O bloqueio naval realizado na entrada do mar Vermelho pelo movimento iemenita Ansar Allah, conhecido pela alcunha de houthi, tem gerado grandes preocupações nas nações ocidentais. Estima-se que 15% do comércio mundial passe pela região, e há rumores de que a Europa já está vendo aumentos no preço dos alimentos, devido ao impedimento marítimo.
Como resposta, os Estados Unidos e seus aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) têm lançado ataques ao país, no intuito de fazê-los mudarem de ideia. Essa resposta enfática não foi vista por parte do Ocidente durante o conflito na Faixa de Gaza, que já deixa 25 mil mortos, e tampouco no próprio Iêmen, que vive uma das maiores crises humanitárias do século XXI.
Na verdade, aponta Andrew Traumann, professor de relações internacionais na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e autor do livro "Os Militares e os Aiatolás: Relações Brasil-Irã (1979–1985)", há um histórico de inércia por parte dos Estados Unidos e seus aliados.
"Se formos buscar conflitos de 30 anos atrás, por exemplo, a gente vê que nem as grandes potências nem a ONU fizeram nada para impedir, por exemplo, o genocídio em Ruanda", declarou ele à Sputnik Brasil.
A guerra, explica Traumann, "sempre vai ser movida por interesses financeiros e geoestratégicos".
Então, quando não há interesses econômicos como "hidrocarbonetos e minérios valiosos", ou quando as tensões não ocorrem em uma área importante para a geopolítica da OTAN, "a gente não vê tanto esse afã do Ocidente na questão da paz".
"Isso é uma coisa que é muito, muito, muito antiga. Isso é algo que a gente sempre viu durante a Guerra Fria. Os Estados Unidos sempre se envolveram em guerras onde viam que os seus interesses estavam sendo contrariados."
Nesse sentido, sublinha Francisco Carlos Teixeira, professor titular da cadeira de história moderna e contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), "toda a estrutura daqui que nós podemos chamar de ordem mundial", como a ONU e o sistema de pagamentos SWIFT, "foi capturada pelos Estados Unidos e seus aliados ocidentais".
"Foi o caso da Organização para a Proibição de Armas Químicas [OPAQ], quando os EUA quiseram invadir o Iraque e houve a perseguição ao embaixador brasileiro [José Maurício Bustani], que era o presidente da organização", lembrou o historiador.
Outro exemplo, afirma Teixeira, é o conflito na Ucrânia, que "tornou muito claro que esses organismos internacionais foram feitos para legitimar a atuação e os interesses americanos e da Aliança Atlântica". Ele traça uma comparação que mostra a desigualdade entre países alinhados com o Ocidente e os que o confrontam.
"É só ver a resolução do Tribunal de Haia [Tribunal Penal Internacional] que, de uma forma descarada, acusa o presidente Vladimir Putin de crimes de guerra e, por outro lado, se cala em relação a [Benjamin] Netanyahu [premiê israelense] e seus ministros."