A situação afetou diretamente as candidaturas presidenciais de Claudia Sheinbaum, do partido governista, Movimento Regeneração Nacional (Morena), e Bertha Xóchitl Gálvez Ruiz, da coalizão opositora Força e Coração pelo México, que denunciaram que durante o fim de semana seus números de telefone foram divulgados nas redes sociais e que, desde então, estavam congestionados.
Sheinbaum afirmou que recebeu em seu telefone pessoal "chamadas incessantes e mensagens de ódio", como a recebida de um homem identificado como "José Martín", que dizia: "Não sou um robô, você não me representa. Candidata narcotraficante Claudia, ditador narcotraficante López Obrador. Se quer culpar alguém, vá ao Palácio e reclame com seu chefe".
"É óbvio o que eles querem fazer, mais uma vez seus ataques são tão grosseiros quanto inofensivos. Os números que deveriam preocupá-los são os das pesquisas", disse a candidata governista.
Oposição aproveita o escândalo para impulsionar campanha
Já a opositora, Gálvez Ruiz, aproveitou o escândalo para impulsionar sua campanha eleitoral, publicando um vídeo. "Como resultado do péssimo exemplo dado pelo presidente López Obrador, muitos mais números de telefone foram divulgados com má intenção. Também vazaram meu número, e desde então as mensagens não pararam de chegar. Se você ainda não tem, aqui está, […] decidi não mudar", comentou.
Gálvez Ruiz disse que apesar de receber mensagens criticando seu "excesso de peso" e seus "dentes tortos", não estava preocupada, pois "isso pode ser corrigido".
"O que não pode ser corrigido é o carinho das centenas de mensagens de apoio, incentivo e solidariedade que tenho recebido, e essas permanecem. Então preocupem-se, porque isso ninguém pode parar", acrescentou.
Divulgação de números de políticos
Na última quinta-feira (22), o presidente López Obrador informou em coletiva de imprensa que recebeu uma solicitação "em tom ameaçador", "prepotente" e "com ultimato" da chefe de correspondentes do The New York Times no México, Natalie Kitroeff, que pedia comentários em menos de oito horas sobre uma reportagem na qual estavam trabalhando.
O artigo revelava uma investigação já encerrada, feita pelo governo dos Estados Unidos, sobre um suposto financiamento do narcotráfico a López Obrador em sua campanha eleitoral de 2018, que também envolvia os filhos do presidente. Por isso o presidente mexicano denunciou que o jornal norte-americano era um "panfleto sujo" que usava temas "falsos" para fazer publicações "enganosas".
Mas a controvérsia aumentou quando López Obrador comentou a mensagem enviada por Kitroeff e leu publicamente o número de telefone da jornalista, causando tumulto e reações contrárias de Washington e até do YouTube, que removeu a conferência de imprensa do presidente mexicano.
"Este vídeo foi removido porque viola a política do YouTube sobre assédio e 'bullying'", dizia uma mensagem nos canais oficiais de Andrés Manuel López Obrador e do Governo do México.
No entanto, minutos depois o vídeo do evento foi republicado, mas uma versão editada, que não continha mais o trecho em que o presidente mencionava o número da jornalista.
Escândalo gerou reação das Nações Unidas
O escândalo gerado pela divulgação dos contatos telefônicos chegou a tal ponto que o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) no México alertou que a proteção dos dados pessoais "é uma obrigação" que recai "especialmente" sobre aqueles que têm "uma responsabilidade pública".
"Proteger os dados pessoais é uma obrigação que deve ser observada por todos, especialmente por aqueles que detêm uma responsabilidade pública. Nos juntamos aos apelos para que não se divulguem informações que prejudicam os direitos à privacidade e dignidade das pessoas", defendeu o escritório da organização.