Em viagem a Minas Gerais nesta quinta-feira (8), o presidente Lula disse em entrevista à Rádio Itatiaia que o antecessor deve ter feito parte da estratégia para evitar que o petista assumisse o Palácio do Planalto. Aliados do ex-mandatário foram presos preventivamente pela PF: são eles Filipe Martins, ex-assessor especial de Bolsonaro, além de Marcelo Câmara, coronel do Exército citado em investigações, e Rafael Martins, major das Forças Especiais do Exército.
"Ele deve ter participado da construção dessa tentativa de golpe. Vamos aguardar as investigações. Espero que o mais rápido possível possamos ter um resultado do que realmente aconteceu no Brasil", afirmou.
De qualquer forma, Lula pediu que Bolsonaro tenha a presunção de inocência que ele não teve — em referência ao processo que o levou à prisão por corrupção em abril de 2018 — e que a polícia conduza as investigações da forma mais democrática possível, "sem abusos".
"Obviamente há muitas pessoas envolvidas, muitas pessoas que serão investigadas, porque o fato concreto é que houve uma tentativa de golpe. Houve uma política de não respeitar a democracia, uma tentativa de destruir algo que construímos há muitos anos, que é o processo democrático, e essas pessoas precisam ser investigadas", acrescentou Lula.
O presidente destacou ainda a importância de saber "quem financiou" os acampamentos golpistas, que após o resultado das eleições de outubro de 2022 reuniam milhares de bolsonaristas nas portas dos quartéis do Exército pedindo intervenção militar para que Lula não assumisse o poder.
Lula fez essas declarações após a PF lançar uma operação que investiga Bolsonaro, vários de seus ex-ministros e colaboradores por traçarem um plano para dar um golpe de Estado em 2023. Bolsonaro já entregou o passaporte após determinação de Moraes e não poderá manter contato com o grupo.
'Hora da verdade'
Chamada Tempus Veritatis, "hora da verdade", em latim, a operação teve seus mandados emitidos por Alexandre de Moraes, juiz do Supremo Tribunal Federal (STF).
Uma série de mandados de busca e apreensão também foram efetuados contra Valdemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal (PL), o ex-chefe da Casa Civil e ex-ministro da Defesa, general Braga Netto, o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, e Anderson Torres, delegado da PF e ex-ministro da Justiça.
O presidente do partido de Bolsonaro ainda foi preso por porte ilegal de arma de fogo. Também foram alvos das buscas o almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha, e o general Paulo Nogueira, ex-comandante do Exército entre 20 de abril de 2021 e 31 de março de 2022.
Segundo a delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, o almirante Garnier teria colocado suas tropas à disposição de Bolsonaro em caso de tentativa de golpe armado.
Tércio Arnaud Tomaz, ex-assessor de Bolsonaro e considerado um dos líderes do "gabinete do ódio", Ailton Barros, coronel reformado do Exército, e o general Stevan Teófilo Gaspar de Oliveira, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército, também aparecem na lista de buscas.
Relatório policial apontou que o ex-presidente Bolsonaro recebeu do então assessor da Presidência para Assuntos Internacionais Filipe Martins minuta do decreto para "executar o golpe de Estado". Ainda há suspeitas de reuniões entre militares de alta patente, tanto da ativa quanto da reserva, para debater as questões relativas ao golpe.
Ao todo, seis núcleos atuaram na tentativa de golpe, segundo a PF: inteligência paralela, para legitimar as ações; atuação jurídica; coordenação de ações de apoio operacional; ataques ao sistema eleitoral; e, por fim, incitação de golpe entre os militares.