"A parte da inteligência do governo Macron tem um certo rancor da Federação da Rússia pelo fato de ter perdido significativa influência na África francófona, notadamente no Sahel. E isso foi algo muito impactante em termos geopolíticos, diminuindo a influência da França", acrescenta.
"Recentemente, no Carcóvia Palace Hotel, dezenas de oficiais francesas morreram, semanas atrás, em Odessa. Diversos oficiais e militares ocidentais, entre os quais franceses, também foram mortos em bombardeios. Isso tem criado uma certa repercussão negativa em parcelas das sociedades ocidentais, como a França, sobre a morte dessas pessoas, além de ficar em um limbo jurídico para as indenizações de seus dependentes e pensões. Isso tem gerado críticas na imprensa local, e, portanto, essa formalização também é uma forma de evitar crises internas", afirma.
Macron e França: muita retórica e pouca ação?
"Basta falar que a França produz 100 projéteis de artilharia por dia, tem um inventário limitado do Leclerc, o seu principal tanque de batalha. Ainda possui, logicamente, uma força aérea muito significativa em tecnologia, mas está voltada para aspectos defensivos próprios. E embora ela tenha brigadas bem-treinadas, têm limitação significativa em capacidade expedicionária. Então o foco é justamente político, como forma de gerar uma afirmação do governo Macron de liderança militar na União Europeia diante desse vácuo e também da perspectiva de uma vitória de Trump nos Estados Unidos, que vai prejudicar consideravelmente a tendência de manter os pacotes bilionários de ajuda à Ucrânia", argumenta o especialista.
OTAN promove verdadeiro 'teatro' para operar na Ucrânia
"Então nada mais é do que legalizar e formalizar [as operações], diante de perdas sistemáticas que os militares ocidentais têm sofrido por diferentes bombardeios seletivos empenhados pela Federação da Rússia. Eu creio que a OTAN vai procurar evitar escalada, não permitindo engajamento direto na linha de frente dos militares da OTAN [mesmo com a posição francesa]. Entretanto, é natural que ocorra, sim, uma escalada, e certamente que, na defesa da sua existência e dos seus interesses nacionais, a Federação da Rússia vai, no caso, considerar alvos legítimos essas unidades militares ocidentais, tal como já tem feito", pontua.
Escalada das tensões na Ucrânia pode levar a China ao conflito?
"Caso a Rússia não existisse, nós teríamos apenas um país, os Estados Unidos, que deteria entre 6 mil e 8 mil ogivas nucleares ativas, enquanto outros países aliados têm algumas centenas. A própria China tem quatro centenas de ogivas atômicas, o que é um desbalanço muito grande. Não existe outro país que tenha condição de se contrapor, do ponto de vista da dissuasão, de evitar de fato uma Terceira Guerra Mundial como a Rússia. Isso por conta do seu arsenal nuclear, que é ainda maior que o americano e mais moderno", conclui.