Panorama internacional

Especialista explica por que a relação entre Javier Milei e EUA lembra 'um amor não correspondido'

O presidente eleito argentino Javier Milei escolheu os Estados Unidos como o primeiro país a visitar, no âmbito de sua intenção de estreitar os laços com Washington. Em diálogo com a Sputnik, o analista Juan Alberto Rial alertou que a simpatia do argentino por Donald Trump "não poderia funcionar a seu favor" na sua relação com Joe Biden.
Sputnik
Conforme havia anunciado, os Estados Unidos foram o primeiro país visitado pelo presidente eleito argentino Javier Milei antes mesmo de assumir o cargo de novo governante do país sul-americano.
Milei chegou a Nova York na manhã do dia 27 de novembro, acompanhado por uma delegação composta pelo que será seu ministro da Economia, Luis Caputo, seu chefe de gabinete, Nicolás Posse, e sua irmã e principal assessora Karina Milei. Embora a primeira parada tenha sido o túmulo do rabino Menachem Mendel Schneerson para uma "visita espiritual", o restante da agenda será concluído em Washington, onde a equipe de Milei busca iniciar contatos com a presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, e com líderes norte-americanos.
Em diálogo com a Sputnik, o analista de Relações Internacionais, Juan Alberto Rial, considerou que a escolha dos Estados Unidos como primeiro destino após ser eleito ratifica uma "mudança decidida na política externa para fazer do Ocidente a sua principal opção e onde a Argentina tem de encontrar os interlocutores".
"É muito provável que haja uma harmonia significativamente melhor entre Milei e Washington do que entre Washington e os presidentes Néstor Kirchner [2003-2007], Cristina Fernández de Kirchner [2007-2015] e Alberto Fernández", previu o analista.
Nesse sentido, Rial considerou que pesa a favor desta ligação "a carga ideológica" do novo presidente eleito expressa durante a sua campanha eleitoral e centrada na "libertação dos fatores econômicos às leis do mercado". O desejo do novo presidente de se distanciar de países como a China e o Brasil, que considera "comunistas", também contribui para esta ligação.
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Mas, além disso, o compromisso de ter os EUA como principal aliado baseia-se, segundo Rial, na necessidade de Milei encontrar um aliado forte para os primeiros meses do seu governo em meio a um cenário de "enorme fragmentação política" e sem maioria no Congresso.
"Milei necessita de parcerias importantes e os EUA são uma das que o ajudarão a consolidar o seu poder como presidente eleito", resumiu o especialista. Agora, alguns elementos expressos nos últimos dias levam Rial a alertar que a ligação entre Milei e o governo dos EUA pode ser lida como um "amor não correspondido".
Entre eles estão a confirmação do presidente norte-americano, Joe Biden, de que não vai viajar a Buenos Aires para a cerimônia de posse no dia 10 de dezembro e algumas expressões oficiais nas quais a Casa Branca defendeu suas prioridades em termos de direitos humanos e políticas ambientais, fora da agenda do novo presidente argentino. Na verdade, o embaixador dos EUA na Argentina, Marc Stanley, admitiu durante uma entrevista ao El Diario Ar que "pode ser que tenhamos ideias diferentes sobre como enfrentar as alterações climáticas" e anunciou que é uma questão que pretende "abordar" antes de Milei.
O analista argentino também analisou como o plano de dolarização defendido por Milei não é bem-visto pelo establishment político norte-americano ou pelos responsáveis do FMI. Como se não bastasse, a disposição de Milei em apostar no intercâmbio comercial com os Estados Unidos, Rial lembra que é preciso compreender que "as economias dos dois países são mais competitivas do que complementares", dado que "tudo o que a Argentina pode vender, os EUA já produzem".
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Rial também destacou a relevância que poderia ter outro gesto de Milei que pode não ter caído bem na Casa Branca: a simpatia confessada do presidente eleito argentino pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump (2017-2021). Para o analista, os elogios de Milei a Trump "não funcionam a seu favor" em sua relação com Biden, algo que também aconteceu, como recordou, com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Neste quadro, Rial considerou que a relação entre a Argentina e os Estados Unidos só poderá encontrar o seu maior potencial no caso de Trump regressar à Casa Branca após as eleições de 2024.
"Talvez, e especialmente se Trump vencer as eleições, Milei possa fazer como Alberto Fernández fez com a Rússia em 2021 e propor que a Argentina se torne a porta de entrada dos EUA para a região", afirmou Rial.
O resto da agenda entre Milei e os EUA poderia se concentrar na resolução da dívida da Argentina com o FMI e no alinhamento de Buenos Aires em questões geopolíticas como a mudança da embaixada em Israel para Jerusalém ou o apoio à Ucrânia em seu conflito com a Rússia, apontou o analista.
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