O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste domingo (3) que, se o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE) não for concluído por falta de consenso entre os blocos, "a culpa não é do Brasil".
"Se não tiver acordo, paciência, não foi por falta de vontade. A única coisa que tem que ficar clara é que não digam mais que é por conta do Brasil. E que não digam mais que é por conta da América do Sul", afirmou Lula em uma entrevista ao fim da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023 (COP28) em Dubai, nos Emirados Árabes.
No sábado (2), após encontro entre Lula e Macron, o presidente francês disse ser contra o acordo de livre comércio argumentando que o mesmo "não é bom para nenhum dos lados".
Em conversa com jornalistas, Macron chamou o acordo de antiquado e "mal remendado". O presidente francês disse ainda que a versão atual é contraditória com políticas e ambições ambientais do Brasil, segundo o portal G1.
"Sou contra o acordo Mercosul-UE, porque acho que é um acordo completamente contraditório com o que ele [Lula] está fazendo no Brasil e com o que nós estamos fazendo, porque é um acordo que foi negociado há 20 anos, e que tentamos remendar. [...] Não leva em conta a biodiversidade e o clima dentro dele. É um acordo comercial antiquado que desmantela tarifas", disse.
Apesar das críticas do homólogo francês, Lula disse bem-humorado que havia conversado com Macron para que ele refletisse "com o coração" sobre o acordo que envolve países mais pobres na América Latina, mas não poupou críticas ao afirmar que os países ricos não querem fazer concessões.
"E nós não somos mais colonizados, nós somos independentes. E nós queremos ser tratados apenas com respeito de países independentes que temos coisas para vender, e as coisas que nós temos para vender têm preço. Queremos um certo equilíbrio", disse Lula.
O acordo entre o Mercosul e a UE tenta estabelecer uma zona de livre comércio — que prevê isenções e reduções de impostos para estimular a competitividade comercial — entre seus 31 países-membros desde 1999, mas a fase de revisão dos termos segue esbarrando em diversos entraves, dentre os quais questões ambientais e a resistência de alguns governos como o francês.