Xi Jinping, presidente da China, demonstrou a Joe Biden que o líder dos EUA não está ao seu nível, avaliou um jornalista e especialista em geopolítica em declarações à Sputnik.
Pepe Escobar referiu o incidente do presidente norte-americano ter chamado seu homólogo chinês de "ditador" e a resposta do Ministério das Relações Exteriores da China como reveladora da atmosfera no encontro em São Francisco, na Califórnia. A chancelaria chamou as declarações de "extremamente erradas" e "uma manipulação política irresponsável".
Durante o encontro, foram feitas propostas de "diálogo e cooperação em vários campos"; um diálogo intergovernamental sobre a inteligência artificial (IA), a cooperação no controle de drogas, o retorno às conversas de alto nível entre militares, um "mecanismo de consulta sobre segurança marítima", o aumento significativo de voos até o início de 2024, a "expansão de intercâmbios" em educação, de estudantes internacionais, cultura, esportes e círculos de negócios.
No entanto, sublinha Escobar, a China já é há algum tempo a maior economia em paridade de poder de compra e avança rapidamente na corrida à tecnologia, mesmo sob duras sanções dos EUA. Além disso, seu poder brando sobre o Sul Global, ou a Maioria Global, aumenta a cada dia, e promove a visão da multipolaridade com a Rússia.
Fora da declaração oficial de Washington, Pequim também rejeitou a ideia dos gestores de Biden transmitida a ele de recusar a recepção de petróleo do Irã que, nota o especialista, só está aumentando. Xi sabe que o hegêmono roda fronts de guerra híbrida pelo mundo afora, como em Taiwan, Filipinas, Japão, Coreia do Sul e Índia no momento em que quiser, e não cairá em tais armadilhas, diz o analista.
Apenas 2 opções para a China e os EUA
O professor de Xangai, Chen Dongxiao, acredita que a China e os Estados Unidos devem buscar um "pragmatismo ambicioso". Essa foi a principal mensagem do discurso de Xi em São Francisco.
"A China e os EUA têm duas opções em uma era de transformação global sem precedentes no século passado: uma delas é fortalecer a solidariedade e a cooperação, unindo as mãos para resolver os problemas globais e garantir a segurança e a prosperidade globais; a outra é aderir a uma mentalidade de soma zero, provocar rivalidade e confronto e levar o mundo à agitação e à divisão", disse Chen Dongxiao.
"Essas duas opções apontam para duas direções diferentes que determinarão o futuro da humanidade e do planeta Terra", resumiu o especialista.
Escobar concorda com a opinião de Xi de que a China não está engajada em pilhagem colonial, não pretende substituir os EUA na arena internacional e que, por isso, Washington não deve tentar suprimir Pequim.
Apetite das empresas estrangeiras pela China
Pepe Escobar referiu, ainda, a grande vontade de empresas como Microsoft, Citigroup, ExxonMobil e Apple de se encontrarem com países da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC, na sigla em inglês), "especialmente da China". Assim, foi organizado um jantar de negócios com preços para bilhetes que variavam entre US$ 2 mil (R$ 9.788) e US$ 40 mil (R$ 195.756), organizado pelo Comitê Nacional de Relações Estados Unidos-China (NCUSCR, na sigla em inglês) e pelo Conselho Empresarial EUA-China (USCBC, na sigla em inglês).
Tal situação ocorre porque a Ásia-Pacífico, "não o Indo-Pacífico, uma jogada vazia de 'ordem internacional baseada em regras' sobre a qual ninguém sabe nada, muito menos usa em qualquer lugar da Ásia", conta com quase 40% da população global, e concentrará ao menos dois terços do crescimento global em 2023, nota ele.
Enquanto isso, "os chefões das empresas sabiam de antemão que os EUA haviam optado por não participar do Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica (CPTPP, na sigla em inglês), e que a nova jogada comercial, a chamada Estrutura Econômica Indo-Pacífica (IPEF, na sigla em inglês), está basicamente morta antes de viver. A IPEF pode lidar com questões da cadeia de suprimentos, mas não atinge o cerne da questão: tarifas mais baixas e amplo acesso ao mercado", sublinha o especialista.