Para a Federação da Rússia, conforme rege a Lei Federal nº 35 de 2006 (Artigo 3.1), o terrorismo é caracterizado como o uso ilegal da violência e intimidação direta da população destinado a influenciar órgãos do governo, autoridades locais ou organizações internacionais em seu processo de tomada de decisão. Ataques terroristas, como foi o caso do triste episódio de sexta no Crocus City Hall, direcionam-se tradicionalmente contra civis indefesos, no intuito de ceifar o maior número possível de vítimas e de chocar a opinião pública doméstica e internacional.
No entanto, apesar de ter sido o ataque terrorista mais brutal vivenciado pela Rússia nos últimos anos, desde a década de 1990 que o país vem sendo vítima de atentados terroristas covardes, especialmente em suas principais cidades, Moscou e São Petersburgo. Pouco antes de Vladimir Putin chegar ao poder em 2000, por exemplo, ataques terroristas em Moscou culminaram na explosão de diversos apartamentos residenciais, matando cerca de 200 pessoas e deixando pelo menos 180 feridos. Na época, os ataques foram perpetrados por rebeldes separatistas chechenos. Pouco tempo depois, após o 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos, a Rússia passou a ser considerada uma aliada do Ocidente no combate ao terrorismo internacional. Vale lembrar que o presidente Putin foi o primeiro líder mundial a telefonar para George W. Bush após os ataques às Torres Gêmeas, estendendo-lhe condolências pelas vítimas do atentado. Para além disso, a Rússia consentiu com o estacionamento de tropas americanas no Afeganistão para o combate à Al-Qaeda de Osama bin Laden, gesto impensável no período da Guerra Fria.
Ainda assim, apesar da colaboração internacional no combate ao terrorismo da Al-Qaeda, no plano doméstico a Rússia continuou a ser vítima de sucessivos ataques. Em 2002, um grupo de sequestradores ligados ao separatismo checheno invadiu o teatro Dubrovka, também em Moscou, antes da apresentação de um espetáculo musical, fazendo 912 reféns. Passados três dias do sequestro, uma operação-relâmpago de resgate envolvendo as Forças Especiais russas invadiram o local após ventilarem um gás de efeito tóxico não identificado pela tubulação de ar, eliminando os cerca de 40 sequestradores. O resgate, no entanto, não pôde impedir infelizmente com que 130 reféns perdessem sua vida.
Dois anos depois, em setembro de 2004, um novo grupo de aproximadamente 35 rebeldes invadiram uma escola primária em Beslan, ao norte do Cáucaso, culminando a morte de mais de 340 pessoas, entre elas, 186 crianças. Na ocasião, outras 700 pessoas terminaram feridas. Ainda em 2004, um mês antes do atentado em Beslan, dois voos comerciais de passageiros sofreram um ataque terrorista perpetrado por mulheres-bomba, provocando a morte de 90 pessoas. O incidente foi então reclamado pelo grupo terrorista Al-Qaeda, contra o qual uma coligação de potências internacionais havia sido formada logo após o 11 de Setembro.
Já no começo de 2010, uma série de atentados terroristas envolvendo a detonação de explosivos em trens de Moscou matou cerca de 60 pessoas, ocasionando ferimentos a outras 200. O grupo Caucasus Emirate (ou Emirados do Cáucaso), organização nacionalista sunita formada em 2007, reclamou a autoria dos ataques provocando novos atentados terroristas em Volgogrado (antiga Stalingrado) em 2011 e 2013. Ainda em 2011, um ataque suicida praticado por um dos membros desse grupo na área de desembarque do aeroporto Domodedovo, em Moscou, causou a morte de 37 pessoas, deixando outras 168 feridas. Todos esses episódios servem para demonstrar o quanto a luta da Rússia contra o terrorismo é histórica e, infelizmente, muitas vezes ignoradas pelo Ocidente.
No contexto da guerra contra terrorismo na Síria, aliás, a Rússia foi a principal potência a combater as formações do Daesh, que se autodenominava "Estado Islâmico", no Oriente Médio, grupo que ameaçava ganhar predominância regional em meio ao contexto de profunda instabilidade política provocada pela intervenção ocidental nos países árabes. Como uma espécie de retaliação às ações russas no auxílio à Síria e à Bashar al-Assad, o Daesh reclamou a autoria da explosão em outubro de 2015 na região do Sinai de um voo comercial de passageiros operado pela companhia russa Metrojet, que voava do aeroporto internacional Sharm el-Sheikh, no Egito, causando a morte de todos os tripulantes. O incidente, no entanto, não impediu que a Rússia comprimisse sua missão de praticamente eliminar as forças do Daesh na Síria, mantendo assim a integridade territorial do país árabe.
Em suma, seja no aspecto doméstico, regional ou internacional, a Rússia tem lutado contra o terrorismo no decorrer de décadas. Mesmo sendo vítima de sucessivos ataques ao longo desse tempo, a força do povo russo e a resiliência de seu governo nunca foram abaladas por essas ações covardes. Pelo contrário, mais do que proteger os seus próprios cidadãos de futuros atentados, Moscou continuará a empreender esforços para vencer — de uma vez por todas — o terrorismo internacional, onde quer que ele se manifeste. Enquanto isso, a Rússia não renunciará a outras lutas igualmente importantes, como a defesa de sua soberania política, a integridade territorial e o afastamento da interferência externa em seus assuntos domésticos. Por fim, há determinados aspectos que ainda não estão muito claros quanto aos responsáveis pelo ataque ao Crocus City Hall na última sexta. Mas o que está claro desde já é que a Rússia não será abalada por essa tragédia. Afinal, diante das dificuldades e da dor, os russos geralmente terminam ainda mais unidos, solidários e fortes.