Atualmente, os americanos contribuem de forma significativa para a competição geopolítica entre grandes potências, justamente por conta de seu envolvimento em diversos conflitos regionais, seja na Ásia, na América Latina, na Europa ou no Oriente Médio. Para compreender os porquês dessa política antagônica dos Estados Unidos, é crucial analisarmos o passado, a saber, a forma como esse Império Americano originou-se. Ora, durante a maior parte do século XIX, a América não era uma potência propriamente global, nem representava lá grande ameaça para os poderes europeus estabelecidos. Isso porque logo após sua independência (conquistada em 1776), os Estados Unidos preocuparam-se primeiramente em expandir seu território para o oeste da América do Norte, até o oceano Pacífico.
Naquele período, muitos políticos americanos tinham uma forte tendência anti-imperialista e viam negativamente o envolvimento do país em problemas extracontinentais, o que acabou por restringir impulsos imperialistas de expansão para outras partes do globo. No entanto, esse cenário mudaria rapidamente. Com a exportação da revolução industrial para a América do Norte em meados do século XIX, produziu-se um crescimento econômico significativo nos Estados Unidos. O país começou então não só a expandir o acúmulo de capital produtivo, como passou a alimentar tendências expansionistas motivadas por interesses privados e empresariais. Não obstante, quando o presidente americano William McKinley arrastou o país para uma guerra com a Espanha por causa de Cuba, em 1898, os Estados Unidos, como resultado de sua vitória no conflito, adquiriram o controle de Porto Rico, de Guam e das Filipinas. Estavam ali as origens do futuro Império Americano.
Nos próximos anos, os Estados Unidos anexaram o Havaí, assumiram o controle do Panamá e enviaram tropas para a República Dominicana, expandindo assim sua influência pela América Central. Essa rápida aquisição de territórios, por sua vez, colocou o país definitivamente no mapa global das grandes potências. Com isso, os americanos começaram a usar a sua crescente influência econômica e militar para proteger interesses comerciais e geopolíticos tanto na América como na Ásia, instalando, por exemplo, regimes amigáveis em regiões estratégicas do planeta, prática essa que passou a fazer parte do modus operandi de Washington até os dias atuais.
Já na primeira metade do século XX, não só a intervenção americana fora um fator decisivo para o término da Primeira Guerra Mundial, como o então presidente, Woodrow Wilson, participou de forma ativa da negociação dos termos para a rendição alemã. Foi Wilson justamente quem liderou a iniciativa de política externa mais ambiciosa da América até então, a saber, a criação de uma organização internacional para manutenção da paz, a chamada Liga das Nações. No entanto, o isolacionismo ainda era bastante presente nos Estados Unidos, e o Congresso americano decidiu barrar a adesão do país à Liga das Nações, por receio de que a organização viesse a reduzir a margem de manobra do país nas relações internacionais.
Em última análise, foram a eclosão da Segunda Guerra Mundial, em 1939, e o ataque japonês a Pearl Harbor, em dezembro de 1941, que mudaram de vez os rumos da política estadunidense no mundo, motivando o país a entrar no conflito e, desde então, a estar envolvido de forma permanente nos assuntos globais. Ao final da Segunda Guerra Mundial, vale lembrar, os Estados Unidos foram a única grande potência que conseguiu não só evitar a ruína econômica, como também manteve seu território praticamente intacto, terminando o conflito como o primeiro país a possuir armas atômicas.
Assim sendo, os americanos estavam em uma posição única para definir os termos da paz, assim como a configuração das organizações internacionais do pós-guerra. Diante dessa condição ímpar do ponto de vista histórico, os Estados Unidos conseguiram exercer forte peso na criação de instituições como as Nações Unidas, o Banco Mundial e o próprio Fundo Monetário Internacional. Não à toa, ao ajudar a criar todas essas instituições, Washington comprometeu-se de forma ainda mais profunda nos assuntos mundiais do século XX.
Não obstante, quando os americanos se depararam com a ascensão de seu principal competidor geopolítico, a saber, a União Soviética, Washington decidiu dar o passo seguinte para a consolidação de seu Império. Temerosos do poderio e da crescente influência soviética tanto na Europa como em outras partes do globo, os Estados Unidos começaram a tecer uma complexa rede de alianças militares, como a Organização do Tratado do Atlântico Norte, e tratados de defesa bilateral com países das mais diversas regiões do planeta. Em outras palavras, a segunda metade do século XX representou o momento em que os americanos se tornaram o "policial do mundo", comprometendo-se com uma política de contenção à União Soviética, política essa que os "autorizava" a intervir economicamente e militarmente nos assuntos domésticos de vários países.
Bandeira da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)
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Hoje, diante de uma nova luta por influência em regiões estratégicas do planeta e pelo futuro da ordem global, os Estados Unidos e seus aliados europeus veem-se diante de um desafio. Afinal, potências como a Rússia de Putin (sucessora da União Soviética), a China de Xi Jinping, o Irã e os demais países do BRICS vêm buscando impor limites ao unilateralismo desse Império Americano. Como todo Império, por sua vez, os Estados Unidos tentam lutar contra a ascensão dessas forças que visam contestar seus privilégios. Entretanto, impedir a consolidação de um mundo multipolar já não é mais possível. Sim, enfraquecer as bases da presença americana no mundo será difícil e levará tempo, mas o importante é saber que esse processo se trata de um processo irreversível. Vem chegando a hora em que os Estados Unidos deixarão de ser "o país mais poderoso da história" para se tornarem novamente um igual entre grandes potências do século XXI.
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