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Atentado em Moscou mostrou união russa; atuação de Kiev é possível, diz brasileiro que está no país

Na última sexta-feira, 22 de março, um atentado terrorista chocou o mundo ao ser executado na região de Moscou. Homens armados abriram fogo na sala de concertos Crocus City Hall, onde ocorreria um show do grupo Picnic, resultando na trágica morte de, ao menos, 182 pessoas.
Sputnik
O terrível episódio se tornou o segundo maior ato terrorista na história da Rússia. As autoridades russas detiveram 11 pessoas, incluindo quatro supostos autores do ataque, capturados próximo à fronteira da Ucrânia.
O presidente, Vladimir Putin, declarou que os terroristas estavam se dirigindo ao território ucraniano, onde "uma janela de passagem lhes foi preparada".
Ele disse também que o Kremlin está ciente de que a ação foi feita por radicais islâmicos, mas as motivações e demais informações sobre a autoria seguem sob investigação.
Enquanto a tragédia ocorria, a cerca de 20 quilômetros dali o conselheiro de Relações Internacionais do Fórum Internacional dos Municípios BRICS+, Henrique Domingues, estava na capital russa como observador das eleições presidenciais.
"Eu estava lá por conta da missão de observação eleitoral, e a notícia do ataque chegou através de amigos e diferentes canais de comunicação", disse em entrevista aos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, do podcast Mundioka, da Sputnik Brasil.

"A covardia dos terroristas foi algo realmente aterrorizante, chocante. Todo mundo aqui ficou muito abalado, porque a forma como aconteceu foi contra o povo pacífico russo", descreveu Domingues.

O brasileiro morador de São Petersburgo relatou que, apesar do choque inicial, também havia um senso de união e solidariedade entre os russos. "No dia seguinte, as pessoas se levantaram e foram doar sangue. As filas quilométricas nos pontos de doação de sangue para as vítimas são uma prova da resiliência do povo russo."
"O presidente reagiu de maneira muito adequada, aguardando algumas horas para se pronunciar e enfatizando a punição dos responsáveis pelo ataque", afirmou.
Quanto às especulações sobre a autoria do atentado, Domingues, que também é organizador do Festival Mundial da Juventude e observador do Referendo de Donbass, ressaltou a necessidade de aguardar as investigações. "Embora haja indícios de envolvimento do Estado Islâmico-Khorasan [EI-K, um ramo do Daesh, organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países, que atua no Afeganistão e no Paquistão] e possíveis conexões com o conflito na Ucrânia, é fundamental aguardar os resultados das investigações antes de tirar conclusões precipitadas."

"Se for comprovada a participação ucraniana, pode haver uma retaliação mais contundente por parte da Rússia, possivelmente mirando em centros de tomada de decisão", opinou.

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Autoria do atentado em Moscou

Amanda Marini, pesquisadora em ciências militares da Escola de Guerra Naval (EGN), comenta que o alerta emitido pela Embaixada americana no início do mês sinalizava um indício sobre a movimentação de grupos terroristas na região asiática.
Sobre a autoria do ataque, ela menciona que, embora o Daesh tenha reivindicado responsabilidade por meio das redes sociais, o que foi aderido pelos Estados Unidos, vale considerar outras possíveis linhas de investigação.
Para o historiador, escritor e criador do canal Guerra Patriótica, João Cláudio Pitillo, foi "muito conveniente empurrar esse problema para a conta do Estado Islâmico".

"Você isenta qualquer outro aliado estadunidense. Você isenta possíveis forças internas e você coloca na conta de uma organização que, em tese, não teria legitimidade ou não teria crédito para se defender."

Pitillo destacou a importância de investigar a velocidade com que Washington atribuiu a culpa ao Daesh.
"A velocidade e a certeza com a qual os EUA afirmaram isso precisa ser investigada. Essa afirmação é perigosa, porque ela traz os EUA também para a cena do crime, porque como é que eles descobriram isso?", questionou.
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Ele também levantou questões sobre o alerta emitido pela Embaixada americana antes do atentado. "É importante também que a Federação da Rússia esclareça esse comunicado estadunidense, porque é muito suspeito os EUA fazerem um alerta desse no início do mês e, para você fazer esse alerta, você tem que ter indícios."
Ele entende que é preciso investigar todas as possibilidades, incluindo uma eventual ligação com a Ucrânia — "Existem setores fascistizados da sociedade ucraniana que cometeram e estão dispostos a cometerem as maiores barbaridades."
"O terrorismo tem o interesse de te desestabilizar internamente. É uma ação política e militar."

Histórico entre a Rússia e o Daesh

A pesquisadora Amanda Marini ressaltou o papel da Rússia no combate ao grupo terrorista na Síria, bem como as dinâmicas geopolíticas envolvidas nessa interação. "A Rússia luta e sempre falou abertamente que estava na Síria para lutar contra o Estado Islâmico-Khorasan. E nisso de a Rússia se posicionar, fez com que eles passassem a ter grandes divergências com o EI-K."
Marini também aborda o impacto geopolítico desse atentado e destaca a necessidade de compreender as raízes e motivações por trás dos grupos terroristas, além de tomar medidas para conter sua ascensão.
"É preciso a gente olhar para todas as causas que levam os grupos terroristas a agir, a chamar pessoas, a cortar o fornecimento de armas, o fornecimento de dinheiro, o fornecimento de mídia. Não ficar propagando suas ideologias", ressalta Marini.
Por fim, ela ressalta as características de diferentes grupos no Oriente Médio, tais como o Hamas. "Pode ter alguma coisa em comum em termos de ação, mídia, financiamento, mas de maneira alguma a gente pode confundir a ação, atitudes, ideologias, o que cada grupo quer fazer por trás e tem uma ambição para realizar."
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