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Governo não economiza com 'publicidade e propaganda', afirmam servidores em estado de greve

Em meio a promessas de déficit zero e equilíbrio nas contas públicas, o governo federal está em um embate com os servidores públicos, que exigem reajuste salarial após terem os salários congelados nos últimos governos. Entre as categorias mais afetadas estão as de áreas decisivas na última eleição, como meio ambiente, trabalho e educação.
Sputnik
O plano de reajuste salarial, apresentado pela gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, começa a tomar efeito para a maior parte das categorias somente em 2025. Ernani Carvalho, professor do departamento de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), afirma que isso demonstra um tratamento seletivo por parte do Palácio do Planalto, aumentando o salário de alguns setores "estratégicos", como a Polícia Federal.

"E deixando o grosso dos servidores da área de educação, saúde e meio ambiente a ver navios, com o processo de inflação dos salários já chegando ao patamar de 30%."

No meio ambiente, por exemplo, fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) estão paralisados desde o início do ano, colocando em xeque as falas de campanha de Lula de que, ao contrário do governo anterior, sua gestão cuidaria do meio ambiente. O mesmo acontece com setores da Educação e do Trabalho, como os fiscais de trabalho escravo.
"Isso gera um conflito muito grande de expectativas e pode acelerar algum tipo de rompimento desses setores com relação ao governo do presidente Lula", especulou Carvalho.
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"Os servidores estão em defasagem na questão salarial, e o que o governo nos propõe não cobre nem a metade das perdas no período", explica Cícero Rabello, coordenador de comunicação do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Sintufrj).
O Sintufrj aprovou estado de greve, um estágio de mobilização preliminar à greve em si, que será discutida após uma reunião com o governo, marcada para o dia 22 de fevereiro.

"Os servidores têm um atraso grande nas pautas políticas das categorias, e algumas são pautas comuns, como as 30 horas [semanais], o fim do ponto eletrônico e a isonomia entre os poderes."

Para Ernani, a forma como o governo tem lidado com essas questões tem sido "protocolar", no sentido de destacar as dificuldades econômicas que o Brasil passa e a necessidade de "reativar a capacidade de investimento" do país. "Mas isso não parece ser uma boa resposta para esses setores."
O sindicalista, de fato, rejeita o argumento do governo.

"Os governantes não costumam economizar com publicidade e propaganda para defender suas gestões."

Rodrigo Stumpf González, cientista político e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), destaca que se o governo conceder reajuste para uma categoria, "as outras vão reinvidicar o mesmo". "Assim, espera a mobilização de categorias específicas para negociar caso a caso."
Na opinião de Ernani, este será um dos grandes problemas que o governo federal "terá que gerenciar neste ano". No entanto, o acadêmico ressalta que "há uma aliança histórica do Partido dos Trabalhadores [PT], desde o processo de redemocratização até os dias atuais, com o serviço público em geral".
"Sempre as pautas dos servidores públicos são colocadas em relevo nas campanhas, e vários governos petistas tiveram seus pleitos atendidos."
Já González afirma que em nenhum mandato do PT, o governo "tomou medidas que possam ser consideradas grandes avanços para o funcionalismo". "Sempre as negociações foram de categorias específicas", afirmou.

"A única categoria de servidores que foi privilegiada, protegida de reformas e recebeu benefícios nos últimos anos foram os militares. Mas estes não precisaram fazer greve."

Rabello destaca, no entanto, que em sua campanha eleitoral Lula se mostrou aberto a ouvir os movimentos trabalhistas como forma de se diferenciar de seu opositor, Jair Bolsonaro. "Fazer greve é um direito constitucional e não significa romper com o governo", disse Rabello.

"O Lula mesmo pediu para as categorias fazerem greve, e ele, como sindicalista, sabe o poder que isso tem. Quando as mesas não avançam mais, é greve. E desta vez não será diferente."

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