Panorama internacional

Analistas: diversificação monetária e força do BRICS podem auxiliar ainda mais a economia russa

O fortalecimento do bloco BRICS e a diversificação das transações comerciais para além do dólar norte-americano vão poder abrir as portas para que a economia russa cresça ainda mais, segundo especialistas consultados pela Sputnik.
Sputnik
Recentemente, o presidente russo Vladimir Putin disse que a economia do seu país ocupa o primeiro lugar na Europa em termos de paridade de poder de compra. Da mesma forma, estimou que, no final de 2023, o crescimento econômico foi superior aos 3,5% esperados e ainda superior a 4%.
"É um resultado surpreendente. Parece que estamos sendo estrangulados e pressionados por todos os lados, mas nos tornamos os primeiros na Europa em termos de volume da economia como um todo. Ultrapassamos a Alemanha. E estamos em quinto lugar no mundo", enfatizou Putin em um encontro com empresários do Extremo Oriente.
Este cenário positivo para a economia russa também pode ser reforçado por fatores políticos, como a possível reeleição de Putin e a boa reputação do chefe de Estado russo como um grande estadista que soube fazer aliados em um momento em que o Ocidente lança uma guerra de sanções contra Moscou, afirma Rubén Ramos Muñoz, internacionalista da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) e especialista em negociações de política externa, em uma entrevista.
"Assim que Putin assumir a presidência temporária do BRICS, ele será capaz de controlar melhor os fluxos econômicos e as transações entre os membros do bloco, algo que anteriormente lhe permitiu diversificar o comércio da Rússia. Ao mesmo tempo, ele será capaz de fortalecer a ideia de desdolarizar o mundo com a ajuda da China e abrirá a porta a um maior crescimento econômico [...], que estimo deve registrar 4,5%, até 5% no final de 2024", observa o especialista.
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Resiliência russa aos obstáculos

Grande parte do progresso econômico da Rússia se deve à sua resiliência diante dos obstáculos que o Ocidente lhe colocou ao longo da história e que, atualmente, se traduzem em sanções à operação militar especial na Ucrânia, afirma María Cristina Rosas, mestre em Estudos de Paz e Resolução de Conflitos pela Universidade de Uppsala.
"A Rússia viu o seu comércio interrompido, especialmente com a Europa porque vários países [da região] estavam entre os seus principais parceiros. Mas o que o governo russo fez agora foi gerar novas relações comerciais ou aumentar as que já tinha com determinados parceiros", explica Rosas, doutora em Relações Internacionais pela UNAM.
"Mudou o rumo do seu comércio para com a China, que é um parceiro cada vez mais importante, e para com a Índia. Isto lhe permitiu dar saída à sua oferta exportadora e ter margem de manobra no domínio econômico", acrescenta a especialista.
O presidente Putin reconheceu que, em termos de paridade de poder de compra, a Rússia já ultrapassou toda a Europa, "mas per capita ainda temos que tentar". Por esta razão, Rosas considera essencial que as autoridades do país euroasiático continuem a promover grandes obras de infraestrutura para obter, sobretudo, mais empregos.
A especialista garante ainda que regras para aumentar a produtividade do trabalho são essenciais para manter resultados positivos.
"Devemos também dar ênfase às políticas educativas, para que a mão de obra continue altamente qualificada. Isso foi uma vantagem na União Soviética e agora na Rússia. Por outro lado, é preciso aumentar os investimentos nas vias de comunicação e em áreas que apontem positivamente para o desenvolvimento econômico", diz ela.
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Por isso, Ramos Muñoz explica que a Rússia precisa estabelecer políticas de bem-estar público para que a população possa ver tangencialmente a prosperidade que o seu país vive.

Os desafios a se enfrentar

O conflito israelo-palestino e os confrontos entre as tropas norte-americanas e os houthis no mar Vermelho são algumas das situações que poderão afetar os mercados de energia e, consequentemente, a Rússia, que é uma potência nesse domínio, estimam os especialistas consultados.
"Será relevante prestar atenção ao setor energético, uma vez que a Rússia é uma potência líder nesta área. É relevante desenvolver outros ramos da economia que lhe permitam manobrar e aumentar tanto a produtividade como o crescimento do produto interno bruto [PIB]", afirma Rosas.
As eleições presidenciais de novembro nos Estados Unidos também devem ser um fator relevante, já que, dependendo de quem vencer, a mesa geopolítica poderá se configurar, especialmente no apoio norte-americano à Ucrânia, conclui Ramos Muñoz.
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