Deixando de lado as táticas militares mais tradicionais, como os bombardeios e a incursão terrestre em Gaza, Israel começou a realizar "operações de inteligência mais focadas", afirma Karina Calandrin, professora de relações internacionais da Universidade de Sorocaba (Uniso) e colaboradora do Instituto Israel-Brasil.
A participação do Mossad nesses esforços de guerra, junto da Shin Bet e da Unidad 504 das Forças de Defesa de Israel (FDI), representa uma "abordagem complexa" no combate ao Hamas, de acordo com a especialista.
20 de dezembro 2023, 13:05
A nova estratégia é bem simbolizada pelos recentes assassinatos de nomes como Saleh al-Arouri, segundo no comando do grupo palestino; Wissam Hassan Tawil, comandante das forças de elite Radwan, do Hezbollah; e Sayyed Razi Mousavi, general do Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica (IRGC, na sigla em inglês), do Irã.
Augusto Lerner Krieger, especialista em história do Oriente pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e analista de relações insitucionais da StandWithUs Brasil, destaca que "a elaboração desses assassinatos demora tempo", o que significa que essas eliminações já estariam nos planos de Israel há bastante tempo.
"Vale ressaltar que em ambos os casos Israel não se manifestou, típico de quando é um trabalho que tem o dedo do Mossad."
Oriente Médio vê tensões aumentarem
Os assassinatos não repercutiram bem na comunidade internacional, nem para os países e movimentos que declararam Israel como inimigo nem para os tradicionais aliados de Israel, como a França, que também é uma das maiores parceiras do governo libanês, e os Estados Unidos que, em tese, ficaram no escuro quanto aos planos israelenses.
Os norte-americanos, inclusive, já haviam alertado à nação israelense para não escalar o conflito, algo que, segundo Calandrin, pode muito bem acontecer. "Na frente regional, a estratégia de Israel poderia potencialmente exacerbar as tensões", diz.
Já Krieger afirma que esses riscos são levados em conta na hora de executar essas missões, mas ele não descarta a possibilidade de Israel entrar em conflito aberto com o Hezbollah, ainda que as chances sejam "muito baixas".
Para ele, o mais provável que pode acontecer são respostas por parte da diplomacia dos demais países árabes, como o Egito e o Catar, congelando as negociações de cessar-fogo entre Israel e o Hamas.
O analista da StandWithUs Brasil também destaca que hoje em dia "não existe mais um conflito árabe-israelense". "Israel tem relações diplomáticas com muitos países árabes, e esse fator ajudou muito a diminuir a tensão com esses países", afirmou.
Israel está preparado para novas frentes?
Ainda que, para Krieger, a probabilidade seja muito baixa que os demais países da região entrem em guerra com Israel, até mesmo pela falta de poder bélico, Calandrin destaca que um conflito em maior escala com nações vizinhas poderia "apresentar desafios substanciais tanto em termos militares quanto políticos".
De acordo com a professora de relações internacionais, o conflito em Gaza aprofundou as divisões sociais dentro do país. "O impacto da guerra na sociedade israelense e no cenário político é profundo", afirmou. Isso leva a uma dificuldade do Estado de realizar movimentos importantes, como negociar a paz, abrir novas frentes de confronto ou, até mesmo, implementar uma solução de dois Estados.
Outro ponto de contenção na política israelense é a situação de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro do país. Com a situação em Gaza e a tentativa fracassada de reforma judicial, a coalização do premiê está cada vez mais sob pressão, afirmou a especialista.
"A política interna de Israel parece estar se tornando cada vez mais tensa e complexa, com vários desafios e questões delicadas surgindo no cenário político do país."