- Sputnik Brasil, 1920
Eventos que marcaram 2023 e previsões para 2024
Como foi o ano de 2023 para o Brasil e para o mundo? As matérias retrospectivas da Sputnik revivem destaques do ano que deixaram marcas na vida política, econômica e social do globo.

Mais de 4 bilhões de pessoas vão às urnas em 2024: como as eleições devem impactar o mundo?

© AP Photo / Mahesh Kumar A.Comício eleitoral do líder da oposição na Índia, Rahul Gandhi, toma as ruas. Telangana, 30 de novembro de 2023
Comício eleitoral do líder da oposição na Índia, Rahul Gandhi, toma as ruas. Telangana, 30 de novembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 03.01.2024
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Dos Estados Unidos à Rússia, da África do Sul à Índia, mais da metade da população mundial vai às urnas em 2024 para as eleições presidenciais e parlamentares em mais de 50 países. Em muitos, novas forças políticas podem surgir. Outros devem manter os atuais governantes, enquanto em países como a Ucrânia o processo eleitoral está em xeque.
Como o mundo deve ser afetado pelos resultados eleitorais ao redor do globo é uma das principais dúvidas para o ano que acabou de começar. O professor de teoria da história da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Iuri Clavak destacou ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, apresentado pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, que a eleição dos Estados Unidos, por conta das incertezas e da possibilidade de retorno do ex-presidente Donald Trump ao poder, é uma das que vai causar maior impacto ao planeta.
Além de atuar junto à Ucrânia frente à operação militar especial russa com recursos financeiros e ajuda militar, apesar das dissidências internas que reduzem cada vez mais o apoio, o governo norte-americano é o principal aliado de Israel na guerra contra o Hamas, que já deixou quase 22 mil palestinos mortos na Faixa de Gaza. "O que acontece nos Estados Unidos afeta o mundo todo. Então eu diria que os holofotes de todos os outros países vão estar voltados para as eleições [norte-americanas], com essa questão também se o Trump vai poder concorrer ou não", resume.
Para o especialista, o presidente democrata Joe Biden chega mais enfraquecido para a corrida presidencial quando comparado a 2020, ano em que venceu Trump. "Foi uma eleição popular e mexeu bastante com o país, uma grande parte do eleitorado não votou e fez campanha para Biden, que teve uma vitória apertada. Mas, ao longo do mandato, tenho a impressão de que ele se mostrou um pouco tíbio e com pouco poder de decisão. A questão da idade também pesa, porque há a questão da imagem […]", pontua.
Maria Zakharova em Conferência em Moscou 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 19.10.2023
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Biden enfrenta baixa popularidade

Além disso, o envolvimento em conflitos ao redor do mundo ajudou a desgastar a popularidade em meio aos diversos problemas internos do país, como a inflação e o aumento da dívida pública — a aprovação do democrata é de apenas 40%.
"Tanto o Trump quanto o Biden, ou democratas e republicanos, respondem a uma estrutura de poder que está por trás das decisões. Eles apenas encaminham esses interesses, e tenho visto muito a questão da queda da taxa de lucro global. Guerras esporádicas são boas para o complexo industrial militar. É terrível para as pessoas, só que para o lucro de grandes empresas é muito bom", acrescenta.
Já impedido de participar das prévias no estado do Colorado, acusado de ter estimulado o ataque ao Capitólio dos EUA em janeiro de 2021, o ex-presidente Donald Trump tem presença no pleito ainda incerta, e a decisão final deve vir da Suprema Corte do país. Apesar disso, o professor de relações internacionais do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (Inest-UFF) Thomas Ferdinand Heye disse ao Mundioka que é difícil uma interferência da principal instância judiciária norte-americana no processo eleitoral.

"Há várias ações jurídicas contra Trump que poderiam levá-lo até a não poder tomar posse ou se tornar inelegível, impedindo sua candidatura. Mas a grande questão é até que ponto o Judiciário americano quer interferir no processo eleitoral. O estado do Colorado já decidiu que ele não pode ser candidato lá, mas ainda é incerto saber se a iniciativa que encheu muita gente de esperança vai colar", afirma.

