Panorama internacional

Mídia: desencanto árabe-americano com estratégia de Biden para Palestina pode prejudicá-lo em 2024

Os eleitores árabes-americanos e muçulmanos americanos ficaram desencantados com o apoio do presidente Joe Biden a Israel em meio à guerra de Gaza e com a falta de sensibilidade às mortes de civis palestinos no enclave. Isso pode afetar negativamente as chances de reeleição de Biden, alerta a mídia dos Estados Unidos.
Sputnik
No início de novembro, pesquisas dos EUA indicaram que Joe Biden pode perder cinco grandes estados indecisos — Pensilvânia, Michigan, Geórgia, Arizona e Nevada — em 2024. Simultaneamente, os pesquisadores alertaram que o apoio ao presidente em exercício entre os eleitores não brancos também está diminuindo, culpando a idade de Joe, a capacidade de realizar seu trabalho e o fraco desempenho econômico de sua administração.
Entretanto, outra tendência que está ganhando força é que os eleitores árabes-americanos e muçulmanos americanos estão expressando insatisfação com o apoio de Biden a Tel Aviv ante o conflito israelo-palestino na Faixa de Gaza. Além disso, ameaçam não comparecer no dia das eleições ou, mesmo, votar contra Joe Biden.

"Estou dizendo aos árabes-americanos para não votarem nos dois principais candidatos. Votem negativamente, mas não votem em Biden, e especialmente não [votem] em Trump. Biden perdeu nosso voto, e vocês verão a mudança em Michigan e na Geórgia", disse Osama Siblani, editor do The Arab American News, o maior jornal árabe-americano dos Estados Unidos, à Axios.

Esta não é uma questão trivial, segundo os meios de comunicação norte-americanos. Se Biden for privado dos votos árabes e muçulmanos americanos, poderá ter seu resultado bastante afetado.
A mídia chamou a atenção para o fato de Biden ter vencido em 2020 devido às suas pequenas vitórias nos principais estados decisivos. Por exemplo, ele venceu em Michigan por 154 mil votos; no Arizona por 10.500 votos; e na Geórgia por 11.800 votos. A população árabe-americana dos estados chega a 278 mil em Michigan, 60 mil no Arizona e 57 mil na Geórgia. Isso significa que, mesmo que alguns desses árabes não votem em Joe, isso poderá significar problemas para ele.
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Entretanto, o número exato de árabes-americanos nos Estados Unidos não é claro. De acordo com o Departamento do Censo dos Estados Unidos, é de cerca de 2 milhões. No entanto, alguns pesquisadores dizem que o número real pode estar mais próximo de 3,8 milhões. Quando se trata da população muçulmana americana — que inclui árabes, africanos e asiático-americanos — é de cerca de 3,45 milhões, de acordo com o Pew Research Center.
Em 2020, árabes e muçulmanos americanos apoiaram Biden, pelo menos parcialmente, por causa das duras políticas migratórias de seu rival Donald Trump, apelidadas na época de "Muslim ban" (proibição muçulmana), ao abrigo das Ordens Executivas 13769 e 13780 assinadas por Trump em janeiro e março de 2017, respectivamente. O número de refugiados a serem admitidos nos EUA foi limitado, enquanto os requerentes de asilo com passaportes de sete países de maioria muçulmana foram proibidos.
Agora, após o início da operação terrestre israelense em Gaza e do reforço militar dos Estados Unidos na região, sua atitude parece ter mudado. Em particular, Biden é acusado de falta de sensibilidade em relação às mortes de civis palestinos, incluindo idosos e crianças, devido à campanha de bombardeios das Forças de Defesa de Israel (FDI). O presidente também foi criticado por sua aparente indiferença ao sofrimento dos habitantes de Gaza, que vivem sob o bloqueio de Tel Aviv há mais de uma década.
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Não está claro se esse sentimento vai durar até novembro de 2024. Ainda assim, uma vez que Biden já tem muito o que fazer, a tendência pode tornar o seu caminho para a reeleição espinhoso.
Na verdade, existe atualmente um atrito no Partido Democrata entre progressistas e moderados sobre o conflito Israel-Hamas. Alguns senadores democratas estão pressionando para que a ajuda israelense seja condicionada à forma como Tel Aviv lidou com a guerra de Gaza — o que contrasta com a política de Israel da equipe Biden. A J.P. Morgan Asset Management alerta que o risco de uma recessão nos EUA ainda existe, sendo "adiada em vez de diminuída".
O Partido Republicano está se aproximando de Joe Biden em seu amplo inquérito de impeachment sobre o aparente tráfico de influência de sua família e o seu alegado envolvimento. Embora se acredite que o Partido Republicano tenha poucas chances ou, ainda, nenhuma hipótese de levar o impeachment do presidente adiante, a má publicidade impõe pressão sobre Joe Biden e seus apoiadores no Partido Democrata.
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