Operação militar especial russa

Perda das melhores tropas e recrutamento até de grávidas: fim da Ucrânia no conflito está próximo?

Diante de erros acumulados ao longo dos últimos dois anos, a Ucrânia se aproxima de uma nova etapa do conflito marcada por escândalos de corrupção, demissão no comando das Forças Armadas e perda de posições no campo de batalha com a Rússia. Especialistas defendem ao podcast Mundioka que, sem o envio de recursos por aliados, o fim está próximo.
Sputnik
Em uma derrota descrita pela mídia do principal aliado, os Estados Unidos, como contundente, as últimas semanas estão entre as piores para a Ucrânia no campo de batalha desde o início da operação militar especial russa. Após perder o controle da cidade de Avdeevka, na República Popular de Donetsk (RPD), as Forças Armadas da Ucrânia passaram a vivenciar uma rotina de recuos diante das tropas russas.
Em meio a outra batalha travada pelo presidente Vladimir Zelensky em busca de mais recursos dos apoiadores ocidentais — no Congresso norte-americano, a iminente eleição tem feito os republicanos travarem há meses a aprovação do projeto que injeta novos US$ 60 bilhões (R$ 298,96 bilhões) em ajuda militar ao país e, ainda, a União Europeia (UE), que também vive vários problemas internos, está no limite de gastos —, o regime parece também perder, mesmo com a disseminação de mentiras.
O professor e especialista em geopolítica e conflitos internacionais Ricardo Cabral pontua ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, que discursos do ucraniano — como quando garantiu neste mês que as tropas derrubaram sete caças russos — são pensados para justificar os bilhões de dólares gastos pelo país diante de "resultados pífios". "Grande parte da mídia ocidental compra isso [as declarações de Zelensky], mas a gente que pesquisa muito não vê esses números. O Zelensky é um ator, não podemos esquecer que ele é um grande comediante e tem tentado estimular o seu povo. Mas a mentira faz parte da guerra", declara.
Para o analista, ainda há um comportamento "extremamente arrogante" do presidente em tentar pautar a Europa, fato que inclusive conseguiu por "grande parte do tempo". Outra estratégia adotada pelo governo ucraniano são as "estatísticas" que mostram a falsa popularidade do atual presidente, que já adiou as eleições que estavam previstas para este ano sob a justificativa do conflito.

"Se ele tivesse o povo acreditando na vitória das Forças Armadas, não tinha dificuldade em fazer a mobilização [para o Exército]. A briga dele com o Valery Zaluzhny [ex-comandante das tropas] foi porque queriam 500 mil homens e não têm. A faixa etária da linha de frente tem 41 anos, estão usando inclusive mulheres grávidas na linha de frente, indivíduos com síndrome de Down. Então é porque o recrutamento não está fácil. De onde vai tirar o soldado, vai tirar as granadas de artilharia que também estão em falta no Ocidente?", argumenta.

Com perdas que chegam a até 10 km na linha defensiva contra o Exército russo, que recentemente mostrou que consegue produzir sete vezes mais munição que todo o chamado Ocidente expandido, o professor acredita que o conflito está no "começo do fim". Para o especialista, está cada vez mais difícil a Ucrânia encontrar possibilidades para resistir. "Apareceu um monte de imagem com eles cavando trincheiras com armações de madeira […]. Não vai resolver muita coisa e está faltando algo nessa imagem, que é o campo nevado. Nessa época, a Ucrânia está coberta de neve e eles mostram como se essas trincheiras estivessem sendo feitas agora", exemplifica.

Quais são as sanções contra a Rússia?

Usadas inicialmente com o objetivo de estrangular a economia russa em meio à operação militar na Ucrânia, mais de 16 mil sanções já foram aplicadas contra o país sem surtir os efeitos desejados, pelo contrário. O professor Ricardo Cabral cita o imenso prejuízo da UE com as medidas, já que precisou abdicar dos recursos energéticos russos consideravelmente mais baratos.

"O prejuízo europeu é imenso, porque eles consomem petróleo e gás muito caros vindos dos Estados Unidos, e agora estão se virando para conseguirem em outros lugares, na África principalmente, e pagando mais. Só que tem um detalhe: os EUA importam petróleo russo, porque quando eles pegam petróleo da Índia, por exemplo, na verdade, é petróleo russo embarcado em navios indianos. Só que eles sabem disso, e também acontece com bauxita, urânio e diamante. Eu acho engraçadíssimo isso, vão sancionando tudo, compram da Índia e da China, a China e a Índia importam da Rússia e vendem para eles mais caro", conta.

