Partidarismo conveniente
"Partidários de um lado e partidários de outro aplaudiam as irregularidades quando elas atingiam alguém com quem não simpatizassem e fechavam os olhos. Aliás, reclamavam quando a irregularidade atingia um político ou quem quer que fosse de sua simpatia. Isso é terrível. O processo não pode ser conduzido dessa maneira. A postura de um juiz é de absoluta neutralidade. Assim como a acusação também não pode ser utilizada para perseguir politicamente, ou por qualquer outra razão, quem quer que seja", sublinha em entrevista.
Descredibilização do sistema
"Isso [a forma como foram conduzidas as investigações] descredibiliza o sistema judiciário e deve ser necessariamente neutro, absolutamente neutro e equidistante. Política e justiça, quando se misturam, afastam tanto a justiça de seu propósito quanto a política. Eles não podem se misturar porque cada um tem a sua importância e relevância na construção de uma sociedade justa, pacífica e solidária. Isso repercute mal, gera uma sensação de insegurança jurídica, de imprevisibilidade", pontua.
"Houve um impacto muito negativo provocado pela Lava Jato — por esse aspecto formal, pelos pecados formais que cometeu […]. Um advogado que vivencia o cotidiano forense está cansado de enfrentar isso. Delegados que conduzem inquéritos como querem, o Ministério Público que formula acusações a partir de seu conjunto ideológico, juízes que julgam conforme a sua visão de mundo e relativizam a regra e, portanto, fazem do sistema uma espécie de instrumento de justiçamento. É terrível isso, isso não pode acontecer", evidencia.
Usurpadora do sistema
"Do ponto de vista macro, não restam dúvidas de que a Lava Jato usurpou do sistema de justiça brasileiro e fez com que o sistema de justiça servisse como campo de batalha pra uma guerra travada no plano judicial. Isso a gente dá o nome de 'guerra jurídica' (lawfare, em inglês)", avulta.
"É uma guerra [uso do lawfare] que se articula de várias formas para atingir interesses econômicos, políticos e geopolíticos que são deliberadamente ocultos da opinião pública […]. Eles são invisíveis a essa opinião pública", arremata Ramina.