"Grande parte do trabalho não foi feito pelos Estados Unidos ou por Joe Biden pessoalmente, mas pelo Catar", disse Mehran Kamrava, professor no campus do Catar da Universidade de Georgetown.
As negociações foram realizadas pelo primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdul Rahman Al Thani, pelo ministro das Relações Exteriores e por "funcionários presentes no local", afirmou o acadêmico, acrescentando que Doha foi responsável "por grande parte das negociações difíceis", não os Estados Unidos.
22 de novembro 2023, 16:08
Doha citou gentilmente o apoio egípcio e dos EUA durante as negociações como um fator do seu sucesso, mas os responsáveis de Washington e dos meios de comunicação social dos Estados Unidos iniciaram imediatamente uma campanha de autoengrandecimento destinada a falar da importância do papel "secreto" do presidente Biden, que teria se envolvido "diretamente e pessoalmente" nas negociações.
"A administração dos EUA se envolveu para parecer que era a favor daquilo a que chamam uma 'pausa humanitária' ou um 'cessar-fogo'. Na verdade, a administração dos EUA se recusou firmemente a pôr fim ao genocídio palestino realizado pelo governo israelense", enfatizou Kamrava.
O acadêmico acredita que os EUA só aderiram às negociações de cessar-fogo porque os custos políticos para Biden estavam "ficando extremamente caros", com o ex-presidente Donald Trump projetado para vencer as eleições do ano que vem, segundo recentes pesquisas.
"Precisamos estar conscientes do fato de que tudo o que o governo [dos EUA] faz, incluindo exagerar o seu trabalho e os seus esforços para libertar reféns civis, tem como objetivo final o resultado eleitoral."
"Quando [o presidente russo Vladimir] Putin diz que Biden tem tentado monopolizar as negociações, ele está, de certa forma, correto", disse Kamrava. "O que Biden está tentando fazer é reivindicar o crédito pelo difícil trabalho realizado pelo governo do Catar."