No comunicado publicado na sexta-feira (2), o órgão, que representa cerca de 1.500 diplomatas brasileiros, chama atenção para fato de que, no espaço de duas semanas neste ano, o Ministério das Relações Exteriores "editou medidas administrativas que afetam diretamente a vida de seus funcionários […] e suas famílias, sem que tenha havido diálogo prévio com os sindicatos que representam essas categorias funcionais".
A ADB afirma que "[...] foram cortadas 93 posições de trabalho de diplomatas no exterior, assim como 113 posições de oficiais e assistentes de chancelaria", acrescentando que essa decisão em conjunto à realidade dos postos ocupados atualmente demonstra "incongruências".
Para exemplificar o que denuncia, o órgão aponta que "há mais de 100 diplomatas brasileiros nos Estados Unidos e em postos na Bélgica, França e Suíça, somados, terão 120 vagas para diplomatas". No entanto, para todo o continente africano, os números são diferentes.
"Todo o continente africano, por sua vez, terá o total de 115 vagas. […] Há 12 embaixadas com apenas um diplomata, das quais nove estão na África, e, ainda assim, o MRE cortou vagas no continente, apesar de a política oficial do governo ter declarado 'prioridade para a África'. Essa reclassificação e revisão […] se soma a outra medida […] que inviabiliza trabalhar em um terceiro país consecutivamente […] afetando frontalmente a lotação de postos da categoria C e D, em especial na África, para onde se direcionavam diplomatas e demais servidores ao final de seu ciclo no exterior", ressalta a ADB.
A associação celebra o fato de a "diplomacia brasileira voltar a ocupar, sob o atual governo, legítima posição de relevo no cenário internacional", mas que esse retorno "requer corpo diplomático bem dimensionado, no exterior e no Brasil, e melhores condições de trabalho [...]".
Os alertas públicos do sindicato são raros e demonstram a insatisfação do setor com as novas políticas do Itamaraty, apesar do reconhecimento do retorno diplomático do Brasil à arena internacional.
Sobre a África, de fato, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva verbalizou desde o começo da gestão que o continente seria uma prioridade. Em seu discurso na cúpula do BRICS na África do Sul no ano passado, o mandatário defendeu a aproximação dizendo que "o Brasil está de volta ao continente de qual nunca deveria ter se afastado".
Em outubro último, o assessor para Assuntos Internacionais de Lula, Celso Amorim, disse que a África seria uma prioridade. "O ano que vem [2024], em grande medida, será o ano da África na política externa brasileira", afirmou.