos funcionários estarem perturbados com as ações militares de Israel na ofensiva contra Gaza, que começou em 7 de outubro, após um ataque surpresa do Hamas, "fecham os olhos para as regras que regem as transferências de armas" mesmo com a intenção de violarem o direito internacional.
Paul atuou na supervisão das transferências de armas para aliados dos EUA, como Israel, por 11 anos. "É minha opinião que Israel está cometendo crimes de guerra em suas ações em Gaza agora. E não é apenas minha opinião. Eu realmente ouvi de funcionários em todo o governo, incluindo autoridades eleitas em um nível muito alto, que compartilham essa opinião, mas não estão dispostos a dizê-la em público", afirmou.

Assunto delicado na política norte-americana

O ex-funcionário pontuou ainda que criticar Israel é "frequentemente visto como um assunto delicado na política americana, especialmente no Congresso". Por conta disso, os servidores federais não podem dizer em público "o que acreditam em particular".
Cerca de 11,5 mil palestinos morreram só na Faixa de Gaza durante o conflito que já dura cinco semanas, a maior parte mulheres e crianças. Já em Israel, 1,2 mil pessoas foram mortas durante a invasão do Hamas pela fronteira da região Sul. Inicialmente, foram divulgados 1,4 mil, mas 200 pessoas foram consideradas terroristas pelo governo israelense.
Mesmo com as críticas internacionais, inclusive da ONU, que declarou estar "horrorizada" com as ações de Tel Aviv, Washington segue como fiel aliado do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Inclusive há um reforço no fornecimento de armas ao Exército do país.
"Não havia espaço para qualquer discussão ou debate em torno dessa preocupação [interromper o fornecimento de armas], como havia sido em todas as outras questões em que estive envolvido anteriormente no bureau [...] Estávamos apenas sendo instruídos a mover as armas o mais rapidamente possível", alegou.
Além disso, Paul criticou as regras para essas transferências de armamentos, que, conforme ele, são frouxas. Os EUA também têm registrado diversos protestos e debates por conta do apoio do país à Israel na guerra. No último fim de semana, centenas de pessoas foram em marcha até as proximidades do presidente Joe Biden. Para o ex-funcionário, a situação no país é parecida com a tensão antes da invasão do Iraque em 2003.
Mas ele alertou que renunciar não era uma opção para a maioria dos funcionários do governo, que não podem arriscar perder seus cuidados de saúde ou salários. "Há o risco de ser um assassino de carreira se você renunciar a esse problema específico", disse.
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'Motim' na Casa Branca

Funcionários do Departamento de Estado prepararam em outubro um manifesto dissidente contra o forte apoio dos EUA às operações de Israel em Gaza, com alguns dos servidores temendo que o governo Biden estivesse acobertando o uso excessivo de força contra os palestinos, informou o HuffPost citando autoridades do governo.
"Há basicamente um motim fermentando dentro do Estado em todos os níveis", disse um funcionário do Departamento de Estado à publicação.
Alguns funcionários acreditam que o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e os seus conselheiros sêniores não estão interessados nos conselhos dos próprios especialistas do Departamento de Estado. Eles também têm a sensação de que os EUA não vão agir para conter as ações israelenses, afirma a reportagem.
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