Mais de 750 pessoas também ficaram feridas, por tiros, pisoteamento ou atropelamento, durante o ataque israelense, na região oeste da cidade de Gaza. A população aguardava a distribuição de ajuda humanitária, que desde o início do conflito, em outubro do ano passado, chega a conta-gotas. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil publicou uma nota afirmando que a situação é intolerável e que "vai muito além da necessária apuração de responsabilidades pelos mortos e feridos".
"As aglomerações em torno dos caminhões que transportavam a ajuda humanitária demonstram a situação desesperadora a que está submetida a população civil da Faixa de Gaza e as dificuldades para obtenção de alimentos no território", acrescentou a pasta.
Para o governo brasileiro, a falta de ação internacional para conter a escalada do conflito na região serve "como velado incentivo para que o governo Netanyahu continue a atingir civis inocentes e a ignorar regras básicas do direito humanitário internacional". Além disso, lembrou que as declarações "cínicas e ofensivas às vítimas do incidente, feitas horas depois por alta autoridade do governo Netanyahu, devem ser a gota d'água para qualquer um que realmente acredite no valor da vida humana".
"O governo Netanyahu volta a mostrar, por ações e declarações, que a ação militar em Gaza não tem qualquer limite ético ou legal. E cabe à comunidade internacional dar um basta para, somente assim, evitar novas atrocidades. A cada dia de hesitação, mais inocentes morrerão. A humanidade está falhando com os civis de Gaza. E é hora de evitar novos massacres", completa a nota do ministério.
Segundo a chancelaria brasileira, autoridades da Organização das Nações Unidas (ONU) e especialistas em ajuda humanitária de diferentes organismos já vêm "denunciando há meses a sistemática retenção de caminhões nas fronteiras com Gaza e a situação crescente de fome, sede e desespero da população civil", da qual pelo menos um quarto está perto da fome extrema, o que causa mortes por desnutrição e emaciação (magreza extrema).
Brasil reafirma repúdio à ação militar israelense
Nas últimas semanas, diante de fortes declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chamou a ação militar do governo israelense de genocida e ainda comparou a situação ao massacre promovido pelo regime nazista contra os judeus na Segunda Guerra Mundial, o Brasil tem aumentado o tom contra a guerra de Israel e Hamas. Na nota emitida pelo Ministério das Relações Exteriores, o país reafirmou o "repúdio a toda e qualquer ação militar contra alvos civis, sobretudo aqueles ligados à prestação de ajuda humanitária e de assistência médica".
"O Governo brasileiro recorda a obrigatoriedade da implementação das medidas cautelares emitidas pela Corte Internacional de Justiça, em 26 de janeiro corrente, que demandam que Israel tome todas as medidas ao seu alcance para impedir a prática de todos os atos considerados como genocídio, de acordo com o Artigo II da Convenção para a Prevenção e a Repressão e Punição do Crime de Genocídio", finaliza, ao afirmar que há absoluta "urgência de um cessar-fogo e do efetivo ingresso em Gaza de ajuda humanitária em quantidades adequadas, bem como a libertação de todos os reféns".
Após mais de quatro meses de combates e destruição de praticamente todo o território palestino, a guerra promovida por Israel já deixou mais de 30 mil civis mortos, dos quais 12 mil são crianças, além de desabrigar pelo menos 1,7 milhão de pessoas. A população da Faixa de Gaza é de cerca de 2,3 milhões.