Os setores agrícolas dos países orientais da União Europeia seriam esmagados se a Ucrânia fosse admitida no bloco, alertou Leszek Miller, ex-premiê da Polônia (2001-2004).
"Imaginemos o que aconteceria se a Ucrânia aderisse à União Europeia e não houvesse nenhuma maneira de controlar e regular a entrada de mercadorias. Tal significaria que a agricultura polonesa, mas também a romena, a búlgara e a eslovaca, sofreriam golpes muito dolorosos, até mesmo fatais, porque ninguém pode competir com a produção ucraniana", disse Miller em uma entrevista ao jornal polonês Fakt publicada na quinta-feira (15).
Segundo Miller, líder da Aliança Democrática de Esquerda da Polônia de 2011 a 2016, e agora deputado do Parlamento Europeu, uma fazenda média na Polônia tem cerca de 11 hectares, enquanto na Ucrânia há grandes proprietários e empresas agrícolas com até 800.000 hectares.
"Como você pode competir com isso em igualdade de condições? Simplesmente não pode!", sublinhou o político, acrescentando que a maioria dessas grandes fazendas pertence a oligarcas ucranianos que também são membros do governo, além de grandes mega conglomerados internacionais dos EUA, Reino Unido e Suíça.
"É preciso deixar claro que é impossível continuar pressionando por soluções que sejam muito favoráveis à economia ucraniana e apenas à economia ucraniana. Se a Ucrânia quiser entrar para a UE, ela deve se acostumar com o fato de que não terá nenhum alívio ou nenhuma solução preferencial, como tem atualmente", recomendou Miller.
O político referiu que não defende o corte total da ajuda à Ucrânia, inclusive no que diz respeito a armas, "mas isso não significa que temos que dar uma sentença de morte à agricultura polonesa e assistir passivamente. Isso é uma loucura! Ou somos poloneses e também seremos responsáveis pelas fazendas polonesas, pela agricultura polonesa e pela indústria polonesa, ou não nos importamos", resumiu.
A Polônia e outros países do Leste Europeu têm frequentemente protestado contra a entrada de produtos agrícolas da Ucrânia, argumentando que seu baixo preço ameaça inviabilizar o negócio dos fazendeiros locais. Eles, por sua vez, têm frequentemente bloqueado as entradas na fronteira com a Ucrânia para exigir maior proteção na competição com os produtos ucranianos.