O presidente dos EUA, Joe Biden, durante reunião com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, para discutir a guerra entre Israel e o Hamas, em Tel Aviv. Israel, 18 de outubro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 28.12.2023
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Putin vai disputar reeleição na Rússia

Prevista para março deste ano, bem antes da eleição norte-americana, que acontece só em novembro, a Rússia terá o atual líder russo Vladimir Putin disputando a reeleição. Apesar das sanções vividas pelo país por conta da operação militar especial russa, que tiveram o efeito contrário ao esperado, Iuri Clavak acredita que Putin está fortalecido. "O presidente ganhou fôlego e está muito mais forte por conta dos acontecimentos na Ucrânia, então imagino que ele vai levar [a vitória no país]", diz.
Também neste ano estavam previstas as eleições na Ucrânia, mas o presidente Vladimir Zelensky defende o adiamento por conta do conflito. Diante das derrotas da contraofensiva e de diversas denúncias de corrupção, o governo atual enfrenta forte oposição no país, inclusive de generais das Forças Armadas.

"Acredito que ele esticou muito a corda para vir mais ajuda norte-americana e europeia, e parece que está cessando. Chegam menos recursos, armas de terceira mão, e tem toda a questão na Palestina que tirou de cena a Ucrânia, o que é ruim para ele […]. O Zelensky foi eleito como antipolítico, era um comediante, mas em um país em conflito tudo isso muda", argumenta.

Qual é a maior democracia do mundo?

Com mais de 1,4 bilhão de habitantes, a maior democracia do mundo também vai às urnas este ano: a Índia, que superou em 2023 o índice populacional da China. O professor Thomas Ferdinand Heye descreve o pleito indiano como um dos mais "fascinantes" por conta do contingente de eleitores. No poder desde 2014, o primeiro-ministro Narendra Modi é considerado pelo especialista um dos responsáveis pelo crescimento econômico do país, o que deve ajudar o seu partido nas eleições.
"É um político populista e hipernacionalista, mas que mostrou que a Índia tem espaço na mesa das grandes potências. E, em termos de recursos de poder, hoje, tranquilamente pode sentar do lado de uma Inglaterra ou de uma França e se sentir muito confortável. Ou seja, em 2024, a gente vai ter esse mundo, que antes era unipolar, se transformando cada vez mais em multipolar", defende. O principal opositor de Modi no país é Rahul Gandhi, que já reuniu uma mega-aliança para enfrentar o atual governo.
Sergei Lavrov (à direita), ministro das Relações Exteriores da Rússia, cumprimenta seu homólogo indiano, Subrahmanyam Jaishankar, durante coletiva em Moscou. Rússia, 27 de dezembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 27.12.2023
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Outro membro do BRICS que terá eleições é a África do Sul, cujo partido Congresso Nacional Africano está no poder desde 1994, com o fim do regime do apartheid. O presidente Cyril Ramaphosa e sua sigla devem enfrentar o processo eleitoral mais difícil até hoje, por conta de mudanças na legislação que permitem candidaturas independentes, além de questões como aumento do desemprego, crise energética e criminalidade.
Também elegem novos governos o México, que pode ter a primeira mulher presidente da história do país — a ex-prefeita da Cidade do México Claudia Sheinbaum, apoiada pelo atual presidente Andrés Manuel López Obrador, ou a opositora Xóchitl Gálvez —, Venezuela, onde Nicolás Maduro tenta a reeleição, além de países como Reino Unido, Bangladesh, Indonésia e o território de Taiwan.

"Em 2024 a gente vai ter esse mundo, que antes era unipolar, se transformando cada vez mais em multipolar. Nesse cenário de transição e mudança, essas eleições serão muito importantes, porque vão reverberar as mudanças que estão acontecendo em todo o curso, no ordenamento das grandes potências no sistema internacional", finaliza o professor da UFF.

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