Além disso, o especialista cita a expectativa de crescimento da economia da Federação da Rússia neste ano acima de 3%, mesmo com o conflito e as milhares de sanções. "A Europa está numa crise tremenda, deveria estar gastando dinheiro em modernizar sua infraestrutura, procurar outros termos para melhorar a produtividade. Esses últimos anos de bonança econômica europeia foram garantidos pelo petróleo e gás russo baratos. Eles vão substituir isso? Não sei, só sei que não vai ser barato", responde.
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Norte-americanos não gostam de apostar em 'perdedores'

O especialista em geopolítica e conflitos internacionais também comenta a situação de Washington, que deve ver neste ano uma reedição da disputa presidencial entre Donald Trump e Joe Biden. A campanha também pode definir novos rumos para o conflito na Ucrânia diante do "cansaço" da população norte-americana com o financiamento sem fim ao país. "Biden está sendo derrotado pela próxima administração […]. O problema é a área externa e os equívocos. O apoio que os Estados Unidos estão dando a Israel prejudica muito a sua imagem, e a guerra da Ucrânia é vista também como uma guerra para perdedor. O americano tem esse negócio de não apostar nos perdedores, de gostar sempre de ganhar as partidas."
Em 122º de 180 nações no ranking mundial de transparência, a corrupção na Ucrânia também gera questionamentos entre os eleitores norte-americanos, acrescenta o especialista. O professor lembra que há suspeitas sobre pelo menos US$ 1 bilhão (R$ 4,95 bilhões) e que o país não conseguiu responder às solicitações de congressistas sobre a realização de auditorias, inclusive dos armamentos recebidos.
"Nós tivemos armamento aparecendo em vários locais do mundo, inclusive lá em Gaza. Acredito que a imagem do Biden é prejudicada por essas decisões equivocadas no campo externo, e principalmente pela conduta dele", diz, apesar de acreditar que o páreo ainda está aberto, mesmo com as pesquisas iniciais apontando a vantagem de Trump.

"Eu não acredito que ele consiga ir até as eleições, eu acho que em algum momento, do jeito que está a fragilidade da saúde dele, pode ser que em algum momento daqui para frente ele se retire do páreo. Isso aconteceu agora na conferência de segurança mundial em Munique, uma coisa que é, no mínimo, antiético, mas mostra as movimentações dentro do partido democrata. Kamala Harris [vice-presidente do país] se posicionou e disse que se por algum motivo o presidente não puder concorrer, o nome está à disposição do partido", afirma.

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Quantos soldados a Ucrânia ainda tem?

No último mês, o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, revelou que as Forças Armadas da Ucrânia perderam mais de 444 mil militares desde o início da operação especial, e que atualmente a média é de 800 combatentes a menos todos os dias, além de 120 unidades de diferentes tipos de armamentos. O comandante Robinson Farinazzo, especialista militar e oficial da reserva da Marinha do Brasil, disse ao podcast Mundioka que o primeiro erro do regime de Zelensky foi não ter feito um acordo com a Rússia no início da operação, diante das pressões do Ocidente em manter o conflito.
"O Exército ucraniano foi destruído e reconstruído diversas vezes [ao longo da história], o material é um pesadelo logístico. Só carro de combate eles têm três tipos diferentes. Nenhum exército vai para a guerra assim, com esse pesadelo logístico, essa variedade tão grande de fornecedores. Então acho que o problema todo foi não ter feito um acordo, não ter mudado a abordagem com relação a ingressar na OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte]", defende.
Como exemplo, o comandante cita os combates em Mariupol, logo no início da operação russa. "Não acho que tinha que ser defendida praticamente até o fim como foi. Ali ocorreu um grande desperdício, um dos melhores exércitos ucranianos foi destruído em Mariupol. Depois, houve a defensiva de Artyomovsk, quando também perderam muita gente de forma desnecessária. Quando viu que a cidade era indefensável, deveriam ter declarado cidade livre ou feito uma retirada ordenada", argumenta ao citar, ainda, que vê as decisões tomadas pelo comando militar do país como "suicidas".
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O especialista militar também compara a atual situação da Ucrânia ao antigo Vietnã do Sul, que em 1974 era apoiado pelos Estados Unidos na guerra civil com o homônimo do Norte.
"Os americanos já tinham saído no ano anterior, quando o Exército do Vietnã do Norte iniciou uma arrancada em direção ao Sul, a chamada operação Primavera. O presidente [do Sul] chegou a pedir dinheiro, não recebeu e o Norte entrou em Saigon [capital da época]. Já há uma pré-debacle [derrocada] no campo de batalha. A Rússia tomou diversos aldeamentos nesta semana", conclui.
Por fim, o comandante Robinson Farinazzo repercutiu a divulgação com exclusividade pela Sputnik da conversa entre comandantes alemães sobre o plano de ataque à ponte da Crimeia. "Ou o governo alemão sabia disso tudo e é cúmplice, precisa se explicar para a Rússia e o eleitor o motivo de colocar o país em risco de uma Terceira Guerra Mundial ou o governo não sabia e deveria demitir todos esses militares", acredita.
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