Panorama internacional

'Vitória de Putin é um cala-boca para essa gente', diz analista sobre questionamentos do Ocidente

Vladimir Putin foi reeleito neste domingo (17) para seu quinto mandato como presidente da Rússia. Em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, especialistas explicaram a dimensão do feito conquistado pelo atual presidente, além de suas implicações geopolíticas. Entrevistadas russas comentaram a popularidade de Putin.
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A vitória eleitoral do presidente Putin em um cenário de ataques e boicotes realizados pelo Ocidente — mas onde a Rússia obteve crescimento econômico, mesmo diante das sanções empregadas — pode ser vista, segundo João Cláudio Pitillo, professor de história e pesquisador do Núcleo de Estudos das Américas (Nucleas) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), como "uma resposta a todos esses ataques internacionais".

"Quando você ataca o presidente Putin, você obviamente ataca a Federação da Rússia, ataca a população russa. Eu acho que foi a maneira que o povo russo teve de dizer a esses países da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte], dos Estados Unidos e da União Europeia que não é bem assim. Eles não corroboram essa visão sobre o presidente Putin."

Pitillo avalia que não há, por parte do Ocidente — que demoniza Putin —, questionamentos sobre a sua popularidade, mas tentam criar um espectro falacioso ao colocar sua vitória em xeque. "A vitória do presidente Putin é um cala-boca para essa gente", diz, acrescentando que embora "o Ocidente já soubesse que seria derrotado, manteve essa oposição e essa crítica ao sistema eleitoral e político russo no âmbito da guerra de informações", acrescenta.
A título de comparação sobre as tratativas do processo democrático e as considerações do Ocidente sobre tal, o professor da UERJ compara a posição ocidental em relação às eleições russas e o cancelamento das eleições na Ucrânia, determinado pelo atual presidente, Vladimir Zelensky.
"Veja uma coisa curiosa: o presidente Zelensky cancelou as eleições na Ucrânia e proibiu, colocou na clandestinidade todos os partidos e movimentos de esquerda e sindicatos. Não saiu uma nota sobre isso. Agora, o presidente Putin, eles alegam que a eleição foi viciada, que a eleição foi fraudada, que a eleição não tem lastro com a verdade. Ou seja, eles já sabiam dessa derrota há muito tempo", analisa.
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Mandato contundente e caminho pelo Sul Global

Para Pitillo, o quinto mandato do presidente Putin deve ser mais contundente, sobretudo por sua experiência enquanto governante, por ser um estadista e ter habilidade para lidar com os problemas da Rússia.
Já do ponto de vista geopolítico, o professor avalia que "não há saída para essa Rússia que não seja aumentando a sua presença nesses países do Sul Global".

"Esse quinto mandato do presidente Putin vai obrigatoriamente levá-lo a andar mais, a tentar se conectar mais e de maneira mais profunda com esses países do Sul Global, porque é só a partir dessas relações que a Federação da Rússia vai conseguir se manter ativa, de pé e com uma economia crescente, porque ela intima outro processo."

Segundo o especialista, diferentemente dos países do Ocidente, que chegam com imposições, a Rússia negocia com os outros países, de maneira distinta das relações de forças entre as partes, de uma forma "muito mais justa".

"É dessa maneira que a Rússia conquista mercados, corações e mentes. Nós vemos a popularidade do presidente Putin no Oriente Médio e na África. É gigantesca. Muito maior do que a gente pode imaginar. Por quê? Porque são nessas regiões em que a presença do governo russo é vista como de demasiada importância, principalmente para países que estavam à mercê de relações completamente injustas com a União Europeia e os Estados Unidos."

O novo mandato de Putin, conforme Vera Gers Dimitrov, presidente dos Compatriotas Russos no Brasil, deve estar empenhado em "reforçar a posição geopolítica da Rússia e a construção de um mundo multipolar". Ela, que é neta de russos que vieram para o Brasil no começo do século XX, ressalta que informações das mídias ocidentais, que alimentam massivamente os brasileiros, reforçam estereótipos negativos sobre a Rússia.

"Tivemos notícias absurdas de fila de ovos, ou de uma inflação muito alta, mas você chega na Rússia e, na verdade, boa parte da população acha que a qualidade de vida melhorou. […] Vários brasileiros estiveram no Festival Mundial da Juventude e, basicamente, a delegação brasileira fala: 'Nossa! Não é o que imaginávamos pelo que falavam da Rússia', porque colocam uma imagem muito ruim."

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A Federação da Rússia, no momento de transição econômica após a dissolução da União Soviética, enfrentou problemas com o então líder Boris Yeltsin.
O antecessor de Putin, de acordo com Tito Lívio Barcellos, geógrafo pela Universidade de São Paulo (USP) e doutorando em relações internacionais pelo Instituto San Tiago Dantas, teve "o governo marcado por grande fragilidade", ou seja, uma época marcada por "grande fuga de capitais, fuga de cérebros, fuga de tecnologias".
Com a chegada de Putin que, conforme Pitillo, vai fazer "tudo ao contrário do que Yeltsin pregava", há um fortalecimento do Estado russo, que passava por momentos difíceis com a transição econômica do período chamado "tratamento de choque".
O trabalho realizado pelo presidente Vladimir Putin ao longo de seu tempo à frente da presidência é lembrado pela população russa. A jornalista e apresentadora de TV Lola Melnyck, que possui nacionalidade russa e ucraniana, destaca a trajetória do mandatário.

"Ele conseguiu reconstruir um país que estava praticamente em ruínas após a queda da União Soviética. Foi um período extremamente duro, doloroso. Além de uma dívida enorme, realmente ele [o país] estava desgovernado. […] Hoje em dia, por mais que existam muitas sanções contra a Rússia […], poderia estar muito pior, porém, voltou a ser uma das potências econômicas mundiais", ressaltou.

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